Pastoral
VOCÊ TEM CRESCIDO NA OCUPAÇÃO COM AS NECESSIDADES ESPIRITUAIS E TEMPORAIS DOS OUTROS?
Continuamos nossa reflexão provocados por Donald S. Whitney através das “10 Perguntas para Diagnosticar sua Saúde Espiritual”. E para hoje a pergunta é: Você tem crescido na ocupação com as necessidades espirituais e temporais dos outros?
Cerca de cem anos após a morte e ressurreição de Jesus Cristo, Antonino Pio governava o Império Romano. Naquela época, todos eram obrigados a adorar o imperador, o que tornava os cristãos suspeitos de deslealdade e os colocava sob constante ataque, sendo considerados seguidores de uma religião ilegal. Embora não tenham sido oficialmente perseguidos por Antonino Pio, os cristãos precisavam se defender continuamente contra falsas acusações. Assim como lemos no livro de Atos que Paulo frequentemente era odiado por quem não o conhecia e que, às vezes, tumultos surgiam quando vidas eram transformadas por seu ministério, o mesmo acontecia com os cristãos nas décadas após o trabalho de Paulo. Eles precisavam desviar continuamente das falsas acusações e da culpa imerecida lançadas sobre eles. Em uma dessas ocasiões, um famoso filósofo grego de Atenas chamado Aristides, que havia se convertido ao cristianismo, foi convocado a defender os cristãos diante de Antonino Pio. Parte de sua defesa dizia:
“Eles se amam uns aos outros. As necessidades da viúva não são ignoradas, e eles resgatam o órfão daquele que o agride. Aquele que tem, dá ao que não tem, sem hesitação e sem se vangloriar.”
O cristianismo é uma religião de cuidado com o próximo. Entre as chamadas “grandes religiões do mundo”, nenhuma se compara ao cristianismo no que diz respeito à demonstração de cuidado com as pessoas e suas necessidades. Sejam necessidades temporais ou eternas, sentidas ou não percebidas, nenhuma outra religião é conhecida por seu amor e compaixão, não apenas por seus próprios membros, mas especialmente por aqueles de fora de seu círculo de seguidores. O olhar atento e a mão estendida são marcas de nascimento dos nascidos de novo em Cristo Jesus. Atender às necessidades é o caminho de Jesus. E aqueles que O seguem podem medir seu progresso em direção à semelhança com Ele pelo crescimento na preocupação com as necessidades espirituais e temporais do próximo.
O equilíbrio bíblico
A Bíblia ensina claramente que os cristãos devem se preocupar tanto com as necessidades espirituais quanto com as necessidades temporais das pessoas. Jesus, nosso Senhor e exemplo, frequentemente demonstrava essa dupla preocupação ao curar corpos e ensinar verdades ao mesmo tempo. Essa ênfase dupla, pregar e atender necessidades temporais, caracterizava a igreja logo após o Pentecostes:
“Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e grande graça estava sobre todos eles. Não havia entre eles necessitado algum, pois todos os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda…” (Atos 4.33-34)
Quando os apóstolos Tiago, Pedro e João concordaram que Paulo e Barnabé deveriam ir como missionários aos gentios, Paulo relatou que, além de enviá-los como pregadores: “Eles apenas pediram que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com empenho.” (Gálatas 2.10).
Tiago 2.15-16 pergunta: “Se um irmão ou uma irmã estiverem com falta de roupa e necessitando do alimento diário, e um de vocês lhes disser: ‘Vão em paz! Tratem de se aquecer e de se alimentar bem’, mas não lhes dão o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?”
Em outras palavras, dizer, em essência: “Amo você tanto e estou tão preocupado com sua alma que quero lhe dar as palavras da vida eterna… mas não me importo o suficiente para ajudar na sua necessidade física urgente”, é negar a minha suposta preocupação. Entretanto, à medida que nos tornamos mais parecidos com Jesus, veremos o ministério às necessidades temporais não como algo que compete, mas que complementa o cuidado com as necessidades espirituais.
O nosso Redentor Jesus Cristo veio oferecer a Si mesmo como única porta para a vida no mundo vindouro, uma vida gloriosa e incomparável, sem fim, com o próprio Deus. E, embora seu propósito principal fosse atender à necessidade eterna, Ele não ignorava as necessidades temporais. Seu método de atender a ambas é claramente demonstrado em Marcos 6.34-44: “Jesus, ao sair do barco, viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Então, começou a ensinar-lhes muitas coisas.” (v. 34). Sua compaixão diante do desespero das pessoas o levou a ensiná-las a verdade do céu. Depois de alimentar suas almas, Ele alimentou seus estômagos famintos, o milagre da multiplicação dos pães.
Se víssemos as pessoas pela perspectiva de Jesus, perceberíamos que elas são como “ovelhas sem pastor.” Mesmo que não se sintam assim, elas estão. Mesmo que não pareçam ter necessidades temporais, com certeza têm espirituais. Podem parecer autossuficientes, como a ateia Madalyn Murray O’Hair parecia. Mas, no fundo, ela escreveu em seu diário pelo menos meia dúzia de vezes: “- Alguém, em algum lugar, me ame.”
Todos são necessitados, não importa o quanto escondam isso. O denominador comum universal é que todos têm necessidades espirituais, e a principal delas é Jesus, o pastor da alma. Ninguém que é habitado pelo Espírito de Jesus pode permanecer indiferente às necessidades espirituais e temporais dos outros. Crescer em semelhança com Cristo é perceber essas necessidades mais rapidamente, mesmo antes que se tornem óbvias.
Isso não significa que toda necessidade existente seja um chamado a supri-la. Nem mesmo Jesus respondeu a todas as necessidades que poderia ter atendido. É verdade que, em algumas ocasiões, Ele “curou todos os que estavam doentes” (Mateus 8.16), mas nem sempre foi assim. Os evangelhos mostram que, muitas vezes, havia “multidões incontáveis” (Lucas 12.1), com milhares pressionando Jesus, todos com suas necessidades, muitos gritando por um toque dEle, clamando por cura ou misericórdia. Ainda assim, às vezes Ele simplesmente se afastava. Mas mesmo quando fazia isso, estava consciente das necessidades. E só se afastava porque estava se voltando a outra coisa que sabia ser a vontade de Deus naquele momento. Como Jesus, às vezes será necessário discernir quando atender e quando não, sempre buscando a vontade de Deus. Crescer em Cristo é cultivar compaixão autêntica e sensível, não apenas ações externas.
Pastorais
Damos sequência à provocação de Donald S. Whitney através das “10 Perguntas para Diagnosticar sua Saúde Espiritual”. E para hoje a pergunta é: Você está mais sensível à presença de Deus?
Com que frequência você está ciente da presença de Deus?
Se levamos a sério o ensino da Bíblia, a percepção da presença de Deus não deveria ser uma experiência ocasional. Não deveria ser incomum para nós, onde quer que estejamos, reconhecer que “Deus está aqui”. À medida que crescemos no relacionamento com Ele, discernimos Sua imanência com mais facilidade e frequência.
Aparentemente, muitos cristãos professos se identificam mais com as palavras de Jacó quando disse: “Certamente o SENHOR está neste lugar, e eu não sabia” (Gênesis 28.16), do que com a promessa de Jesus Cristo quando Ele disse: “Estou com vocês todos os dias” (Mateus 28.20). Em uma pesquisa (*), “dois em cada três adultos (68%) que se descrevem como protestantes, católicos ou cristãos dizem que, em algum momento de suas vidas, sentiram-se na presença de Deus”. Em algum momento? Isso significa praticamente nada, pois a mesma pesquisa revela que “mais da metade de todos os não-cristãos (58%) também indicou que sentiu ter estado na presença dEle”. Além disso, “entre aqueles que descrevem sua igreja como protestante, católica ou cristã, um em cada oito (13%) sentiu a presença de Deus uma ou duas vezes em sua vida e 32% nunca sentiram Sua presença”. Dos que se descreveram abertamente como “cristãos nascidos de novo”, os resultados foram surpreendentes: “um terço (32%) nunca sentiu a presença de Deus ou a sentiu apenas uma ou duas vezes em sua vida!”
O que resulta da insensibilidade de um cristão à companhia de Deus?
Isso necessariamente significa que você pensará menos em Deus, na Sua Palavra e na Sua vontade. Isso não é muito diferente de um descrente que raramente pensa em Deus. A insensibilidade à proximidade de Deus certamente implica menos consciência de que “os olhos do SENHOR estão em todo lugar, observando os maus e os bons” (Provérbios 15:3). Isso leva a pensar menos em reprimir o pecado, por um lado, ou em fazer o bem, por outro, pois, afinal, quem saberá? Nessas horas, imitamos Moisés quando “ele olhou para um lado e para o outro, e, não vendo ninguém, matou o egípcio” (Êxodo 2:12). Não importa quem não vemos, nunca devemos esquecer Aquele cuja presença é invisível, mas mais real do que qualquer outra.
Vivendo à parte da presença consciente de Deus.
Viver como se o Senhor realmente não estivesse presente é buscar mais prazer em coisas, sonhos ou pessoas do que em Deus. O relacionamento com Deus é reduzido às formas externas da religião. As disciplinas espirituais bíblicas se transformam em mero dever, ou até mesmo em legalismo. O culto público se torna uma obrigação, não um privilégio. Obviamente, isso não é um cristão em crescimento.
Como discernimos a presença de Deus?
Antes de prosseguir, devemos entender que há vários significados para o termo “presença de Deus”. Os teólogos falam sobre:
A presença universal de Deus. Também chamada de onipresença de Deus, significa que Ele está em toda parte e não há lugar onde Deus não esteja. Veja Salmos 139.5-12 e Jeremias 23.24. Isso não significa que Deus seja tudo. Onde há uma árvore, Deus é uma Pessoa infinita que está em toda parte onde a árvore está, mas a árvore não é Deus.
A presença cristológica de Deus. Deus estava e está presente em Jesus Cristo. Veja João 1.1, 14 e Colossenses 2.9. Jesus é Emanuel, “Deus conosco” (Mateus 1.23). A presença interior de Deus. Deus está presente pelo Seu Espírito Santo de uma forma única dentro dos cristãos. Veja João 14.16-17. Ele é uma segunda Pessoa distinta, vivendo conosco em nossos corpos.
A presença perceptível de Deus. A presença de Deus é frequentemente percebida através de Sua obra ou influência. Veja Lucas 1.66 e Atos 11.21. Isso geralmente é o que se quer dizer quando falamos de alguém, como após um sermão poderoso ou testemunho pessoal, “O Senhor estava com ele”.
A presença celestial de Deus. A presença de Deus é manifesta no céu de uma forma que não é encontrada em nenhum outro lugar. Veja Mateus 6.9 e Mateus 18.10. É a presença de Deus que faz do céu, céu. Sua glória e esplendor são exibidos lá como em nenhum outro lugar.
A presença eterna de Deus. A presença de Deus será eternamente desfrutada no céu ou perdida no inferno. Veja Apocalipse 21.3 e 2 Tessalonicenses 1.9. No entanto, como Deus é onipresente, há um sentido em que Ele também está no inferno. Não é a ausência, mas a presença de Deus no inferno que é tão aterrorizante e tormentosa. Ele estará presente, mas manifestando apenas Sua ira e justiça divinas, e sem amor e misericórdia.
Todo acesso à presença de Deus, exceto Sua presença universal, é através de Jesus Cristo. Deus, o Filho, é o caminho para Deus, o Pai; ninguém vem ao Pai a não ser por Jesus (João 14:6). “Porque há um só Deus,” somos ensinados em 1 Timóteo 2:5, “e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.” Então, quando se trata de discernir a presença de Deus, primeiro deve-se estar “Emanuelizado”, ou seja, você não pode reconhecer confiavelmente a presença de “Deus conosco” até experimentar “Cristo em você, a esperança da glória” (Colossenses 1:27). Para conhecer essa presença interior de Cristo, primeiro deve-se, nas palavras de Jesus, “Arrependerse e crer no evangelho” (Marcos 1:15).
Se a presença de Deus não é uma realidade viva em sua vida, talvez hoje seja o momento de reconhecer isso diante Dele. Arrependa-se, creia no Evangelho, e busque andar diariamente sensível à companhia d’Aquele que prometeu estar com você todos os dias. Não viva mais alheio ao Deus que habita com e em seu povo! Deus te abençoe.
(*) George Barna, Virtual America: What Every Christian Needs to Know about Ministering in an Age of Spiritual, Cultural and Technological Revolution (Ventura, CA: Regal Books, 1994), pp. 55–58. Ênfase do autor adicionada. Embora esta pesquisa seja antiga, ela continua sendo reveladora. Mesmo que uma pesquisa mais recente apresentasse percentuais significativamente em direção oposta (e há poucas razões para acreditar que isso aconteceria), ainda assim os resultados seriam chocantes.
Damos sequência a provocação de Donald S. Whitney através das “10 Perguntas para Diagnosticar sua Saúde Espiritual”.
E para hoje a pergunta é: você está se tornando mais amoroso?
Jesus Cristo estabeleceu o amor como a marca essencial do verdadeiro discípulo. Em João 13.34-35, Ele diz que o mundo reconhecerá Seus seguidores pelo amor que demonstram uns aos outros. Portanto, o crescimento espiritual genuíno de um cristão está diretamente ligado ao seu crescimento no amor, especialmente no amor entre irmãos na fé.
As Escrituras reforçam essa ênfase, com diversos textos ordenando o amor mútuo: João 15.12, Romanos 12.10, gálatas 5.14, Efésios 5.2, Hebreus 10.24, 1 Pedro 4.8 e muitos outros. Amar não é apenas um sentimento; é um mandamento reiterado, um reflexo do caráter de Deus e uma evidência da obra do Espírito Santo em nós.
Entretanto, é possível crescer em ministério, conhecimento, dons ou até sacrifício pessoal e ainda assim falhar no mais essencial: o amor. 1 Coríntios 13 nos alerta que, sem amor, até mesmo as maiores realizações espirituais são inúteis.
O declínio do Amor
Quando o amor esfria, vários sintomas se tornam evidentes. Tornamo-nos impacientes, ríspidos, invejosos, orgulhosos e egoístas. Deixamos de proteger, de nos importar, de confrontar em amor. O resultado é um cristianismo sem vida, sem fruto e sem o brilho de Cristo.
Essa frieza se manifesta também no descuido com a disciplina bíblica na igreja, na indiferença com os perdidos e na falta de zelo pelas necessidades espirituais e físicas dos outros. Muitas vezes, achamos que somos amorosos apenas por cumprirmos deveres familiares ou sociais, mas isso pode ser apenas afeição natural, comum a todos os seres humanos, e não o verdadeiro amor cristão, que só o Espírito Santo pode gerar.
Jonathan Edwards alertava que, quanto mais excelente algo é, mais falsificações existem. O amor verdadeiro, sacrificial, paciente, humilde, centrado no outro, é raro, mas essencial.
Que tipo de amor?
Muitos confundem amor cristão com afeto natural, amor condicional ou amor interesseiro. No entanto, o verdadeiro amor cristão é uma graça produzida em nós pelo Espírito de Deus. Ele vai além dos sentimentos naturais. Busca o bem eterno do outro, mesmo que isso exija confronto, sacrifício ou renúncia.
Amar como Cristo é o padrão, ainda que nenhum de nós o alcance plenamente. O importante é a direção, não a velocidade. Estamos avançando nesse amor? Estamos mais sensíveis às necessidades dos outros? Ou estamos regredindo para uma espiritualidade centrada em nós mesmos?
O amor cristão é prático. Está na maneira como tratamos nossos irmãos, como respondemos à ofensa, como priorizamos as pessoas em vez dos projetos, e como participamos do cuidado mútuo na comunidade da fé. Ele não é meramente sentimental, mas atua com verdade, justiça e compaixão.
Reflexão numa frase:
“Não existe cristianismo verdadeiro sem um amor crescente por Deus e pelas pessoas.”
Tarefas práticas para a semana:
1. Ore diariamente por três pessoas que você acha difícil amar, pedindo a Deus sensibilidade e sabedoria para agir com graça.
2. Demonstre amor intencionalmente: envie uma mensagem, visite ou ligue para alguém da sua igreja que esteja precisando de encorajamento.
3. Pratique o amor na ação: escolha um ato de serviço ou generosidade para com alguém que não pode retribuir.
Damos sequência à provocação de Donald S. Whitney através das “10 Perguntas para Diagnosticar sua Saúde Espiritual”. E para hoje a pergunta é: Você tem sido cada vez mais governado pela Palavra de Deus? O puritano Thomas Chalmers escreveu: “A essência e substância da preparação necessária para a eternidade vindoura é que você creia no que a Bíblia ensina e faça o que a Bíblia ordena.”
O que você considera ser o objeto mais valioso do mundo? Ouro, joias, tecnologia? Para alguém à beira da morte por fome e sede, o valor desses itens desaparece diante da urgência por comida e água. Isso nos ensina que o que é essencial para a vida é o que tem valor verdadeiro.
Bíblia, muitas vezes negligenciada, é esse alimento essencial para a alma. Ela é água, pão, leite, luz, espada, semente. Ela é viva, eficaz e capaz de transformar. Deus se revela por meio dela, e é nela que encontramos o caminho para a vida eterna em Cristo Jesus.
Entretanto, muitos cristãos vivem anos frequentando igrejas e ouvindo sermões, mas sem deixar a Bíblia transformar suas vidas. Conhecem o conteúdo, mas não se deixam governar por ele. O verdadeiro sinal de crescimento espiritual tem a ver com quanto vivemos sob sua autoridade. Por isso, cabe a reflexão:
• Tenho buscado a Palavra de Deus com fome e sede espirituais?
• Tenho deixado a Bíblia moldar minhas decisões e atitudes diárias?
•Quando foi a última vez que uma passagem bíblica transformou concretamente minha vida?
Em seu livro do século XIX, Declínio pessoal e reavivamento da religião na alma (disponível aqui: https://www.monergism.com/personal-declension-and-revival-religion-soul-ebook), o ministro britânico Octavius Winslow descreveu ainda mais esses que estão em regressão espiritual: “Quando um homem que professa a fé cristã pode ler sua Bíblia sem nenhum gosto espiritual, ou quando a examina, não com o sincero desejo de conhecer a mente do Espírito a fim de andar em santidade e obediência, mas apenas por curiosidade ou com interesse literário, é evidência clara de que sua alma está em movimento retrógrado quanto à espiritualidade real. Nada talvez indique mais fortemente o nível da espiritualidade de um crente do que a forma como ele considera as Escrituras. Pode até ser que ele as leia… mas as leia como qualquer outro livro, sem a profunda e solene convicção de que ‘toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra’ (2Tm 3.16–17). Ele pode lê-la… sem gosto espiritual, sem transformá-la em oração, sem guardá-la no coração ou colocá-la em prática em sua vida diária — seus santos preceitos, promessas preciosas, doces consolações, advertências fiéis, exortações afetuosas e repreensões ternas.”
Você ama a Palavra de Deus?
“Oh, quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia.” – Salmo 119.97
Em um tempo em que o contato com a Bíblia pode ser apenas ocasional ou mecânico, precisamos fazer uma pergunta profunda ao nosso coração: “Eu realmente amo a Palavra de Deus?”
A Bíblia não descreve o verdadeiro cristão como um simples admirador das Escrituras, mas como alguém que ama profundamente a verdade de Deus. O salmista, em diversas partes do Salmo 119, declara com entusiasmo seu amor pela Lei do Senhor. E isso quando provavelmente só possuía os cinco primeiros livros da Bíblia! Imagine então quanto mais amor deveríamos ter nós, que temos acesso às promessas, aos Evangelhos, às cartas apostólicas e à consumação da história da redenção.
Por outro lado, a indiferença à Palavra é retratada nas Escrituras como sinal de morte espiritual. Paulo escreve que os que perecem são aqueles que “não amaram a verdade para serem salvos” (2 Ts 2.10). John Piper ressalta que amar a verdade é questão de vida ou morte espiritual.
Reflexão:
A Bíblia tem crescido em influência sobre seus pensamentos, decisões e atitudes? Ou você está se tornando indiferente à verdade de Deus?
Ore assim:
Senhor, perdoa-me por tratar tua Palavra com descuido ou frieza. Dá-me um coração como o do salmista, que ama tua lei, medita nela e encontra nela prazer maior que o ouro. Que minha vida seja marcada pelo amor crescente às tuas Escrituras, como prova de que pertenço a Ti. Em nome de Jesus, amém.
Aplicação prática:
• Separe hoje 10 minutos para meditar no Salmo 119. Observe as ênfases nos versos 46, 48, 97,113, 119, 127, 163.
• Reflita sobre o quanto você tem deixado a Palavra influenciar sua vida.
• Peça a Deus que renove em você o prazer de ler e amar as Escrituras.
Ao refletirmos sobre a sede espiritual, compreendemos que ela assume diferentes formas e profundidades na experiência humana. Nem todos vivenciam essa busca interior da mesma maneira; há nuances e caminhos distintos no modo como nossa alma expressa essa necessidade por algo além do que este mundo pode oferecer. Incentivados pela abordagem de Donald Whitney, podemos identificar três tipos essenciais de alma diante da sede espiritual: a alma vazia, a alma seca e a alma sedenta de crescimento.
Cada uma dessas categorias aponta para realidades espirituais específicas, manifestadas em sentimentos, atitudes e níveis de consciência diversos. Nosso propósito, nessa pastoral, é examinarmos essas três condições, analisar como se apresentam na vida cotidiana e de que maneiras influenciam nossa relação com Deus e com o sentido da existência. Ao reconhecermos o tipo de sede que nos habita, abrimos espaço para um processo mais autêntico de busca e, consequentemente, de encontro com a verdadeira fonte capaz de nos saciar. Consideremos:
A alma vazia
Este tipo de sede é característico daqueles que ainda não experimentaram a graça salvadora de Deus em Cristo. Muitas pessoas experimentam uma sede interior, um desejo por significado, paz e plenitude, mas acabam tentando matá-la com prazeres efêmeros, conquistas pessoais, relacionamentos ou mesmo práticas religiosas sem profundidade. Esses esforços são como recorrer a fontes secas, que não conseguem reter a água que nutre a alma. Essa é a condição da humanidade sem Deus — inquieta, cansada, buscando, sem saber, o que só o Evangelho pode oferecer. Assim, a condição de quem vive sem essa conexão divina é similar à mulher samaritana antes de conhecer Jesus: marcada pela insatisfação e pela busca interminável de algo que somente o Evangelho pode oferecer.
A alma seca
Podemos ver a diferença entre uma alma vazia e uma alma seca na experiência com a “água viva” de Deus. Quem nunca experimentou esse rio de vida permanece como alma vazia, enquanto aquele que já provou conhece a falta que sente quando recorre a fontes enganosas, como os prazeres efêmeros e as realizações passageiras. Mesmo que o Espírito Santo permaneça em nós, a alma do cristão pode se tornar seca de três maneiras:
Ao buscar repetidamente em lugares do mundo o que só o rio de Deus pode oferecer, a sede espiritual só aumenta. Durante os períodos de sensação de abandono, onde a presença de Deus parece distante, o crente se vê imerso em um deserto espiritual, mesmo sabendo, através da promessa de Jesus, que nunca está completamente só. Quando o cansaço físico ou mental prolongado afeta nossa sensibilidade espiritual, impedindo-nos de perceber a proximidade de Deus. Tal como a corça que anseia por águas correntes, a nossa alma clama, acima de tudo, por esse retorno à presença do Pai. Assim como uma criança encontra consolação e sentido só no reencontro com seu cuidador, o verdadeiro crente descobre que nada mais preenche a sede interior senão Cristo, a única fonte capaz de revitalizar e dar vida eterna à alma.
A alma sedenta em crescimento
Não apenas reconhece sua sede por Deus, mas a cultiva. Essa alma tem consciência de que Deus é a única fonte que verdadeiramente sacia, e por isso deseja mais de Cristo, mais da presença do Espírito, mais da glória do Pai. É uma sede saudável, que impulsiona a alma a buscar profundidade, santidade e comunhão com Deus. Ela reflete a atitude do salmista: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Salmo 42.2). Conhecer a Cristo verdadeiramente sacia a alma porque nada e ninguém mais pode trazer o prazer espiritual que encontramos Nele. Comunhão com Cristo é incomparavelmente satisfatória, pois não há decepção no que nele encontramos. E a satisfação espiritual inicial que recebemos em Jesus nunca se esgota. Além disso, o Senhor em quem encontramos essa satisfação é um universo infinito de satisfação, no qual podemos nos aprofundar e desfrutar sem limites. Portanto, embora não falte satisfação para quem conhece Cristo, Deus não nos fez de modo que uma experiência com Ele sacie para sempre todo nosso desejo.
*Baseado no livro “Ten Questions to Diagnose Your Spiritual Health” (10 Perguntas para Diagnosticar sua Saúde Espiritual), de Donald S. Whitney, publicado pela NavPress.
Naquela manhã, quando o sol ainda mal havia rompido o horizonte, algo extraordinário já havia acontecido: Jesus havia ressuscitado.
Enquanto o mundo ainda dormia em luto e medo, o céu já anunciava a vitória eterna. O túmulo vazio se tornou a resposta definitiva às nossas maiores dores e dúvidas. A morte foi vencida. A esperança brilhou. A graça triunfou.
Naquele jardim, marcado pela morte (lembranças do Éden, maculado pelo pecado do ser humano) rompia-se a recriação de um novo Jardim: A tumba está vazia, a promessa foi cumprida, Jesus Cristo ressuscitou. Aleluia!
Maria Madalena foi chamada pelo seu nome. E naquela voz familiar, ela reconheceu o Salvador vivo. Assim também é conosco: em meio às lágrimas e incertezas, Ele nos chama pelo nome, nos acolhe e nos envia para viver à luz da Sua vitória. Maria foi consolada, e enviada como testemunha da nova criação. Assim também o Senhor nos chama hoje: pelo nosso nome, para uma viva esperança. A vitória da ressurreição transforma corações quebrados em corações missionários, cheios de esperança e propósito.
Como, inspirado pelo Santo Espírito, declarou o apóstolo Paulo: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a fé que vocês têm, e vocês ainda permanecem nos seus pecados. E ainda mais: os que adormeceram em Cristo estão perdidos. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos as pessoas mais infelizes deste mundo. Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem, visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. ²³ Cada um, porém, na sua ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda. E então virá o fim, quando ele entregar o Reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque é necessário que ele reine até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte”. (1 Coríntios 15.17-26)
E ainda:
“Eis que vou lhes revelar um mistério: nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade e o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: “Tragada foi a morte pela vitória.” “Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?” O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sejam firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o trabalho de vocês não é vão.” (1 Coríntios 15:51-58)
Talvez hoje você também tenha amanhecido com o coração pesado, mas lembre-se: a luz brilhou na escuridão, e a escuridão não conseguiu vencê-la (João 1.5). A alegria veio pela manhã, e essa alegria jamais se apagará.
O túmulo está vazio.
O trono está ocupado.
E o nosso nome está gravado nas mãos do Ressuscitado.
Cristo vive! E porque Ele vive, nós também viveremos.
E mais: um dia, na manhã eterna que há de raiar, ressuscitaremos em glória com Ele, para nunca mais experimentar dor, luto ou separação (Apocalipse 21.4).
Que nesta semana, nossos corações se lembrem: a vitória já foi conquistada. O túmulo está vazio, a vida triunfou e nosso futuro está seguro em Cristo.
Ergamos a cabeça, com fé e esperança: a gloriosa manhã da ressurreição raiou!
Deus nos abençoe,
Em Cristo,
Pr. Samuel S. Bezerra
Se o céu (“ver Deus face a face” – 1Co 13.12) é o nosso destino e o lugar onde viveremos eternamente com o Senhor, por que, então, Ele nos deixa aqui após a conversão? Se Deus tem poder para aperfeiçoar imediatamente aqueles que salva, por que não nos toma logo para Si? Essas perguntas se tornam ainda mais intensas em certos momentos da vida.
Se o único propósito de Deus fosse nos levar ao céu, Ele poderia tê-lo feito no exato instante em que cremos em Cristo. Nada O impede. Ele tem poder para aperfeiçoar-nos completamente e nos introduzir, de imediato, na glória eterna. No entanto, por Sua vontade soberana e sábia, Ele nos deixa aqui. Por quê?
A resposta está em algo que precisamos compreender com clareza: não permanecemos neste mundo por acaso, mas por missão. Somos deixados aqui porque ainda há o que fazer. Porque a nossa vida, mesmo marcada por limitações, dores e lutas, ainda tem propósito.
E entender isso é imprescindível, especialmente quando enfrentamos — ou acompanhamos alguém que enfrenta — momentos de dor prolongada, doenças terminais, ou quando os efeitos do envelhecimento pesam sobre o corpo. Nessas situações, não é raro que surja a pergunta angustiada: “Por que Deus não me leva logo?” Essa indagação, ainda que dolorosa, é compreensível. Ela brota do cansaço da alma, do sentimento de inutilidade, da sensação de que a vida já se cumpriu.
Mas Deus não retém Seus filhos por acaso. Se permanecemos aqui, mesmo em meio à dor, é porque ainda há glória a ser gerada por meio de nós. Pode não ser mais através da disposição física para fazer pelo Reino, mas talvez por uma fé resignada e aquietada nos braços do Redentor, uma oração sussurrada, um testemunho paciente, ou uma presença que consola. Tudo isso, para o crente certo da esperança da glória, cria o cenário ideal para a proclamação do Evangelho.
Mesmo na fragilidade extrema, a vida do crente é um campo fértil onde Deus opera. O Senhor é glorificado não apenas nas vitórias visíveis, mas também na fidelidade de quem sofre confiando.
Somos aqui como luzes ainda acesas, como sal ainda atuante, como instrumentos que Ele escolheu manter em uso. Estamos aqui para glorificar Cristo Jesus em nossa vida — seja ela vigorosa ou enfraquecida fisicamente. Ainda que o nosso ser exterior se corrompa, o nosso ser interior se renova de dia em dia (2Co 4.16). E, quando esse processo cumprir seu propósito, então sim, Ele nos tomará para Si.
Enquanto isso, permanecemos servindo com os pés no chão, mas com os olhos no trono. Vivendo com propósito, mesmo em meio à dor, com firmeza segura, como expressou o apóstolo Pedro, inspirado pelo Espírito Santo:
“Uma vez que tudo será assim desfeito, vocês devem ser pessoas que vivem de maneira santa e piedosa, esperando e apressando a vinda do Dia de Deus. Por causa desse dia, os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos se derreterão pelo calor. Nós, porém, segundo a promessa de Deus, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça.” (2Pedro 3.11–13)
Meu lar está lá em cima, minha herança é eterna, meu Salvador me espera, e meu coração já habita onde um dia meus pés pisarão. Aleluia!
E enquanto tivermos fôlego, e a ressurreição não vem, dizemos com coragem e fé:
“Ainda aqui, Senhor, eu Te glorifico.”
Por Cristo Jesus,
Um servo que também aguarda ver o Redentor face a face,
Rev. Samuel Santos Bezerra
Algumas coisas têm sido escritas sobre a situação de pastores feridos e cansados. Títulos tais como: “Pastores feridos”, “Igrejas enfermas”, “Pastores em perigo”. Creio que o objetivo seja despertar liderança e liderados para a assistência mútua necessária no labor eclesiástico. Estudos recentes continuam a lançar luz sobre os desafios enfrentados pelos pastores, especialmente em relação à solidão e desânimo. Um relatório de 2024 do Hartford Institute for Religion Research indica que 50% dos líderes religiosos sentem-se solitários com frequência, e 37% relataram sentir-se frequentemente solitários. Isso sugere que os pastores podem enfrentar níveis de solidão mais altos do que a população em geral. Fonte: LifeWay Researchabril/2024 (https://research.lifeway.com/2024/04/30/most-pastors-report-feeling-lonely/).
Em 2021, o Grupo Barna informou que 38% dos pastores norte-americanos haviam considerado deixar o ministério em tempo integral no ano anterior, evidenciando os riscos de esgotamento e a pressão no exercício pastoral. (Fonte: https://www.barna.com/research/pastorswell-being/).
Em março de 2021, perdi um amigo pastor que se suicidou, deixando esposa e dois filhos pequenos. Uma tragédia, mas que infelizmente tem se tornado um cenário comum. Que o Senhor tenha misericórdia de nós!
Todo ministro do Evangelho, por mais firme que pareça, é um ser humano em constante batalha. É essencial que tenha ao seu redor uma rede de apoio que o ajude a prosseguir com ânimo e fidelidade. É bênção quando pode contar com outros irmãos maduros, com quem possa compartilhar suas lutas, pessoas que o desafiem a crescer e cuidar de sua família, um círculo de amigos que traga encorajamento ao coração.
É fato: ovelhas precisam ser cuidadas. Mas também é verdade que pastores emocionalmente doentes terão grande dificuldade em conduzir com saúde e constância o rebanho de Deus. Como podemos esperar que alguém esgotado, solitário ou adoecido espiritualmente esteja plenamente apto para cuidar de outros?
A Bíblia é clara ao afirmar que o ministério pastoral tem a ver com doutrina, e doutrina é pra ser vivida – pessoal e coletivamente. Por isso, a igreja tem também uma responsabilidade: zelar por seus pastores e líderes.
Na carta aos Filipenses, encontramos muitas lições preciosas sobre a dinâmica mútua do cuidado entre líderes e comunidade. Focando em Filipenses 2.19-30, observamos três ações que nos ensinam sobre como a igreja pode (e deve) cuidar de seus líderes.
1. Valorizar os líderes fiéis (vv.19-22)
Paulo expressa profunda confiança em Timóteo, descrevendo-o como alguém de “ânimo igual” — ou seja, alguém que compartilhava o mesmo coração pastoral. O apóstolo destaca a raridade de alguém com o mesmo zelo e sinceridade no cuidado pelo povo de Deus.
Timóteo não buscava seus próprios interesses, mas os de Jesus Cristo. E o que isso significa na prática? Que ele colocava o bem da igreja acima das conveniências pessoais. A igreja, por sua vez, precisava reconhecer e valorizar esse tipo de liderança.
Perguntemo-nos: Como temos honrado e encorajado os nossos líderes? Demonstramos gratidão, oramos por eles, ajudamos em sua maturidade emocional e espiritual?
2. Dispor-se a abrir mão por amor à igreja (vv.23-24)
Paulo, mesmo preso e carente de apoio, decide abrir mão da companhia de Timóteo, seu filho na fé, para beneficiar a igreja de Filipos. Essa decisão revela um profundo comprometimento com a saúde da comunidade cristã.
Ao mesmo tempo, evidencia uma lição preciosa: o cuidado pastoral não é monopólio de uma pessoa. Pastores também precisam de parceiros no ministério, com quem dividir cargas, compartilhar afetos e edificar a igreja de forma coletiva. Nossa igreja estimula esse tipo de parceria e apoio mútuo? Ou ainda caímos na armadilha de esperar que o pastor seja um super-herói espiritual? Ainda achamos que a visita válida é só a pastoral? Os irmãos da igreja quando visitam não estão representando toda a igreja? Isto inclui líderes e liderados.
3. Reconhecer e louvar a Deus por aqueles que se desgastam pelo Reino (vv.25-30)
Epafrodito é apresentado como um “cooperador e companheiro de lutas” que quase morreu pelo trabalho de Cristo. Ele arriscou a vida por amor ao evangelho e por lealdade ao apóstolo e à igreja. Paulo recomenda que homens assim sejam honrados!
Aqui há uma exortação direta à igreja: cuidar de seus líderes inclui reconhecer seu esforço, prestar honra (nos termos de Rm 13.7) a quem serve com dedicação, abrir seu coração para o pastoreio, suprir suas necessidades materiais, e ser apoio emocional e espiritual.
Perguntemo-nos: Celebramos os sacrifícios dos nossos líderes? Ou esperamos sempre mais, sem nos perguntarmos como estão sua saúde, suas famílias e sua alma?
Cara igreja! Somos despertados para mais essa ação, isto é, cuidar de quem cuida da gente. Pastores não são máquinas de ministério; são seres humanos chamados por Deus, frágeis e carentes de comunhão, apoio e graça. As Escrituras Sagradas nos ensinam que a igreja é um corpo vivo (Ef 4.11-16), onde cada membro tem um papel essencial. Cuidar dos pastores é cuidar do Corpo de Cristo.
Você tem sido bênção na vida do seu pastor? Tem intercedido por ele? Tem sido cooperador ou apenas consumidor? Lembre-se: líderes descansados, fortalecidos e acompanhados têm muito mais condições de cuidar bem das ovelhas de Cristo.
Que o Senhor nos ajude,
Em Cristo Jesus,
Um servo juntamente contigo,
Pr. Samuel Santos Bezerra
No dia 27 de março de 2025, a Editora Cultura Cristã comemorou 77 anos de história. De fato, uma bênção de Deus para o crescimento da Sua igreja. Sim, há crescimento quando nos aprofundamos em literaturas com sadia teologia, que nos ajudam a interpretar o mundo de Deus conforme a realidade.
Assim, aproveitando a ocasião do aniversário da nossa Editora e a necessidade de um despertamento maior para a prática da leitura, evoco, na pastoral de hoje, uma reflexão provocada por Sinclair B. Ferguson (teólogo reformado escocês, pastor, professor e escritor), encontrada em um livreto que não tem nada de despretensioso, mas que reserva pepitas valiosas. Refiro-me ao título: “Você lê bons livros?”. Estímulo a sua leitura, não se arrependerá.
Ferguson nos lembra acerca do santo hábito de leitura do apóstolo Paulo. Quando preso em Roma, escreveu para que Timóteo, quando fosse visitá-lo, lhe trouxesse “os livros, especialmente os pergaminhos” (2Tm 4.13). Quem, na iminência de sua morte, pensaria em livros? Somente aqueles que aprenderam o valor da leitura para a nossa jornada cristã.
A leitura promove maturidade, enche nossas mentes com novos pensamentos e nos torna mais preparados para este mundo do que de outra forma seríamos. Se esse é o efeito da leitura em geral, o quanto mais a leitura cristã pode nos ajudar a crescer à medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4.13)? Que livros podem ser mais importantes do que aqueles que têm como objetivo a glória de Deus, a transformação de nossas vidas à imagem de Jesus Cristo e o alcance de homens e mulheres com o evangelho, para o louvor da gloriosa graça de Deus?
Inegavelmente, vivemos em uma era dominada pelas imagens, onde o impacto do que vemos frequentemente ofusca o valor do que lemos. No entanto, ao longo da história, os cristãos reconheceram o poder transformador da leitura. Desde os tempos apostólicos, a palavra escrita foi um meio essencial para ensinar, edificar e propagar o evangelho. Basta observar quantas obras cristãs foram impressas ao longo dos séculos, influenciando gerações inteiras. Nossos antepassados espirituais viam a literatura como uma ferramenta poderosa para o crescimento na graça e no conhecimento de Deus.
Hoje, porém, muitos cristãos negligenciam a leitura. Para alguns, isso se deve à falta de hábito; para outros, à dificuldade em encontrar prazer nos livros. No entanto, a questão fundamental não é apenas gostar de ler, mas reconhecer a leitura como um meio de crescimento espiritual. A forma como alimentamos nossa mente influencia diretamente nossa vida cristã. Assim como um médico avalia a saúde física a partir da dieta do paciente, também podemos avaliar nossa vitalidade espiritual pelo que consumimos intelectualmente.
Não é coincidência que cristãos comprometidos tendem a ser leitores aplicados. A história da igreja revela que tempos de avivamento e profundidade espiritual estiveram frequentemente acompanhados por um intenso uso da literatura cristã. Isso ocorre porque a fé cristã exige uma mente renovada (Rm 12.1-2). Ela não é irracional ou baseada apenas em emoções momentâneas; pelo contrário, envolve compreender, meditar e obedecer à Palavra de Deus.
Já ouvimos o ditado: “Você é o que você come”. Isso também se aplica à leitura. O que escolhemos ler molda nosso pensamento, afeta nossa compreensão da Escritura e fortalece (ou enfraquece) nossa fé. A Palavra de Deus é nosso alimento principal, mas livros que aprofundam nosso entendimento bíblico, desafiam nossa santificação e expandem nossa visão missionária são instrumentos valiosos para nosso crescimento.
Se ainda resta a dúvida sobre a importância da leitura cristã, lembre-se: bons livros promovem maturidade, ampliam nossa compreensão da verdade e nos tornam mais aptos a viver para a glória de Deus. Mais do que uma prática intelectual, ler é um meio de nos aproximarmos mais do Senhor e sermos conformados à imagem de Cristo (Ef 4.13).
Em seu livro “Um guia cristão para a leitura de livros”, Tony Reinke nos apresenta algumas dicas importantes para a criação do hábito de leitura, por exemplo:
“- Determinar a prioridade com clareza: antes de começar a ler um livro, determine o propósito dele em sua vida. Por que você está lendo este livro? O que o torna melhor do que os outros dez mil que você ignorou? Ele é parte da sua dieta espiritual para mudanças pessoais ou apenas para diversão? Determinar as prioridades com clareza é essencial. Uma vez que a prioridade de leitura esteja clara, então é a hora de fazer perguntas específicas. Eu encorajo os leitores a escreverem de cinco a dez perguntas específicas que gostariam de fazer ao autor. Ao colocar estas questões diante do livro antes de começar a lê-lo, você estabelece uma base objetiva do porquê você está lendo este livro, antes de mais nada. Conforme você lê, aquelas questões lhe ajudarão a determinar se o livro está cumprindo o seu propósito.
– Verificar antecedentes: antes de ler um livro, eu faço uma pequena pesquisa online para buscar resenhas de livrarias, encontrar pequenos resumos, ler as indicações e checar quaisquer sinopses de destaque que tenham sido publicadas sobre o livro. Este passo também acontece com relação aos autores que leio. Quem são eles? Onde trabalham? Que cosmovisão eles representam? Este passo crítico ajuda a me preparar para o começo da leitura e me alerta às motivações do autor. A checagem de pano de fundo toma apenas alguns poucos minutos do meu tempo, e é um tempo muito bem investido. Mantenha uma caneta por perto. Sempre que leio, mantenho uma caneta atrás da orelha, porque eu era um carpinteiro antes de me tornar um leitor, e todo bom carpinteiro tem uma caneta. Mas descobri que este hábito também é útil como leitor. E da mesma forma que eu sempre pegava uma caneta quando me dirigia aos locais de trabalho, eu mantenho o mesmo hábito ao me dirigir para a minha cadeira de leitura. Sem uma caneta na mão, eu me esqueço dos pensamentos que passam por minha mente. Por costume, eu pego a caneta antes de pegar o livro.
– Fazer uma lenta radiografia do livro: é hora de abrir o livro pela primeira vez e sentir o aroma de livro novo, ou aquele cheiro de biblioteca antiga – ou, imagino, admirar aquele piscar infinito, inodoro e brilhante do seu equipamento de leitura digital preferido. Antes de começar a ler a primeira página de um livro, eu invisto trinta ou sessenta minutos para fazer perguntas estruturais abrangentes. Adler escreve: ‘Todo livro tem um esqueleto por trás da capa’ (Adler, Mortimer. Como ler Livros, p. 91, São Paulo: É Realizações, 2010). Esse é um clássico no processo do aprendizado da leitura. Negrito meu). Reinke continua: ‘… Eu tento fazer uma radiografia desse esqueleto estrutural. Primeiro, estudo o índice, observando como os capítulos anteriores se encaixam com os posteriores. Segundo, eu analiso o livro e os títulos de cada capítulo. Terceiro, eu leio os resumos dos capítulos e até mesmo o capítulo da conclusão. Tudo o que prometer ser um resumo conciso ganha o primeiro lugar na leitura. (Confissão: eu comumente leio a última página antes da primeira). Então, estou pronto para começar a ler a introdução. Os leitores são tentados a mergulhar direto nas primeiras páginas, mas fazer a radiografia do livro exige paciência. O tempo gasto em inspecioná-lo lentamente é um investimento que traz recompensas. E este passo tem me protegido de perder tempo lendo livros medíocres! Tire tempo para fazer uma radiografia do esqueleto, e leve quanto tempo for necessário para fazê-lo bem.
– Determinar uma estratégia de leitura: após fazer a radiografia do livro e de sua estrutura, tenho uma boa noção dos pontos principais do livro. Agora eu preciso determinar como eu quero lê-lo. Livros diferentes devem ser lidos de formas diferentes. Como afirma a famosa citação de Francis Bacon: ‘Alguns livros devem ser degustados, outros engolidos, e alguns poucos mastigados e digeridos; isto é, alguns livros devem ser lidos apenas em partes; outros devem ser lidos, mas sem tanta curiosidade; e alguns poucos devem ser lidos completamente, com diligência e atenção’. Então, o que devo fazer com um livro em particular? Depois de inspecioná-lo lentamente, eu tenho quatro opções:
1. Mastigar e engolir como a um bife. Esta abordagem afirma que, sim, parece que este será um livro excelente se responder às questões que propus. Quero ler este livro de forma cuidadosa e intencional, de capa a capa.
2. Engolir como a um milkshake. Sim, parece que este será um livro útil que responderá às minhas questões. Quero lê-lo por inteiro, mas em um ritmo rápido. Não desejo gastar muito tempo com este único livro.
3. Experimentar como a uma tábua de queijos. Sim e não. Partes do livro parecem não se relacionar com as minhas questões, mas outras seções se mostram bastante pertinentes e úteis. Não tem nada de errado com ler apenas porções de um livro ou capítulos específicos. Ao fazer isso, mantenha em perspectiva a sua leitura do livro, e este foco vai evitar que você perca o interesse. Mais importante, esta abordagem vai preveni-lo do mito comum de que um livro sempre dever ser lido de capa a capa. Não é sempre o caso.
4. Cuspir como leite estragado. Não, este não parecer ser um livro que responderá às minhas questões, ou não tão bem como outro livro o faria. Vou seguir em frente e procurar um substituto. Leitores maduros aprendem a envolver-se com diferentes livros de diferentes modos.
– Prosseguir apesar das perguntas: agora que já obtive uma ideia geral sobre a estrutura do livro, é hora de lê-lo. Começo lendo o primeiro capítulo, e mantenho a leitura em um ritmo bem acelerado. Se algo me confunde ou não faz sentido para mim, faço uma pequena marca e sigo em frente. Na margem do livro, marco tudo o que não concordo inicialmente ou questiono. Ao final do capítulo, retorno às seções marcadas. Com frequência, durante o tempo que gastei para chegar ao final do capítulo, muitas das questões iniciais já foram respondidas pelo autor. Posso economizar tempo sem ter de parar a cada vez que surge uma pergunta.”
Há ainda outras dicas que valem a pena ser consideradas! Desejo-lhe proveitosa imersão nesses dois materiais práticos: “Você lê bons livros?” e “Um guia cristão para a leitura de livros”. Que possamos buscar leituras que elevem nossa alma, fortaleçam nossa fé e glorifiquem a Deus.
Deus nos abençoe,
em Cristo Jesus,
no despertamento do Seu Santo Espírito
Pr. Samuel Santos Bezerra
A minissérie britânica Adolescência, disponível na Netflix, aborda a história de Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado do assassinato de uma colega de classe. A trama explora o impacto desse evento na família de Jamie, incluindo seus pais, Eddie e Manda Miller, que enfrentam a dura realidade de questionar sua própria responsabilidade na formação do filho.
No episódio 4, há uma cena impactante em que Eddie e Manda discutem no quarto sobre a criação de Jamie e refletem sobre sua possível responsabilidade no comportamento do menino. De maneira relutante, avaliam sua culpa na formação do filho, a ausência na supervisão do jovem no ambiente digital e, por fim, chegam à conclusão de que carregam uma parcela significativa de responsabilidade, mesmo que a questão não seja simples.
A série provoca uma reflexão importante sobre a responsabilidade dos pais na educação dos filhos, especialmente no que diz respeito à supervisão, à aplicação de limites e à construção de um diálogo saudável. Para os pais crentes no Senhor Jesus Cristo, que receberam de Deus instruções claras sobre como devem educar seus filhos, essa reflexão se torna ainda mais relevante. No contexto da Teologia da Aliança, o chamado para a criação dos filhos não é apenas uma responsabilidade humana, mas uma tarefa que envolve compromissos espirituais diante de Deus. Vejamos alguns desses compromissos:
1. A responsabilidade pactual dos pais
Deus é Deus de pacto. Uma das mais belas manifestações disso está no pacto que Ele estabelece com Seu povo e suas gerações (Gênesis 17.7; Atos 2.39). Os filhos dos crentes são incluídos nessa aliança, e, por isso, os pais têm o chamado especial de criá-los “na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6.4). Falhar nisto é pecar na missão dada por Deus de engajamento na formação espiritual dos filhos.
2. A necessidade de ensino contínuo da Bíblia
Em Deuteronômio 6.6-7, Deus ordena que Sua lei seja ensinada diligentemente aos filhos, tanto em casa quanto em todas as circunstâncias da vida. Essa passagem nos lembra que a educação dos filhos não se resume a momentos isolados, mas deve ser um ensino constante. Se os pais não formam seus filhos à luz da Palavra, o mundo e seus valores tomarão esse espaço.
3. A centralidade de Cristo no lar
Em Colossenses 1.18, Paulo afirma que Cristo deve ter a primazia em todas as coisas, incluindo a vida familiar. Os pais são chamados a governar suas casas com justiça e amor, refletindo o senhorio de Cristo. Lares onde Cristo é ignorado ou apenas mencionado superficialmente estão vulneráveis às investidas do mal.
4. A disciplina como expressão do amor de Deus
Provérbios 22.6 ensina: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele.” A disciplina amorosa é um meio ordenado por Deus para guiar os filhos. Quando os pais falham em estabelecer limites claros e bíblicos, correm o risco de criar filhos sem referência moral sólida.
5. A oração e a dependência de Deus
A educação dos filhos na fé não é apenas uma tarefa humana; requer total dependência da graça de Deus. Os pais reformados devem interceder constantemente por seus filhos, confiando que Deus opera a transformação espiritual que apenas Ele pode realizar (Filipenses 1.6).
No entanto, apesar de todo cuidado, instrução e fidelidade dos pais, os filhos não são autômatos espirituais. Cada um é responsável diante de Deus pelas escolhas que faz (Ezequiel 18.20). Há casos em que, mesmo sendo criados em lares piedosos, os filhos escolhem um caminho diferente daquele que lhes foi ensinado, afastando-se da fé e trazendo sofrimento para a família. Essa realidade, embora dolorosa, não está fora do controle do nosso Deus soberano.
A parábola do filho pródigo (Lucas 15.11-32) nos lembra que, mesmo quando um filho se desvia, Deus continua sendo o Pastor que cuida, consola e restaura. Assim como o pai na parábola permaneceu atento e esperançoso, os pais cristãos devem continuar orando por seus filhos, confiando que Deus pode trazê-los de volta. Ainda que a dor da rebeldia seja real, o consolo do Senhor é maior
Além disso, o próprio Deus experimentou a dor de filhos rebeldes. Israel, o povo escolhido, frequentemente se desviava dos caminhos do Senhor, mas Ele nunca deixou de chamar Seu povo ao arrependimento e restaurá-lo por Sua graça (Oséias 11.1-4). Essa verdade deve confortar os pais que enfrentam a dor de filhos que escolheram caminhos tortuosos. Mesmo nesses momentos, Deus permanece fiel, guiando, consolando e cumprindo Seus propósitos soberanos.
Conclusão
A série Adolescência traz à tona questões essenciais sobre a paternidade e a formação dos filhos. Essas questões devem ser respondidas à luz da Palavra e da Aliança de Deus com Seu povo. A criação dos filhos é um chamado santo e uma grande responsabilidade, mas também um privilégio.
Que os pais sejam fiéis no ensino e na disciplina, mas também dependentes de Deus, sabendo que Ele é soberano sobre os corações dos filhos. E que, mesmo quando enfrentam a dor de um filho rebelde, possam encontrar descanso na verdade de que Deus é o Bom Pastor, aquele que busca, consola e restaura.
Em Cristo Jesus,
Seu pastor e discípulo de Cristo
Pr. Samuel Santos Bezerra
É sempre edificante recorrermos aos marcos iniciais para melhor cultivarmos e experimentarmos as bênçãos que Deus tem nos concedido ao longo dos anos. Por exemplo, considerar o princípio da criação (Gn 1) é essencial para compreendermos nosso papel no mundo de Deus, bem como o senso de progresso e a responsabilidade que devemos exercer como bons mordomos. Em Apocalipse, o Senhor exorta a igreja em Éfeso a voltar ao primeiro amor, um chamado para corrigirmos nossa caminhada cristã, tendo como referência os motivos que nos levaram a começar. Isso se aplica a tudo que tem um início fundamentado em propósitos santos.
Isso se aplica a tudo que tem um início fundamentado em propósitos santos.
Sabemos que, no dia 10 de março de 1557, foi realizado o primeiro culto protestante nas Américas. Esse culto aconteceu na França Antártica, uma colônia francesa fundada em 1555 na Baía de Guanabara, onde hoje fica o Rio de Janeiro. A celebração foi conduzida pelo pastor Pierre Richier e pelo ministro Guillaume Chartier, enviados pela igreja reformada de Genebra, cujo pastor era João Calvino.
Esse momento representou a primeira tentativa de implantar o protestantismo no Brasil. A expedição francesa foi liderada pelo vice-almirante francês Nicolas Durand de Villegagnon, que havia se mostrada simpático à fé reformada e pedido ajuda a Calvino para o envio de missionários a fim de que espalhassem a semente do Evangelho em terras brasileiras. No entanto, Villegagnon logo se voltou contra os huguenotes (protestantes franceses), perseguindo e executando alguns deles, como Jean du Bordel, Matthieu Verneuil e Pierre Bourdon, que ficaram conhecidos como os primeiros mártires protestantes no Brasil.
O culto de 10 de março de 1557 entrou para a história como o primeiro registro oficial de um culto reformado na América Latina, tornando-se um marco para o protestantismo no continente.
Diante desse marco histórico tão significativo, precisamos evitar que ele se torne apenas uma lembrança distante e, assim, perdermos a oportunidade que Deus nos dá de interpretar corretamente nosso tempo e nosso coração, a fim de fazermos o que Lhe agrada. Pensemos, portanto, em quatro aplicações que conectam o primeiro culto protestante nas Américas com nossa participação nos cultos da igreja hoje:
1. Cultuar com gratidão e reverência
Os primeiros reformados enfrentaram grandes desafios para se reunir e cultuar a Deus, pagando um alto preço por sua fé. Hoje, temos liberdade para nos reunir e adorar sem medo, mas muitas vezes tratamos essa oportunidade com indiferença. Precisamos redescobrir o valor do culto público, participando com gratidão, reverência e compromisso, reconhecendo que é um privilégio concedido por Deus.
2. Preservar a pureza do Evangelho
O culto realizado em 1557 foi fruto do desejo de manter a fé reformada fiel à Escritura. No entanto, a oposição e perseguição vieram rapidamente. Da mesma forma, hoje enfrentamos o risco de diluir a mensagem do evangelho para agradar à cultura ou facilitar a aceitação. Devemos aprender com o passado e permanecer firmes na verdade bíblica, preservando a sã doutrina em nossos cultos e vidas.
3. Aprender com os erros e corrigir a caminhada
Villegagnon começou apoiando os reformados, mas depois se voltou contra eles, demonstrando inconstância e falta de compromisso com a fé verdadeira. Esse exemplo nos ensina a avaliar nossa caminhada cristã, identificando áreas em que nos desviamos e precisamos corrigir. A exortação de Apocalipse 2.4 para voltar ao primeiro amor deve nos levar a um arrependimento sincero e renovado zelo pela adoração e pela comunhão com Deus.
4. Aproveitar as oportunidades para a expansão do Reino
O primeiro culto nas Américas foi um pequeno começo, mas com grandes implicações históricas. Hoje, cada culto da igreja é uma oportunidade de edificação e testemunho. Devemos aproveitar cada encontro como um momento para crescer na fé, incentivar nossos irmãos e influenciar o mundo ao nosso redor. O culto não é apenas um evento semanal, mas parte da missão de Deus para transformar vidas e expandir Seu Reino.
Que o Senhor Deus nos abençoe a valorizar os marcos da fé, corrigir nossos caminhos e cultuar com coração sincero, firmado na Sua Palavra, para Sua glória. Em Cristo Jesus, no poder do Seu Espírito Santo. Amém.
Seu conservo e amigo,
Rev. Samuel Santos Bezerra
O que as doutrinas da perseverança e a glorificação significam na prática? Já vimos sobre motivação, esperança, compromisso, confiança, destemor, sacrifícios. Hoje vamos tratar da perspectiva.
PERSPECTIVA
É fácil perder a perspectiva. É fácil permitir que certas coisas em nossas vidas assumam um nível de importância muito maior do que realmente têm, dominando nossos pensamentos e desejos e controlando a maneira como tomamos decisões e vivemos. Seu casamento é importante, mas há coisas dentro do casamento que podem se tornar mais importantes do que deveriam e começar a moldar seu comportamento de maneira negativa. Sua educação é valiosa, mas aspectos da vida universitária podem acabar tomando um lugar exagerado em sua vida. Seu trabalho é essencial, mas você precisará lutar contra a tentação de deixar suas metas se tornarem mais importantes do que realmente são, levando-o a tomar decisões que não deveria tomar.
Nas doutrinas da perseverança e glorificação de todos os salvos, Deus nos abençoa com uma perspectiva eterna. Essas doutrinas devem habitar em nossos corações com tanta autoridade e glória que nos impedem de perder a visão do evangelho. Elas nos ajudam a atravessar este mundo caído, com todas as suas vozes sedutoras e ídolos que nos chamam, mantendo sempre diante de nós o que é verdadeiramente importante—isto é, aquilo pelo qual vale a pena viver.
Ganhar aquela discussão pode não ser tão importante quanto parece no momento. Fazer qualquer coisa para conquistar o amor de alguém pode não ser tão essencial quanto você sente. Tirar notas altas na universidade, a qualquer custo, pode não ser tão necessário quanto lhe parece. Comprar aquele item que você se convenceu de que precisa pode não ser tão relevante quanto você imagina agora. Ter aquele prazer imediato, independentemente do preço, pode ser mais perigoso do que importante. Na luta da fé entre o “já” e o “ainda não”, precisamos de perspectiva. Essas doutrinas nos abençoam com um lembrete constante do que é verdadeiramente importante, aqui, agora e por toda a eternidade. Que essa perspectiva nos conceda discernimento, mantendo nossos corações focados e nossas vidas avançando, passo a passo, rumo à glória que há de vir.
Deus te abençoe.
Fonte: TRIPP, Paul David. Do you believe? 12 historic doctrines to change your everyday life. Wheaton, Illinois: Crossway, 2021.
O que as doutrinas da perseverança e a glorificação significam na prática? Já vimos sobre motivação, esperança, compromisso, confiança, destemor. Hoje vamos tratar do sacrifício.
SACRIFÍCIO
Todos fazem sacrifícios por alguma coisa. Sacrificamos nosso lazer, tempo, dinheiro e energia para nos exercitarmos em busca de uma vida mais saudável. Sacrificamos o prazer de certos alimentos para perder peso. Sacrificamos a satisfação que obtemos com bens materiais para conseguirmos nos livrar das dívidas. Todos esses são sacrifícios positivos, mas nem todos os nossos sacrifícios são assim. Há sacrifícios prejudiciais, como priorizar a carreira em detrimento da família, comprometer um casamento por prazer momentâneo ou negligenciar a obra de Deus em favor de bens materiais.
Em meio às doutrinas da perseverança e da glorificação dos santos, há um chamado ao sacrifício. Sim, é Deus quem nos guarda até o fim pelo poder de sua graça protetora. Sim, é Deus quem garante que sua obra salvadora culminará em nossa transformação à semelhança de Cristo e em nosso reinado com Ele em glória eterna. Mas um dos meios que Deus usa para assegurar que essas coisas aconteçam é o chamado para renunciar a tudo e segui-lo pela fé.
Grandes multidões acompanhavam Jesus, e ele, voltando-se, lhes disse: — Se alguém vem a mim e não me ama mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua mulher, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E quem não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo. Assim, pois, qualquer um de vocês que não renuncia a tudo o que tem não pode ser meu discípulo. Lucas 14.2527,33
Esse texto não nos ensina a tratar nossa família com ódio, nem nos diz que o Senhor vai tirar tudo de nós. Ele fala sobre o compromisso do nosso coração. Devemos amar tanto ao Senhor e estar tão comprometidos com a obra que Ele realiza em nós e através de nós, que nada possa nos impedir de segui-lo com alegria – nem mesmo as pessoas mais queridas e próximas. Esse é um chamado para uma vida de sacrifício, por causa da nossa redenção e para a glória do nosso Redentor.
Assim, sacrificamos com alegria nosso tempo livre ou o desejo de expressar nossa raiva para criar nossos filhos no temor e na admoestação do Senhor. Sacrificamos nosso lazer para termos tempo e energia para participar da missão da igreja local. Dizemos “não” a uma promoção porque ela nos tiraria tempo de disciplinas espirituais essenciais às quais nos comprometemos. Dizemos “não” a entretenimentos que nos tentam a pensar e desejar coisas que Deus diz serem erradas.
O que Jesus nos chama a fazer nesta passagem é a nos recusarmos a permitir que qualquer coisa atrapalhe nossa busca por tudo o que Ele está realizando agora em nós e por tudo o que Ele prometeu que será nosso no porvir.
Já que você fará sacrifícios em sua vida, por que não fazer os melhores? Por que não renunciar agora a prazeres temporários por uma alegria eterna? Por que não abrir mão do que impede seu crescimento espiritual em favor do que Deus usará para amadurecê-lo? Por que não trocar o amor pelo mundo pelo amor ao Pai celestial? Por que se apegar ao que nunca poderá satisfazê-lo em vez de buscar Aquele que pode saciar seu coração para sempre?
Entregue seus pensamentos e desejos Àquele que sempre o conduzirá ao bem. Fuja das tentações deste mundo caído e escolha os melhores sacrifícios que poderia fazer. Ore por graça para estar disposto a deixar tudo por Aquele que prometeu mais do que você pode pedir ou imaginar. As doutrinas da perseverança e da glorificação nos chamam a fazer sacrifícios que resultam em uma glória eterna inimaginável.
Fonte: TRIPP, Paul David. Do you believe? 12 historic doctrines to change your everyday life. Wheaton, Illinois: Crossway, 2021.
O que as doutrinas da perseverança e a glorificação significam na prática? Já vimos sobre motivação, esperança, compromisso, confiança. Hoje vamos tratar do destemor.
DESTEMIDOS
Todos nós gostaríamos de poder dizer: “Portanto, não temeremos, ainda que a terra se transtorne, / e os montes se abalem no seio dos mares” (Sl 46.2).
Essas palavras definem o que significa viver sem medo, mesmo diante de acontecimentos catastróficos. Quem não desejaria uma vida livre do medo? Você notou a palavra significativa que inicia o versículo? Ela nos aponta para onde se encontra a verdadeira coragem. A palavra é portanto. Viver sem medo sempre se baseia em algo. Há algo que você sabe e compreende sobre si mesmo, sobre outra pessoa, sobre sua vida ou sobre a situação em que se encontra que dissipa seu medo. Sempre é: “Não tenho medo porque ________.”
Assim, o “portanto” do Salmo 46.2 nos remete ao versículo anterior, 46.1: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia.” Aqui está a razão pela qual todo filho de Deus pode viver uma vida que não é dobrada, torcida, distorcida e conduzida pelo medo.
A vida cristã não deve ser uma existência cheia de medo. Não devemos viver em dúvida constante sobre sermos ou não filhos de Deus. Não devemos nos perguntar se pecamos demais ou fomos longe demais. Não devemos ficar ansiosos ao pensar em Deus ou em como Ele nos vê. Não devemos estar sempre buscando maneiras de provar a nós mesmos diante de Deus, de demonstrar nossa fé, lealdade e compromisso. Não devemos ler as advertências da Escritura como se fossem previsões de nossa condenação. Não devemos viver aterrorizados com a possibilidade de apostatar.
Sim, devemos levar nossa fé a sério. Sim, devemos nos comprometer a obedecer. Sim, devemos nos dedicar ao estudo da Bíblia e à oração, à adoração e ao convívio com o corpo de Cristo, e à obra missionária do reino de Deus. Mas nenhuma dessas coisas deve ser motivada pelo medo da ira de Deus cair sobre nós caso falhemos. Uma vida cristã ativa, comprometida e corajosa deve ser motivada pela alegria suprema de saber que Deus nos tomou para Si, que nada pode nos separar de Seu amor, e que Ele nos conduzirá à glória que nos prometeu. Esse é o tipo de vida sem medo que as doutrinas da perseverança e da glorificação de todos os crentes nos apresentam.
Não devemos ser paralisados pelo medo horizontal tampouco. O mesmo Senhor que trabalha incansavelmente para nos levar ao glorioso fim de nossa salvação também governa todas as situações, relacionamentos, experiências e locais de nossas vidas. Nosso Salvador está no controle de todas as coisas que poderiam nos confundir, desanimar ou assustar. Sim, sofreremos ao longo do caminho. Sim, experimentaremos tristeza e perda. Sim, ficaremos cansados e fracos. Mas nunca estaremos sozinhos. O Senhor Todo-Poderoso caminha conosco nesta jornada e não permitirá que nada nem ninguém impeça o sucesso do processo mais significativo do universo: a redenção.
Tudo o que Ele ordena para nós, Ele também vivencia conosco. Nenhuma circunstância será o nosso fim ou O derrotará. Se vivermos, seremos abençoados ao saber que Ele está em nós, por nós e conosco. Se morrermos, estaremos com Ele e seremos como Ele em glória. O medo é derrotado por Sua presença, poder, promessas e graça. As doutrinas da perseverança e da glorificação são lembretes constantes de que isso é verdade.
Pense em Moisés ao preparar Israel para atravessar o Jordão e entrar na terra prometida, que estava cheia de nações inimigas! Há encorajamento para todos os filhos de Deus, em qualquer tempo e lugar, nessas palavras:
7 Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? 8 E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje eu lhes proponho? 9 — Tão somente tenham cuidado e guardem bem a sua alma, para que vocês não se esqueçam daquelas coisas que os seus olhos têm visto, e elas não se afastem do seu coração todos os dias da sua vida. Vocês também contarão isso aos seus filhos e aos filhos dos seus filhos. 10 Não se esqueçam do dia em que vocês estiveram diante do Senhor, seu Deus, em Horebe, quando o Senhor me disse: “Reúna este povo, e os farei ouvir as minhas palavras, a fim de que aprendam a temer-me durante todos os dias em que viverem na terra e também as ensinem aos seus filhos.” 11 — Então vocês chegaram e ficaram ao pé do monte. E o monte estava em chamas que subiam até o céu, e havia trevas, nuvens e escuridão. 12 Então o Senhor falou a vocês do meio do fogo e vocês ouviram o som das palavras dele. Vocês ouviram a voz, mas não viram aparência nenhuma; só escutaram a voz. 13 Então ele anunciou a sua aliança, que ordenou a vocês, os dez mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra. 14 Ao mesmo tempo o Senhor ordenou que eu ensinasse a vocês estatutos e juízos, para que os cumprissem na terra que passarão a possuir. (Dt 4.7-14)
A pergunta que inicia esta passagem poderia ser feita a todos nós: Quem já teve um Deus tão próximo como o nosso Deus está de nós? Não temos medo, porque Deus está perto. Assim como os filhos de Israel, já vimos Deus manifestar Seu poder em nosso favor. Ele exerceu Seu poder não apenas para derrotar forças físicas e terrenas, mas para vencer o maior poder: o pecado e a morte.
Ouvimos Sua voz santa em Sua Palavra, falando palavras de sabedoria, vida e graça. Ele nos revelou Sua vontade e Seus caminhos. Mostrou-nos nosso problema mais profundo e Sua única solução. Ele nos falou na pessoa, palavras e obra de Seu Filho. Ele prometeu nos sustentar até o fim. E nos deu Seus mandamentos para nos atrair para perto, nos manter seguros e nos ensinar o que significa segui-Lo pela fé.
Que povo já teve um Deus tão próximo, tão sábio, tão amoroso, tão poderoso e tão fiel à obra que começou, como o nosso Deus?
Que a resposta óbvia a essa pergunta molde a maneira como nos relacionamos com Deus e como enfrentamos nossa jornada neste mundo caído até nosso destino final. Quando o medo se aproximar, que não olhemos para nós mesmos ou para nossas circunstâncias em busca de esperança e coragem, mas que olhemos para o alto e nos lembremos:
“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia.”
Fonte: TRIPP, Paul David. Do you believe? 12 historic doctrines to change your everyday life. Wheaton, Illinois: Crossway, 2021.
A perseverança e a glorificação não são apenas ideias teológicas para se estudar, mas verdades que devem moldar a forma como vivemos entre o “já” e o “ainda não” do Reino de Deus. Crer não é só concordar com a mente—é caminhar nessa fé todos os dias. Se aquilo que você diz acreditar não transforma sua vida, talvez sua fé não seja tão genuína quanto pensa. Então, vamos direto ao ponto: o que essas doutrinas significam na prática? Já vimos sobre motivação, esperança, compromisso e hoje vamos abordar “Confiança”.
Confiança
Observem a compreensão acessível das raízes de uma vida confiante, apresentada pelo compositor desse hino:
Quando os problemas vêm ao meu encontro
E não consigo distinguir a noite do dia
Quando sou jogado de um lado para o outro
Como um navio em uma maré furiosa
Não me preocupo, não me aflijo
Meu Deus nunca falhou comigo
Problemas vêm de tempos em tempos
Mas tudo bem, não sou do tipo que se preocupa, porque
Eu tenho confiança
Deus vai me ajudar a passar por isso
Não importa qual seja a situação
Eu sei que Ele vai resolver para mim
Jó esteve doente por tanto tempo
Até que sua carne caiu dos ossos
Sua esposa, gado e filhos
Tudo o que ele tinha se foi
Mas Jó, em seu desespero
Sabia que Deus ainda se importava
Dias sem dormir e noites sem sono
Mas Jó disse: “Tudo bem”, porque…
Algumas pessoas se perguntam como eu consigo sorrir
Mesmo quando estou passando por provações
Elas dizem: “Andraé, como você consegue cantar
Quando tudo está dando errado?”
Mas eu não me preocupo, não me aflijo
Meu Deus nunca falhou comigo
Os problemas vêm de tempos em tempos
Mas tudo bem, não sou do tipo que se preocupa, porque…
Perceba a rocha sobre a qual Crouch baseia sua confiança. Não é sua educação, seus dons musicais, sua capacidade de emocionar uma plateia, seu reconhecimento público ou até mesmo seu conhecimento bíblico. Não, ele não é a fonte de sua própria confiança.
Nós admiramos pessoas confiantes, pessoas que sabem quem são e o que são capazes de fazer. Amamos histórias de pessoas destemidas que enfrentam situações difíceis e realizam feitos incríveis. Porque todos nós queremos ter confiança, todos amamos histórias de heróis — e gostamos ainda mais quando se trata de um herói improvável. Gostamos de pensar que, nos momentos mais desafiadores e importantes, também nos levantaríamos com confiança.
Mas a Bíblia nos ensina que a crença inabalável na autoconfiança independente é uma ilusão. Nenhum de nós é tão forte a ponto de ser incapaz de ser derrotado. Nenhum de nós tem esse poder. Nenhum de nós tem esse controle. Diante das grandes dificuldades da vida, todos nós sabemos, no fundo do coração, o quanto somos pequenos. Mesmo as pessoas mais fortes são fracas diante dos desafios mais significativos da vida.
Então, onde se encontra a verdadeira confiança? Mais uma vez, as verdades que estamos considerando (ecoando na letra confessional de Andraé Crouch) nos apontam para a única direção correta: “Deus vai me ajudar a passar por isso.” Isso mesmo, Andraé, Ele vai — até um fim glorioso além da nossa imaginação. Assim, pequenos e fracos como somos, propensos a momentos de tolice, ora fiéis, ora falhando, seja quando nossos corações estão sintonizados com Deus ou quando se desviam, temos a maior razão para confiar.
Essa confiança transcende os limites da sabedoria humana, da autoridade e da força da justiça. É maior do que nossos maiores dons ou habilidades. É a confiança dos pais que desejam ser embaixadores de Deus na vida de seus filhos. É a confiança do estudante que se sente sozinho em uma enorme universidade. É a confiança da idosa que lida diariamente com as fraquezas da velhice. É a confiança do empresário bem-sucedido que resiste ao materialismo e ao orgulho do poder ao seu redor. É a confiança diante da tentação sexual. É a confiança quando a vida está difícil e Deus parece distante. É a confiança quando nada ao seu redor ou dentro de você inspira confiança.
As doutrinas da perseverança e glorificação dos santos nos falam sobre a presença e a incessante atividade redentora do nosso Salvador. Nossa confiança não está no nosso compromisso com Deus, mas no compromisso d’Ele conosco. Então, levantamos todas as manhãs e dizemos com Andraé Crouch: “Eu tenho confiança, Deus vai me ajudar a passar por isso.”
É assim que você encara os seus dias?
Fonte: TRIPP, Paul David. Do you believe? 12 historic doctrines to change your everyday life. Wheaton, Illinois: Crossway, 2021.
Na pastoral de hoje compartilharemos mais uma implicação real das doutrinas da perseverança e da glorificação.
Compromisso
As doutrinas da perseverança e da glorificação dos santos nos chamam a um compromisso sério: fazer tudo o que for necessário para amadurecer espiritualmente e perseverar até o fim. Essas doutrinas nos convocam a utilizar todos os recursos que Deus nos concedeu para nos aproximar d’Ele, nos manter seguros e nos engajar na grande obra do Seu Reino.
É possível consumir conteúdos cristãos (livros, músicas, conferências, cultos dominicais etc.) sem estar realmente comprometido com o próprio crescimento espiritual e a perseverança na fé. Podemos estar cercados de material cristão e, ainda assim, não ter uma vida moldada pela seriedade com que encaramos nossa santificação e o caminho rumo à glorificação.
Um verdadeiro estudante da Palavra buscará desenvolver um alto nível de conhecimento bíblico. Ele estudará para compreender o fluxo da narrativa do evangelho, que é o tema central das Escrituras. Um estudante comprometido estudará para conhecer, entender e aplicar as doutrinas essenciais da Bíblia. Ele também se aprofundará na Escritura para se defender contra ataques internos e externos à sua fé. Um discípulo sério da Palavra estudará para compartilhar sua fé com clareza, humildade, praticidade e alegria.
As doutrinas da perseverança e da glorificação também nos chamam a uma vida de oração comprometida. Muitos de nós reduzimos a oração a um breve momento pela manhã, a um pedido de socorro nas dificuldades e a um agradecimento antes das refeições. Infelizmente, muitos não enxergam a oração como uma ferramenta poderosa nas mãos de Deus, destinada a nos manter próximos e protegidos, a guardar nossos corações do pecado, a fortalecer nosso amor pelo Salvador e a nos envolver na obra do Reino, que transcende o tempo e as fronteiras geográficas. Quando não compreendemos a oração dessa forma, tendemos a tratá-la como um último recurso espiritual — algo a ser feito apenas quando todas as “outras alternativas” falham. No entanto, as Escrituras afirmam que “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.” (Tiago 5.16, NAA).
Orar é ter uma comunhão real e viva com o Rei dos reis. É ser convidado a entrar no Santo dos Santos, onde o Espírito Santo leva nossos gemidos ao Pai. A oração não é apenas falar sobre a obra do Senhor, mas participar ativamente dela. Há tantas coisas que precisam ser feitas e para
as quais não temos poder algum. A oração nos leva àquele que tem tanto o poder quanto a disposição de realizar a obra do Evangelho e produzir frutos que nenhum ser humano poderia gerar por si só.
Na oração, clamamos pelo que não podemos realizar por nós mesmos. Pedimos que Deus nos conceda olhos para ver o que o pecado nos impede de enxergar. Rogamos por uma rendição sincera do coração e por uma transformação que perdure. Suplicamos que Deus nos resgate de nós mesmos e nos conceda o desejo e a força para lutar contra a tentação. Mas não oramos apenas por nós — intercedemos pelos outros e pelo crescimento e saúde da igreja. Levamos ao Pai pessoas reais que enfrentam lutas reais e significativas. Apresentamos a Deus as necessidades específicas da Sua igreja. Ao fazer isso, seguimos o exemplo do Senhor, orando para que o nome de Deus seja reverenciado, para que o Seu Reino venha e para que a Sua vontade seja feita aqui e agora, onde Ele nos colocou. Na oração, fechamos nosso coração para a adoração ao mundo e o entregamos à adoração do nosso Pai celestial.
O tipo de oração que descrevo não pode ser feito em apenas alguns minutos de uma manhã agitada. Exige tempo, disciplina e compromisso, mas jamais deve ser visto como um fardo. Pelo contrário, a oração é um convite amoroso do Rei Salvador para participarmos da maior e mais importante missão à qual poderíamos nos dedicar: a redenção.
Poderia escrever sobre muitos outros compromissos que devem fazer parte da vida de um discípulo de Jesus Cristo — alguém que leva a sério sua perseverança e futura glorificação. O estudo da Escritura e a oração são apenas dois exemplos. Mas quero deixar um alerta: se você não investir tempo nos compromissos, hábitos e disciplinas que essas doutrinas exigem, outras coisas ocuparão esses espaços em seu coração e em sua agenda. Todos nós temos vidas ocupadas. Nossos dias estão cheios, e chegamos ao fim exaustos. Há tarefas diárias essenciais para manter nossa saúde física, financeira e relacional, mas será que todas essas responsabilidades estão sendo moldadas por um compromisso maior e transcendente? Quanto tempo e energia estamos realmente investindo em nosso crescimento na graça de Deus e em nossa perseverança?
Não podemos entender plenamente as doutrinas da perseverança e da glorificação sem perceber nelas um chamado ao compromisso — um convite para fazer da obra de Deus em nós e por nós a missão espiritual à qual também nos comprometemos.
Fonte: TRIPP, Paul David. Do you believe? 12 historic doctrines to change your everyday life. Wheaton, Illinois: Crossway, 2021.
As doutrinas da perseverança e da glorificação não são apenas conceitos teológicos importantes. Elas nos foram reveladas para que, entre o “já” e o “ainda não”, formem para nós um modo de viver. Lembre-se de que crer não é apenas uma questão de concordância mental, mas também um modo de viver. Se você não vive o que acredita, provavelmente não acredita no sentido bíblico do termo. Então, vamos traçar as implicações reais das doutrinas da perseverança e da glorificação com sete palavras.
Motivação
A Escritura nos ensina que os seres humanos são orientados por propósitos, metas e valores. Palavras na Bíblia como adoração, tesouro, ídolo e prêmio apontam para a verdade de que todos vivemos por algo. No nível do coração, sempre há uma razão para o que fazemos. Nossas ações são sempre motivadas por algo que consideramos importante, seja no casamento, na família ou nas escolhas diárias. Frequentemente, somos guiados por desejos pequenos e momentâneos, mas Deus nos chama para algo muito maior.
As doutrinas da perseverança e da glorificação nos oferecem uma motivação transcendente, lembrando-nos de que pertencemos ao reino eterno de Deus. No casamento, por exemplo, obedecer aos mandamentos divinos não apenas fortalece a relação, mas também molda nossos corações, permitindo-nos perseverar e confiar no poder sustentador de Deus. Quando ameaço meu filho com raiva, espero que o medo o leve a recolher seus brinquedos. Quando reclamo em voz alta sobre o jantar estar atrasado, espero que meu tom e volume motivem meu cônjuge a prepará-lo mais cedo. Quando buzino no trânsito, espero motivar os motoristas à minha frente a se moverem ou dirigirem mais rápido. É fácil reduzir sua vida a pequenos momentos de motivação e satisfação mesquinhos. Mas fomos salvos pela graça para algo muito maior e melhor do que essa forma de viver baseada no “o que posso obter deste momento?”. Fomos atraídos para a família do Rei dos reis, o Criador e Governante de tudo. Fomos habitados pelo seu Espírito e tornados sábios pela sua Palavra. Ele nos protege ativamente e nos fortalece pela graça. Fomos chamados a nos dedicar à obra do seu reino eterno. E caminhamos em direção a um destino seguro. Não podemos permitir que nossa vida seja guiada pelo que é pequeno e passageiro quando Deus nos chamou para algo grandioso, glorioso e eterno. Olhar para a glória futura nos ajuda a perseverar, mesmo diante dos desafios, pois sabemos que Ele completará Sua obra em nós.
Esperança
Todos nós cavamos através do monte de situações, locais, relacionamentos e experiências da nossa existência, procurando esperança. Buscamos razões para continuar, motivos para sermos encorajados e forças para a tarefa que temos diante de nós. A vida é difícil, repleta do não planejado, do inesperado e do indesejado. Como não estamos no controle, nossas vidas muitas vezes parecem estar fora de controle. As pessoas falham conosco, mas também falhamos conosco mesmos. Sonhos nos capturam, mas evaporam em decepção. Fazemos planos, mas muitas vezes eles não se concretizam como esperávamos. Até mesmo nossas igrejas muitas vezes se mostram menos do que esperávamos que fossem. Em um mundo caído, é impossível evitar completamente as decepções da vida. A falta de esperança tem a ver com a falta de Deus. Efésios 2.12 diz: “Naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.”
Viver sem Deus não apenas nos priva da forma mais profunda, encorajadora e fiel de esperança que poderíamos encontrar, mas também nos rouba de nossa própria humanidade. Pelo design do Criador, a própria essência de quem somos está conectada à essência de quem Deus é. Dessa forma, a existência de Deus se torna a ferramenta mais importante para interpretar a nós mesmos. Tudo na vida nos decepcionará de alguma forma, e, se colocarmos nossa esperança nessas coisas, essa esperança também nos decepcionará. Você pode estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com a verdade da perseverança e glorificação dos santos. A resposta está em um poderoso clímax do Evangelho no final de 1 Pedro. “E, depois de terdes sofrido por um pouco de tempo, o Deus de toda graça, que vos chamou para a sua glória eterna em Cristo, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. A ele seja o domínio para todo o sempre. Amém.” (1 Pedro 5.10–11)
Este é um texto sobre perseverança e glorificação. Pedro está ligando a esperança a um Deus que está em ação e que completará sua obra. Tudo o que Pedro chama os crentes a fazer e toda a esperança que devem ter ao fazê-lo estão ligados a esse Deus e ao seu compromisso inabalável de graça para com os seus. Perceba que Pedro não pinta um quadro irrealista ou excessivamente otimista da vida. Ele não nega a realidade. Ele reconhece que os santos sofrerão, mas também que, mesmo nos momentos mais sombrios, há alguém maravilhoso em ação, fazendo algo eternamente significativo que culminará em glória.
Não há rocha de esperança melhor do que a obra duradoura de Deus e sua consumação final na glória. O sofrimento não é definitivo; Deus é. O desânimo não é Senhor; Deus é. O fracasso não governa; Deus governa. A fraqueza não é Rei; Deus é. E a esperança em sua obra agora e na beleza extraordinária do que está por vir nunca o decepcionará.
Aqui está a pergunta: Você interpreta sua vida dessa maneira? Quando a vida o decepciona, para onde vai o seu coração e onde repousa sua mente? Você olha para sua vida através das lentes dos óculos do Evangelho?
Fonte: TRIPP, Paul David. Você acredita? 12 doutrinas históricas para transformar sua vida cotidiana. Wheaton, Illinois: Crossway, 2021.
A doutrina da perseverança dos santos, baseada em João 6.37-40 e 10.27-30, afirma que a salvação é obra completa de Deus, garantindo que ninguém pode nos arrancar de Suas mãos. Essa segurança, porém, não permite uma vida negligente, pois Deus utiliza meios como adoração, obediência e disciplinas espirituais para sustentar nossa fé. Mas, o que dizer sobre os crentes que se desviam?
A questão sobre os crentes que se desviam é dolorosa. Algumas pessoas, que antes pareciam verdadeiros crentes, como líderes ou amigos, abandonam a fé e afirmam não acreditar mais. Isso pode nos fazer questionar se também podemos cair. Existem dois grupos de pessoas nesse contexto. O primeiro grupo inclui aqueles que se desviam temporariamente, mas eventualmente retornam, após arrependimento. Devemos continuar em oração por essas pessoas, confiando no poder de Deus para restaurá-las, mantendo a verdade de Deus firme e oferecendo a mesma graça paciente que Ele nos concede. O segundo grupo de pessoas é composto por aquelas que inicialmente parecem conhecer o Senhor, amar a Sua palavra, servir a Deus e viver em obediência, mas que, tragicamente, abandonam a fé sem retornar. Isso levanta a questão sobre a segurança da salvação. O Pai falhou em guardá-las? O Bom Pastor perdeu uma de suas ovelhas? Nossa salvação não é segura?
Três passagens na Escritura abordam diretamente este segundo grupo de pessoas. Ao explicar sua famosa parábola do semeador, que retrata como as pessoas recebem a palavra, Jesus fala sobre a semente que caiu em solo rochoso: Leia Mateus 13.20-21. Quando Jesus diz “não tem raiz em si mesmo”, ele quer dizer que a Palavra de Deus não havia criado raízes no solo do coração dessa pessoa. Não produziu uma fé verdadeira e transformadora; ou seja, o poder do pecado no coração não foi quebrado pela graça. Não houve uma mudança nas mais profundas lealdades do coração, do serviço ao ego para a rendição a Deus. O Espírito não havia realmente habitado no coração dessa pessoa, capacitando-a e transformando-a. Se a Palavra não criou raízes em seu coração, você não é um dos filhos de Deus, embora possa parecer por um tempo.
Em outra ocasião, com palavras de advertência severa, Jesus amplia nossa compreensão desse segundo grupo de pessoas: Leia Mateus 7.21-23. É importante ouvirmos estas palavras: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus.” Isso inclui pessoas que parecem fazer “obras poderosas” em nome do Senhor. Por que não entrarão no reino dos céus? A resposta de Jesus é clara: “Nunca os conheci.” Isso significa que essas pessoas nunca foram ovelhas do Grande Pastor. Nunca foram filhos adotivos do Pai. Apesar de toda a sua aparente justiça e obras poderosas de ministério, nunca fizeram parte da comunidade dos redimidos. Se o Salvador não conhece você, então você não é um de seus filhos. É doloroso considerar isso, mas nem todo membro de uma igreja local visível é, de fato, membro da igreja invisível, o lar eterno de Deus.
Em sua primeira carta, João aborda este grupo com palavras breves, mas muito claras: “Eles saíram de nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; mas sua saída mostrou que nenhum deles era dos nossos.” (1 João 2:19) Essas palavras de João resumem bem os dois textos que já consideramos. Por que algumas pessoas abandonam a fé e nunca retornam? A resposta é que elas não eram crentes verdadeiras, apesar de parecerem, e seu afastamento revela sua falta de verdadeira fé.
Nunca foram filhos adotivos do Pai. Apesar de toda a sua aparente justiça e obras poderosas de ministério, nunca fizeram parte da comunidade dos redimidos. Se o Salvador não conhece você, então você não é um de seus filhos. É doloroso considerar isso, mas nem todo membro de uma igreja local visível é, de fato, membro da igreja invisível, o lar eterno de Deus.
Como devemos responder a esse grupo de pessoas? A resposta é: da mesma forma que respondemos ao primeiro grupo. Felizmente, não temos a capacidade de enxergar os corações das pessoas. Isso seria um fardo que não poderíamos suportar. Mas, por não termos essa habilidade, precisamos responder àqueles que abandonaram a fé com esperança no poder de Deus para atrair e convencer, com a mesma graça que Ele nos estendeu, com palavras de advertência amorosa, com o amor do Salvador e com oração paciente e perseverante. Ao fazermos isso, recebemos o afastamento deles não como uma ocasião para sermos orgulhosos, mas como um alerta para continuarmos correndo atrás da graça que nos alcançou.
Sim, o Senhor exercerá Seu poder soberano para guardar os Seus, mas isso não significa que devemos ser preguiçosos ou tomar nossa fé como algo garantido. O Deus que vai a extremos extraordinários para guardar Seus filhos usa meios ordinários para fazê-lo. Portanto, tornamos esses meios hábitos constantes em nossas vidas, até estarmos do outro lado, onde não precisaremos mais perseverar.
Fonte: TRIPP, Paul David. Você acredita? 12 doutrinas históricas para transformar sua vida cotidiana. Wheaton, Illinois: Crossway, 2021.
PERSEVERANÇA DOS SANTOS: UMA GRAÇA SUSTENTADORA
Jesus declara em João 6.37-40 que a salvação dos crentes é iniciada e sustentada pelo Pai. Ele afirma: “Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei”. Essa declaração reforça que a graça soberana nos atrai, nos mantém e nos conduz à vida eterna. Não somos mantidos por nosso próprio esforço, mas pelo poder de Deus. Jesus garante que ninguém pode nos arrancar de Sua mão, assegurando a segurança eterna dos crentes. Não somos nós que damos vida espiritual aos nossos corações mortos para que possamos crer, e não somos nós a fonte do poder espiritual para nos mantermos até o fim. Deus realmente é nosso refúgio e força.
Em João 10.27-30 o Senhor nos fala diretamente sobre nossa perseverança. Jesus acaba de declarar que Ele é o bom Pastor. Que imagem bela, capturando Seu amor, compromisso e proteção para com Seus filhos (ovelhas). Mesmo no meio dessa metáfora, as palavras de Jesus são inconfundivelmente claras. Não é difícil entender o que significam “elas jamais perecerão” e “ninguém pode arrancá-las da minha mão”. Você e eu perseveramos porque somos sustentados, pela graça, na mão soberana e onipotente do Pai. Ninguém jamais tirou ou tirará algo de nosso Pai celestial que Ele não tenha escolhido entregar.
O que essas passagens nos ensinam é que o poder que nos mantém é o poder do Senhor. Nossa salvação é iniciada por Ele, continuada por Ele e finalizada por Ele. Se tivéssemos o poder de fazer qualquer uma dessas coisas, a intervenção divina de graça no mundo não teria sido necessária. E se a estabilidade e a continuidade de nossa salvação dependessem de nós, então a vida cristã seria uma existência assustadora, cheia de medo e ansiedade. Com o pecado ainda dentro de nós e com corações propensos a se desviar, nunca teríamos certeza, sempre tentando ganhar e garantir nosso lugar, sem nunca ter plena convicção de que o conseguimos. Mas essas passagens são claras: cada parte do processo de nossa salvação repousa na vontade, no poder, no amor e na graça do Senhor. Descansamos porque o Bom Pastor manterá cada uma de Suas ovelhas para sempre.
SERÁ QUE A MANEIRA COMO VIVEMOS FAZ ALGUMA DIFERENÇA?
A doutrina da perseverança dos santos significa que um viver casual, preguiçoso e consumista é aceitável? Se estamos tão seguros, por que não aproveitar os prazeres do pecado por um tempo? A doutrina da perseverança dos santos não permite um viver casual ou indulgente no pecado, pois o poder sustentador de Deus não nos dá licença para desconsiderar Seu chamado, sabedoria e mandamentos. A Bíblia ensina que Deus usa meios regulares para nos sustentar, como a prática de um culto pessoal, a participação no culto público e o compromisso com a obediência aos mandamentos. Não somos mantidos pela força dessas ações em si, mas pelo poder de Deus que age através delas. A perseverança cristã é sustentada por hábitos regulares de vida cristã, como demonstrado em passagens como 1 Coríntios 9.24, Gálatas 6.9, Hebreus 10.36, Hebreus 12.1 e Apocalipse 3.11.
A maneira como vivemos como crentes é importante, pois Deus usa nosso compromisso e as disciplinas de fé, como trabalho, luta, obediência, confissão, arrependimento, adoração e estudo, para nos sustentar com Seu poder. Embora nenhuma dessas práticas seja suficiente por si só para nos manter, elas são ferramentas usadas por Deus para garantir nossa perseverança até o fim. A doutrina da perseverança não sugere que nossa forma de viver não importe, mas, ao contrário, nos chama a viver de maneira fiel e persistente.
CONCLUSÃO
A doutrina da perseverança dos santos é um grande consolo para os crentes. Ela nos lembra que não estamos sozinhos em nossa jornada de fé. Deus, o autor e consumador da nossa salvação, nos mantém seguros em Suas mãos. Essa verdade nos chama a uma vida de gratidão, obediência e fidelidade, sabendo que somos sustentados pelo poder de Deus até o dia em que estaremos com Ele na eternidade.
Aqueles que Deus aceitou por meio de Seu Filho amado, chamou eficazmente e está santificando pelo Espírito, não cairão da graça definitivamente, mas perseverarão nela até o fim, sendo salvos eternamente.
A perseverança dos santos não depende do livre-arbítrio humano, mas da escolha imutável de Deus, baseada em Seu amor livre e constante, no mérito e intercessão de Jesus, na habitação do Espírito e na semente divina plantada neles, além da natureza da aliança da graça. Disso decorre a certeza de sua perseverança.
Todavia, devido às tentações de Satanás, à corrupção interna e à negligência dos meios de Deus, os santos podem cair em pecado, enfrentando o desagrado divino, o impedimento de algumas bênçãos e confortos, o endurecimento do coração, sendo responsáveis por escândalo público e, portanto, passiveis de julgamento temporário.
Entretanto, se ele pertence ao Senhor, e o Santo Espírito habita nele, será levado ao arrependimento, e à confissão sincera, tomando o caminho que agrada a Deus, como fez Davi no Salmo 51. Sua queda não significa perda da salvação, presente dado pela graça de Deus em razão da obra perfeita de Jesus Cristo. Deus mesmo é quem garante a imperdibilidade.
Infelizmente, porque vivemos em um mundo decadente, em razão da queda, nós nos acostumamos com a decadência das coisas. Por mais invencível que a juventude pareça, nossos corpos físicos eventualmente enfraquecem, envelhecem. O carro novo que cheirava a novo logo se torna o carro usado que você pensa em trocar. Até mesmo os atletas mais incríveis não permanecem incríveis para sempre. Lesões ou a idade os diminuem, e sua habilidade e força certamente desaparecem.
Nossos relacionamentos não duram para sempre. O pecado pode causar um fim rápido e dramático ou corroer lentamente a confiança até não sobrar relacionamento algum. Às vezes a morte nos separa. A maioria das vezes, outras coisas da vida nos separam. Pense em todos os amigos ao longo dos anos com quem você agora tem pouco ou nenhum contato. Esperanças e sonhos morrem. Empregos e carreiras não duram para sempre. Igrejas vibrantes tornam-se monumentos religiosos vazios de uma comunidade espiritual que já não existe. O cachorro que você trouxe para casa viverá menos que você, e as flores do jardim murcharão e cairão.
Estamos tão acostumados com a transitoriedade das coisas que é difícil imaginar um presente que não pode ser tirado, que nunca desbota, mas torna-se mais belo. É difícil imaginar um presente que não decepciona com o tempo, mas cumpre sua promessa de nos abençoar com uma glória sem precedentes. É difícil para nós compreendermos com nossa imaginação o que a graça salvadora é capaz de fazer, pois é algo totalmente diferente de tudo o que já experimentamos.
Entretanto, olhando para a maravilha da graça salvadora de Deus somos impactados como poder de preservação (perseverança dos santos) e sua bênção final (glorificação dos santos). E nossa resposta de assombro diante do dom de Deus — sua graça salvadora, preservadora e vitoriosa — é de adoração em nossos corações, mas também uma vida de entrega, obediência e serviço alegre ao doador desse presente maravilhoso.
A perseverança dos santos descreve o processo pelo qual Deus mantém cada um de seus filhos adotivos, e a glorificação descreve a bênção final desse poder preservador.
A Perseverança de todos os que são salvos
Desde o início da tentativa de compreender a magnitude, o conforto e a praticidade dessa doutrina, é essencial entender que o fundamento da nossa perseverança é o amor. É o poder do amor que nos sustenta, mas aqui está o ponto essencial: não é o nosso amor por Deus que nos mantém até o fim, mas o amor inabalável de Deus por nós. Explorar a doutrina da perseverança é, na verdade, meditar na natureza, no trabalho e no poder do amor de Deus pelos seus. Romanos 8.28–39 é incrivelmente útil nesse sentido.
A obra redentora de Deus é imparável: A perseverança dos redimidos é garantida pela ação contínua de Deus, descrita em Romanos 8.29-30. O amor salvador de Deus, perfeito e imutável, não desiste e completa sua obra na vida daqueles que confiam em Jesus.
Deus exerce sua soberania para o bem redentivo de seus filhos: Em Romanos 8.28, Deus garante que tudo coopera para o bem daqueles que O amam, com um propósito redentor. O controle divino é exercido para assegurar as bênçãos da salvação até a glória final.
Deus suprirá tudo o que seus filhos precisam: Baseado na certeza do amor de Deus e da nossa segurança em Cristo, Paulo afirma que, se Deus não poupou nada para nos trazer a Ele, certamente não nos abandonará durante nossa jornada, provendo tudo o que precisamos.
Ninguém pode trazer acusações contra os filhos de Deus: Nenhuma acusação pode prevalecer contra os filhos de Deus, pois, em Cristo, fomos justificados e perdoados. A culpa condenatória e as dúvidas espirituais são mentiras, pois Deus declarou que somos aceitos e perdoados.
Nada pode separar os filhos de Deus de seu amor: Em Romanos 8:35-39, Paulo afirma que nada, seja no céu ou na terra, pode nos separar do amor de Deus em Cristo. Esse amor redentor é eterno e nos mantém firmes até o fim.
Jesus reforça essa verdade em João 5:24, 6:37–40 e 10:27–30, declarando que aqueles que são dados a Ele pelo Pai jamais serão perdidos e que ninguém os tirará de sua mão. Ele é o bom pastor que nos mantém firmes pela graça soberana.
Essa doutrina, embora assegure nossa segurança, não nos dá licença para viver de maneira negligente. Deus utiliza meios regulares, como a adoração pessoal e comunitária, para nos preservar. Nossa perseverança não é resultado de nossos esforços, mas do poder e da graça de Deus.
A conclusão é clara: cada parte do processo da nossa salvação repousa na vontade, no poder, no amor e na graça do Senhor. O Bom Pastor manterá cada uma de suas ovelhas para sempre.
Fonte: TRIPP, Paul David. Do you believe? 12 historic doctrines to change your everyday life. Wheaton, Illinois: Crossway, 2021.
Eis o lema para a nossa igreja em 2025: “Preservando a unidade para cooperação na missão.” E nesse primeiro domingo do ano, somos conclamados a renovar nosso compromisso com a missão de Deus no mundo. Todo redimido por Cristo Jesus está em missão. Enquanto vivermos neste mundo, esse será o nosso chamado. No entanto, para cumprir essa sublime tarefa, é fundamental que tenhamos consciência de que Deus nos uniu em Seu Corpo, a Igreja. Somos uma só família, unida pela obra de Cristo, e Ele nos comissionou a trabalhar pela preservação dessa unidade. O nosso avanço, tanto na fé quanto na missão, será alcançado quando reconhecermos a importância de viver unidos para cooperar. Há um ditado africano que diz: “A união do rebanho obriga o leão a ir dormir com fome.” Este ensinamento ressoa profundamente na vida e na missão da Igreja, especialmente no que se refere à preservação da unidade no Corpo de Cristo. A Bíblia nos ensina que essa unidade é, ao mesmo tempo, um reflexo do caráter de Deus e uma arma poderosa contra os ataques do inimigo. Como o rebanho de Cristo, nossa comunhão e cooperação não só frustram os planos do mal, mas também exaltam o nome de Deus e impulsionam a missão do Evangelho. Unidos, somos mais fortes; juntos, glorificamos ao nosso Bom Pastor e levamos Sua luz ao mundo.
MAS, O QUE ESSA UNIDADE SIGNIFICA?
A unidade da igreja é uma dádiva de Deus, operada pela obra do Senhor Jesus e sustentada pela presença do Espírito Santo. O apóstolo Paulo nos exorta: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Efésios 4.1-3).
Essa unidade, portanto, é um testemunho de que, em meio à diversidade de dons, personalidades e experiências, somos chamados a ser um só corpo, com um só Senhor, uma só fé e um só batismo (Efésios 4.4-5).
A Trindade nos oferece o exemplo perfeito de unidade. Deus Pai, Filho e Espírito Santo cooperam em harmonia para realizar Seus propósitos redentores. Assim como Jesus orou para que fôssemos um, assim como Ele e o Pai são um (João 17.21), somos convidados a refletir essa unidade divina em nossas relações.
A unidade da igreja é também uma expressão da obra reconciliadora de Cristo Jesus. Pelo Seu sacrifício, Ele desfez as barreiras entre judeus e gentios, formando um novo povo para Deus (Efésios 2:14-16). Essa reconciliação é o fundamento da busca pela superação de divisões, perdão de ofensas e cooperação no trabalho, de modo que a igreja seja um reflexo visível da graça de Deus.
APLICAÇÕES PARA A IPBETEL:
Ao olharmos para 2025, precisamos nos comprometer com atitudes práticas que preservem a unidade da nossa igreja e fortaleçam nossa cooperação na missão:
1. Cultivemos o amor fraternal: Devemos nos esforçar para tratar uns aos outros com graça, paciência e respeito, sabendo que somos imperfeitos, mas chamados a crescer juntos em Cristo.
2. Valorizemos os dons espirituais: Cada membro da igreja tem um papel indispensável na obra de Deus. Encorajemos uns aos outros a exercer os dons espirituais para edificação mútua e expansão do Reino.
3. Resolvamos conflitos com prontidão: Onde houver divergências, sejamos rápidos em buscar reconciliação, lembrando-nos das palavras de Paulo: “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Romanos 12.18).
4. Mantenhamos o foco na missão: Não permitamos que distrações ou questões secundárias nos afastem do meio pelo qual as pessoas serão levadas à admiração de Jesus Cristo, isto é, o anúncio do Evangelho e o discipulado.
Que neste novo ano, possamos avançar com ânimo renovado, firmados na graça de Deus e comprometidos com a preservação da unidade para cooperarmos eficazmente na missão. Unidos no Senhor, seremos instrumentos poderosos para a glória do Seu nome e a edificação do Seu povo.
No amor de Cristo Jesus,
Rev. Samuel Santos Bezerra.
Baseados em Do You Believe? 12 Historic Doctrines to Change Your Everyday Life (O que você crê? 12 Doutrinas históricas para transformar sua vida cotidiana), abordaremos o trabalho do Espírito Santo na vida daqueles que nasceram de novo, no processo que chamamos de “Santificação”.
A Doutrina da Santificação
Aqueles que Deus chamou e regenerou de maneira eficaz, recebendo um novo coração e um novo espírito, são continuamente santificados. Este processo é real e pessoal, realizado por Deus por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo, além de Sua Palavra e Espírito que habitam neles. Nesse processo, o domínio do pecado é destruído, e os desejos pecaminosos são progressivamente enfraquecidos e mortificados. Simultaneamente, eles são fortalecidos pela graça salvadora para buscar a verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor. A santificação é, portanto, o meio pelo qual Deus forma verdadeira justiça em nós, tornando-nos, na prática, o que Ele já declarou sermos em Cristo: justos.
Trata-se de uma obra contínua que expõe a necessidade de intervenção divina.
Mesmo sendo perdoados e adotados como filhos de Deus, ainda carregamos os resquícios do pecado. Reconhecer isso é essencial, pois a santificação rejeita a complacência e exige transformação. Não somos suficientes por nós mesmos; apenas a graça divina pode nos moldar à imagem de Cristo.
Este processo não é um simples acúmulo de conhecimento teológico, mas uma transformação do coração e da vida. A santificação restaura o caráter e conforma o cristão à imagem de Jesus, mantendo sua personalidade e dons naturais, mas renovando-o pela graça.
Graça
Embora Deus nos chame a nos dedicar ao crescimento espiritual, a obra da santificação pertence a Ele. Leitura da Palavra, oração, pregação, ensino das Escrituras, sacramentos, culto público e comunhão cristã são ferramentas da graça santificadora de Deus, mas não produzem santificação sem o poder transformador do Deus da graça salvadora. Não somos mais capazes de nos santificar do que de nos justificar. Para vencer progressivamente o pecado e amadurecer espiritualmente, dependemos completamente de nosso Salvador.
Dois textos bíblicos esclarecem o processo de santificação:
1. Filipenses 2:12-13 destaca a cooperação entre o esforço humano e a obra de Deus. O apóstolo nos chama a obedecer e buscar tudo o que temos em Cristo, mas deixa claro que nossa santificação não depende apenas de nós, mas da graça poderosa e ativa de Deus, que transforma nossa vontade e desejos.
2. Filipenses 1:6 afirma que Deus completará a boa obra que começou em nós. O apóstolo Paulo não confia em nossa capacidade de cumprir as exigências espirituais, mas na fidelidade de Deus em nunca abandonar Seu trabalho redentor.
Por que isso é crucial?
Embora sejamos chamados a obedecer e levar nossa salvação a sério, enfrentamos o problema do pecado remanescente em nossos corações. O pecado nos torna inconstantes, distraídos e até questionadores da bondade de Deus. Se a santificação dependesse apenas de nós, seria impossível. Por isso, Deus, além de nos perdoar e adotar, habita em nós por meio do Espírito Santo, resgatando-nos e nos fortalecendo continuamente.
Trabalho e descanso na vida cristã:
Embora devamos nos esforçar espiritualmente, nunca podemos nos esquecer de que nosso descanso está na obra completa de Cristo. Hebreus 4.9-11 nos lembra do descanso sabático encontrado na certeza de que Deus está em nós, agindo para nos transformar. Ele faz o que não podemos fazer sozinhos, usando Sua graça enquanto trabalhamos para produzir crescimento espiritual.
Resumo prático:
Comece cada dia orando pela graça santificadora e, com o coração em descanso, dedique-se ao trabalho espiritual. A graça de Deus garante que, ao final, seremos moldados à imagem de Cristo.
Baseados em Do You Believe? 12 Historic Doctrines to Change Your Everyday Life (O que você crê? 12 Doutrinas históricas para transformar sua vida cotidiana), destacaremos o fundamento da justificação e a relação com a encarnação do Verbo Eterno de Deus.
Rev. Samuel S Bezerra
O NATAL E A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO
No centro da vida e da cultura de Israel estava uma cena de violência e sangue diários. Essa cena de sangue jorrando, animais resistindo e gritos selvagens de morte fazia parte da vida cotidiana. A cena dos sacerdotes, cobertos de sangue enquanto lutavam para sacrificar um enorme touro ou cortar o cadáver sem vida de um cordeiro, era algo normal. O sangue nunca parava de jorrar e os animais nunca paravam de morrer dia após dia. É brutal e angustiante de se considerar. Já abati galinhas em uma fazenda, e sei o quão sangrento, fedorento e nojento é, mas essa experiência não se compara à rotina diária de Israel.
Cada gota de sangue de animal era um lembrete da enorme distância entre um Deus perfeitamente santo e seu povo consistentemente impuro. Cada bramido ou balido de um animal enquanto era abatido era um clamor por um sacrifício melhor, que finalmente satisfaria os justos requisitos de um Deus Santo. Cada passo do sacerdote, enquanto ele caminhava até o tabernáculo para fazer seu trabalho sangrento e fedorento mais uma vez, era um sinal de que algo mais era necessário. Cada vez que uma família israelita escolhia o cordeiro apropriado para o sacrifício, era um lembrete de que Deus é santo e nós não somos. O sacrifício sangrento e barulhento de cada animal confrontava cada israelita com a verdade de que era o seu pecado que causava a morte daquele animal. A violência, o sangue, os odores horríveis e a repetição de tudo isso eram um clamor profético por um Cordeiro Messias. Esse sistema sangrento não terminaria com uma declaração divina de aceitação irrestrita; não, seria necessário um sacrifício para pôr fim a esse sistema de sacrifícios intermináveis.
Você deve sentir uma tensão profunda ao ler Êxodo, Levítico e Números. Essa tensão deve parar você, chamar sua atenção e deixá-lo desconfortável. É a tensão da qual ninguém em Israel conseguiu escapar. É uma tensão que não podemos escapar por nós mesmos também. É a tensão que o pecado introduziu no mundo. Essa tensão é a trilha sonora melancólica da vida em um mundo caído. Você a ouve pela primeira vez no jardim, quando Adão e Eva se escondem de Deus. Você sabe imediatamente que algo horrível deu errado. Pessoas feitas para ter relacionamento com Deus não deveriam querer ou precisar se esconder dele. Você não consegue olhar para aquela cena no jardim sem concluir que algo profundamente significativo está errado e precisa ser corrigido, ou a vida nunca será o que foi projetada para ser.
Aqui está a tensão. Como pode um Deus perfeitamente santo ter comunhão com um povo constitucionalmente impuro? Como pecadores poderão algum dia ter comunhão com aquele para quem foram feitos? Se o relacionamento com Deus está no centro da identidade, significado e propósito humanos, que tipo de vida perdida e insana terão os seres humanos sem isso? Deus será capaz de superar essa enorme lacuna destruidora de vidas causada pelo pecado, e se ele for, como ele o fará? É aqui que a tensão se intensifica. Como Deus estenderá sua misericórdia para aqueles que ama sem comprometer sua santa justiça? Como a misericórdia e a justiça podem, de alguma forma, trabalhar juntas? A resposta é que sacrifícios devem ser feitos para satisfazer os requisitos da justiça de Deus, para que ele possa estender a misericórdia de seu perdão aos pecadores. O problema com os sacrifícios do Antigo Testamento é que a satisfação que eles ofereciam era, infelizmente, temporária. Claramente, um sacrifício maior e final era necessário para que a justificação dos pecadores fosse definitiva e completa. Todo o antigo sistema, com todo o seu sangue e horror, era um clamor diário pelo Cordeiro final do sacrifício, Jesus.
O que precisava ser feito para a salvação humana, nenhum ser humano poderia realizar. Apenas Deus poderia fazê-lo, e isso através de três milagres gloriosos de graça: a encarnação do Filho, sua vida perfeita, morte sacrifical e ressurreição. Na vida, morte e ressurreição de Jesus, a tensão entre a justiça de Deus e sua misericórdia é resolvida. Jesus veio como o segundo Adão, vivendo a vida justa que o primeiro falhou em viver, e sendo nosso sacrifício pelo pecado. Sua obediência substitutiva e seu sacrifício nos permitem ser justificados, totalmente perdoados e em paz com Deus, algo que nenhum pecador poderia conquistar sozinho. Isso se reflete nos versículos de Romanos 5:1-2, 5:6-11 e 1 Coríntios 2:2, que celebram a misericórdia e reconciliação de Deus por meio de Jesus Cristo, que fez possível nossa salvação e justificação.
Portanto, se você foi conduzido a Cristo Jesus e O recebeu como seu Salvador, celebre, adore-O e viva em obediência amorosa, pois você foi declarado justo pelo sacrifício perfeito da oferta perfeita, que é, ao mesmo tempo, o perfeito ofertante.
Baseados em Do You Believe? 12 Historic Doctrines to Change Your Everyday Life (O que você crê? 12 Doutrinas históricas para transformar sua vida cotidiana). Hoje abordaremos o tema do pecado. Nossos primeiros pais, seduzidos pelas mentiras sutis e tentadoras de Satanás, pecaram ao comer o fruto proibido por Deus. Como consequência desse pecado, caíram de sua justiça original e comunhão com Deus, tornando-se mortos em pecado e completamente corrompidos em todas as faculdades e em todo o seu ser, alma e corpo. Referências bíblicas: Gênesis 2.16–17; 3.12–13; 6.5; Jó 14.4; Salmos 51.1–5; Eclesiastes 7.20; Jeremias 13.23; 17.9; Ezequiel 14.1–5; Mateus 5.28; 15.19; Lucas 6.43–45; Romanos 1.28–32; 3.9.23; 5.12–19; 6.20; 7.18–23; 8.7; 1 Coríntios 6.9–10; 15.21–22.45–49; 2 Coríntios 11.3; Gálatas 5.19–21; Efésios 2.1–3; Colossenses 1.21; 3.5; 1 Tessalonicenses 1.10; Tito 1.15; Hebreus 2.14–15; Tiago 1.14–15; 4.17; 1 João 1.8.1. Por que é tão importante entendermos esse tema? É o que veremos hoje. Deus nos abençoe.
Pr. Samuel S Bezerra.
A doutrina do pecado
A doutrina do pecado é central para a fé cristã e define a visão que temos de Deus, da humanidade e do mundo. Se rejeitarmos a ideia de pecado, não vemos necessidade da lei moral de Deus, da graça redentora de Cristo ou do trabalho da igreja. O pecado é amplamente ignorado em nossa cultura, mas suas consequências devastadoras são evidentes em áreas como injustiça, corrupção e problemas pessoais.
narrativa bíblica do Éden mostra como Satanás seduziu Eva com a ideia de autonomia e sabedoria independentes de Deus. O desejo de Eva por essa autonomia levou à queda da humanidade, introduzindo o egoísmo como a essência do pecado. Esse egoísmo transforma o mundo ao nosso redor em algo centrado em “meus desejos, necessidades e sentimentos”, substituindo a Trindade Santa por um “eu sagrado”. A idolatria do “eu” está na raiz de todos os pecados e problemas humanos, e somente a graça redentora de Deus pode curar os efeitos devastadores do pecado.
No Salmo 51.1-3, Davi revela a compreensão da nossa condição. O texto aborda três palavras bíblicas usadas para descrever o pecado: iniquidade, transgressão e pecado, destacando suas nuances e implicações.
Iniquidade refere-se à impureza moral inerente à nossa natureza desde o nascimento. O pecado não é apenas um comportamento errado, mas uma condição inata que nos torna incapazes de nos livrar dele por esforço próprio, necessitando da graça de Deus para redenção.
Transgressão é a rebelião consciente contra a autoridade de Deus, quando desobedecemos deliberadamente suas leis. Ela reflete uma ruptura relacional com Deus que leva à violação moral.
Pecado, por fim, é falhar em alcançar o padrão perfeito de Deus, demonstrando nossa completa dependência de sua graça redentora.
Essas definições enfatizam que o pecado é mais do que ações; é uma condição que só pode ser vencida pela intervenção de Deus em Cristo.
O pecado é uma questão do coração
Uma teologia do pecado exige sempre uma teologia do coração. O salmo 51, como mencionado anteriormente, exemplifica isso, com Davi reconhecendo que seu problema com o pecado reside no coração, nos pensamentos e desejos. Davi clama por purificação do coração porque entende que seu comportamento só pode mudar quando seu coração for transformado. Ele sabe que o que fez de errado não foi causado por fatores externos, mas por aquilo que estava dentro dele.
O fato de que o pecado sempre se origina no coração destrói a esperança em sistemas de auto-reforma. Afirmações como “Vou melhorar da próxima vez” ou “Agora sei o que fazer para evitar isso no futuro” são ilusões, porque o problema do pecado está no nosso coração. Além disso, a tendência de culpar fatores externos—como um chefe difícil ou um ambiente estressante—também não resolve o problema. Precisamos reconhecer humildemente que nossa maior dificuldade é o nosso próprio coração, que nos leva ao pecado.
A mudança verdadeira, portanto, nunca vem de nós mesmos, mas é sempre uma ação da graça divina. Devemos correr para o nosso Salvador, buscando a transformação que somente Ele pode oferecer. Em nossos relacionamentos, seja no casamento, na família ou na comunidade, é fundamental entender que o que o pecado quebrou no coração do outro, não podemos mudar. Devemos buscar ser instrumentos nas mãos de Deus para a transformação do outro, reconhecendo que Ele é o único agente de mudança confiável.
O pecado, descrito na Bíblia, é o centro da doutrina cristã. Ele não é apenas um erro moral, mas uma rejeição de Deus e um desejo de autonomia que começou no Éden. Satanás enganou Eva com a promessa de ser como Deus, e seu pecado abriu caminho para a corrupção humana. O pecado é uma pandemia espiritual que afeta todos os aspectos da vida humana, substituindo Deus pelo “eu” no centro de tudo. Somente a intervenção divina pode redimir e restaurar o que foi destruído pelo pecado.
Baseados em Do You Believe? 12 Historic Doctrines to Change Your Everyday Life (O que você crê? 12 Doutrinas históricas para transformar sua vida cotidiana), damos prosseguimento a abordagem preparatória para a celebração do Natal, reafirmando a razão e o fundamento desse evento glorioso. Hoje trataremos sobre a doutrina da Imago Dei. Refletir sobre esse assunto é essencial porque ele define a dignidade e o propósito do ser humano como representante de Deus na criação. Há questões fundamentais aqui envolvidas: Quem somos, como nos relacionamos com Deus, uns com os outros e com o mundo. No contexto da redenção realizada por Cristo, a imago Dei ganha profundidade, pois Ele é a perfeita imagem de Deus que restaura o que foi distorcido pelo pecado. Assim, em Cristo, o chamado original para governar e refletir a glória de Deus é redimido, capacitando-nos a viver como filhos que manifestam os valores do Reino em submissão e adoração ao Criador. Que Deus nos abençoe, em Cristo Jesus, seu pastor e amigo, Rev. Samuel S Bezerra.
A DOUTRINA DA IMAGEM DE DEUS NO SER HUMANO
Depois de Deus criar todas as outras criaturas, Ele criou as pessoas, homem e mulher. Ele os projetou com almas racionais e mortais, e os dotou de conhecimento, justiça e verdadeira santidade, conforme a sua própria imagem. Adão e Eva tinham a lei de Deus escrita em seus corações e foram criados com o poder de cumpri-la, mas também com a possibilidade de transgredi-la. Eles tinham liberdade de vontade, que era sujeita a mudanças. Além da lei escrita em seus corações, Deus lhes ordenou que não comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal. Enquanto obedecessem a esse mandamento, seriam felizes em sua comunhão com Deus. Veja Gn 1.26–27, 2.7, 3.6, 5.3, 9.6; Ec 7.29; At 17.26–28; Rm 2.14–15, 8.29; 1Co 11.7; 2Co 3.18; Ef 4.23–34; Cl 3.10; Tg 3.9.
Há outro aspecto no significado de ser imagem de Deus, isto é, ser criado para governar, mas esse domínio não é independente. Deus projetou a humanidade para exercer poder representando Seu coração e vontade na terra. Esse governo deve ser realizado por meio de Deus, em obediência a Ele, refletindo Seus valores divinos nas relações humanas e com a criação. Para agradar ao Criador, o exercício do domínio exige submissão e adoração a Deus.
O VALOR HUMANO:
As Escrituras apontam elementos como relacionamento, propósito, função e destino humano para a compreensão da Imagem de Deus no ser humano. O valor humano não depende de realizações, raça, riqueza, beleza ou habilidades. Esquecer que cada pessoa é portadora da imagem de Deus leva à desumanização e a atos que desonram o Criador. Líderes poderosos e as pessoas mais humildes compartilham essa dignidade. Todos os humanos, em qualquer circunstância, são portadores da imagem divina, o que deve moldar como pensamos e nos relacionamos com os outros.
RELACIONAMENTO:
Deus nos criou para viver em comunidade, porque Ele próprio é relacional – Pai, Filho e Espírito Santo. A imagem de Deus em nós significa que fomos feitos para amar a Deus e ao próximo. O verdadeiro sucesso na vida não está em realizações materiais, mas em viver com amor para Deus e para o próximo. Paulo descreve o amor em 1 Coríntios 13 como paciente, bondoso e eterno. Precisamos avaliar se nossos relacionamentos refletem o valor que damos ao amor e confessar nosso egoísmo, buscando a graça para viver em comunhão com Deus e com os outros.
MORALIDADE:
Adão e Eva foram criados como reflexo da perfeição moral de Deus, mas essa perfeição foi destruída pelo pecado. Embora o senso moral humano ainda exista, ele está distorcido. Essa inclinação moral aponta para a cruz de Cristo, onde Ele obedeceu perfeitamente à lei e tomou sobre si a penalidade do pecado, oferecendo-nos renovação. Pela graça, um dia seremos restaurados à perfeição moral em Cristo.
ESPIRITUALIDADE:
Desde o nascimento, somos seres espirituais, criados à imagem de Deus para conhecê-lo, amá-lo e adorá-lo. Mesmo afastados de Deus, buscamos preenchimento espiritual em coisas criadas, o que leva à decepção e insatisfação. Fomos projetados para encontrar plenitude em Deus, mas ao tentar substituir Deus por ídolos, caímos em frustração.
A espiritualidade nos capacita a nos comunicar com Deus, pensar sobre Suas palavras, sentir alegria em Seu amor e odiar o pecado. Quando vivemos longe de Deus, a espiritualidade desordenada nos leva a um ciclo de busca e desespero. Somente em comunhão com Deus experimentamos o propósito pleno para o qual fomos criados.
APLICAÇÕES PARA A VIDA:
A perda de visão sobre a dignidade humana feita à imagem de Deus é a causa de muitos conflitos e sofrimentos relacionais. A identidade e o valor do ser humano não podem ser encontrados em coisas horizontais como status, riqueza ou realizações. A verdadeira identidade é dada verticalmente, a partir da criação e da cruz de Cristo. Buscamos significado em nossas vidas quando esquecemos nossa origem divina, o que leva à desvalorização de outros e à perpetuação de conflitos. Cada ser humano tem valor intrínseco como imagem de Deus e deve ser tratado com dignidade. O reconhecimento dessa verdade é crucial para restaurar a harmonia e a compreensão em nossas relações.
Cada aspecto da teologia das Escrituras aponta para a cruz de Jesus Cristo. A imagem de Deus, inicialmente revelada na humanidade, é perfeitamente encarnada em Jesus, o Filho de Deus e Filho do Homem. Em Sua vida, Jesus mostra a plena expressão da imagem de Deus, intocada pelo pecado. Suas ações, palavras, pensamentos e desejos refletem uma justiça perfeita, tornando-O o máximo portador da imagem de Deus.
Por meio de Jesus, vemos o que um dia nos tornaremos — totalmente restaurados à imagem de Deus, vivendo em perfeita expressão para sempre.
Baseados em Do You Believe? 12 Historic Doctrines to Change Your Everyday Life (O que você crê? 12 Doutrinas históricas para transformar sua vida cotidiana), damos prosseguimento a abordagem preparatória para a celebração do Natal, reafirmando a razão e o fundamento desse evento glorioso. Iniciamos (domingo retrasado), tratando sobre a teontologia, mostrando quem Deus é, e hoje veremos a aplicação dessa doutrina para a nossa vida diária. Que Deus nos abençoe, em Cristo Jesus, seu pastor e amigo, Rev. Samuel S Bezerra
A DOUTRINA DA CRIAÇÃO
Os capítulos de Gênesis 1 e 2 nos apresentam a majestade da criação e devem nos levar à admiração e adoração. Eles não são descrições científicas detalhadas, mas narrativas teológicas que colocam Deus no centro de tudo. As palavras “No princípio, Deus criou os céus e a terra” definem nossa identidade, dignidade e o propósito da vida. O ato criador de Deus é algo tão grandioso que passaremos a eternidade tentando entender sua glória.
A doutrina da criação revela que Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, criou o universo do nada, declarando que tudo o que fez era muito bom. A criação exibe o poder, a sabedoria e a bondade eternos de Deus. A magnitude desse ato é incompreensível para os seres humanos, pois, ao contrário de nós, que lutamos para criar algo mesmo com materiais e instruções, Deus criou tudo com Sua palavra e vontade. A criação não deve ser lida de maneira monótona ou impessoal, mas deve nos maravilhar e nos levar à adoração.
Se Deus não é o Criador, todo o fundamento da teologia bíblica desmorona. Sem a criação, não há promessas, lei, evangelho ou esperança de eternidade. A doutrina da criação estabelece Deus como o centro da realidade e define quem somos e o propósito de nossa existência. Dizer que Deus criou o universo é afirmar que Ele é Deus, sem rivais ou comparação. Ninguém pode reivindicar Seu poder ou sabedoria. Se alguém tentasse criar um mundo, faltar-lhe-ia o poder de realizá-lo. A criação define toda a realidade, e, se Deus criou o mundo, Ele é digno de nossa admiração, submissão e obediência constantes.
PROPÓSITO
O conceito de propósito é central para entender tanto a existência humana quanto a criação. Assim como um pintor que trabalha com uma visão, Deus criou tudo com um propósito específico. Os seres humanos foram criados com um propósito divino que transcende a felicidade pessoal, o sucesso material ou o poder. Em vez disso, o propósito da vida é alinhar-se ao design de Deus, servi-Lo e cumprir o papel que Ele planejou para nós. A Bíblia atua como um guia para esse propósito, oferecendo visão sobre a vontade de Deus, as consequências de ignorá-la e a maneira como Ele nos restaura por meio de Jesus.
Em termos de propriedade, Deus é o Criador de tudo, e como tal, Ele é o legítimo proprietário do mundo e de tudo o que nele existe. Os seres humanos não são os donos, mas sim mordomos ou administradores da criação de Deus. Isso inclui o meio ambiente, os animais e os seres humanos. A responsabilidade de cuidar da criação e uns dos outros é um chamado que honra Deus como o proprietário supremo. Também somos lembrados de que não somos donos de nossa própria vida. Cada parte do que somos pertence a Deus, e uma vida bem vivida reconhece a Sua propriedade. A doutrina da criação também trata da autoridade. Como Deus é o Criador, Ele detém autoridade suprema sobre tudo. Toda autoridade humana—seja de pais, líderes ou autoridades—deve ser exercida como uma representação da autoridade de Deus. A autoridade humana não é independente, mas deve refletir os propósitos e o caráter de Deus. Aqueles em posição de autoridade são responsáveis perante Deus, o que enfatiza a necessidade de humildade e submissão ao Seu domínio final. Mesmo os líderes mais poderosos devem reconhecer sua dependência da autoridade de Deus.
Por fim, a doutrina da criação nos leva à graça de Jesus, que nos ajuda a viver de acordo com o propósito e a propriedade de Deus. Através Dele, encontramos a força para viver para a glória de Deus, e não a nossa, e para exercer a autoridade de forma justa, refletindo o amor e a sabedoria de Deus.
ADORAÇÃO E HUMILDADE
A descrição da criação, que é a primeira coisa que encontramos na Bíblia, tem um propósito poderoso. Ela nos apresenta um Deus glorioso, poderoso e soberano, que cria o universo com suas palavras, revelando sua majestade desde o início. Esse espetáculo de glória tem como objetivo nos maravilhar e nos levar à adoração, nos lembrando do propósito para o qual fomos criados: adorar a Deus. A adoração não é apenas uma atividade religiosa, mas a nossa identidade. Somos feitos para adorar, e a maneira como adoramos molda nossos desejos mais profundos e nossas motivações mais fortes.
No processo de adoração, encontramos não apenas a Deus, mas também a nossa verdadeira identidade. O ato de adorar revela quem somos e nos coloca no nosso lugar diante de Sua grandeza. A adoração é uma oferta de nossas vidas a Deus, reconhecendo que Ele é o único digno de toda a glória.
Além disso, a doutrina da criação também nos ensina humildade. Ela nos liberta de nosso egocentrismo, lembrando-nos de que o mundo não começou conosco e que nada do que existe foi criado por nossa própria vontade. Deus é o autor da história da vida e a grande estrela que domina o palco. Tudo vem d’Ele, aponta para Ele e retorna a Ele. Reconhecer isso nos liberta da ilusão de nossa própria grandeza e nos convida a depender de Deus, abandonar a busca por nossa própria glória e nos render a Ele.
A graça divina começa no relato da criação e continua ao longo da história da salvação, sendo revelada já em Gênesis 1. A glória de Deus é ao mesmo tempo um chamado para a misericórdia e redenção. Deus nos confronta com Sua grandiosidade e, ao nos humilhar, estende Sua graça para que possamos encontrar nossa vida em rendição a Ele. A criação não é apenas para a glória de Deus, mas também para o nosso bem eterno, pois Ele planejou a redenção para nos trazer à Sua presença.
Baseados em Do You Believe? 12 Historic Doctrines to Change Your Everyday Life (O que você crê? 12 Doutrinas históricas para transformar sua vida cotidiana), damos prosseguimento a abordagem preparatória para a celebração do Natal, reafirmando a razão e o fundamento desse evento glorioso. Iniciamos (domingo passado), tratando sobre a teontologia, mostrando quem Deus é, e hoje veremos a aplicação dessa doutrina para a nossa vida diária. Que Deus nos abençoe, em Cristo Jesus, seu pastor e amigo, Rev. Samuel S Bezerra
A Doutrina da Santidade de Deus
Deus é Santo! Deus é o único ser vivo e verdadeiro, infinito em ser e perfeição, puro e santo em seus propósitos, obras e mandamentos. Ele merece adoração, serviço e obediência de todas as criaturas. A santidade de Deus é descrita como incomparável e essencial, destacando-se na visão de Isaías: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3). A repetição enfatiza a singularidade e magnitude da santidade de Deus, que é diferente de tudo o que conhecemos.
Santidade como separação e pureza absoluta: A palavra hebraica שׁוֹדָק (qadosh) significa “cortar” ou separar. Deus é completamente distinto e puro, ocupando uma categoria moral incomparável. Ele é o padrão de santidade e tudo o que Ele faz é totalmente santo – em justiça, amor, misericórdia, paciência e até mesmo em sua ira. Qual a importância dessa doutrina no contexto preparatório da celebração natalina? A santidade de Deus é central ao Evangelho. Sem ela, não haveria lei moral, ira divina contra o pecado, sacrifício perfeito em Cristo, nem esperança de redenção ou do novo céu e nova terra. A santidade expõe nossa pecaminosidade, mas também nos direciona à graça, pela qual podemos nos achegar a Deus.
A Santidade e a Graça
É pela graça que reconhecemos a santidade de Deus e somos aceitos por Ele. Essa graça nos transforma, revelando a gravidade do pecado e despertando o desejo de viver em santidade. Como R.C. Sproul afirmou, compreender a santidade de Deus nos leva a ver a magnitude do pecado e nossa dependência total da graça.
Aplicações:
1. Centralidade da santidade de Deus (Is 6.1-3): a santidade de Deus deve estar no centro de como você entende a vida e toma decisões. Todos somos teólogos, mesmo sem perceber, formando suposições teológicas que influenciam nossas escolhas. A visão de Isaías em Isaías 6 demonstra que a santidade divina deve ser o ponto central da nossa visão de mundo e da nossa adoração. Cada aspecto do nosso ser – identidade, propósito, decisões e relações – deve ser moldado pela verdade de que Deus é “santo, santo, santo.” Não se trata apenas de uma ideia teológica; é intensamente prática e transforma como entendemos e nos relacionamos com tudo ao nosso redor. Reconhecer a santidade de Deus é fundamental para viver de maneira alinhada com a sua glória em todas as áreas da vida.
2. Santidade como luz e conforto (Is 6.4-5): a resposta de Isaías à visão da santidade de Deus foi de temor, refletindo a realidade de quem ele era e do que precisava. Uma compreensão verdadeira de si mesmo exige reconhecer tanto a intenção de Gênesis 1 (relacionamento com Deus) quanto a tragédia de Gênesis 3 (queda no pecado). Diante da santidade de Deus, entendemos nossa impureza e necessidade da graça de Jesus. Muitas pessoas ignoram a santidade de Deus, confiando em si mesmas, mas a graça de Deus nos abre os olhos para nossa condição e nos dá Sua misericórdia. Devemos examinar todas as áreas da vida sob a luz da santidade divina, reconhecendo que não há espaço para autossuficiência. Entender a profundidade do pecado torna a graça de Deus ainda mais significativa. A santidade nos desafia a abandonar “falsas glórias” e a nos firmar na glória verdadeira de Deus.
4. Autoconhecimento pela santidade de Deus: a visão de Isaías também destaca como a santidade de Deus revela nossa verdadeira condição. O pecado nos separa de Deus, e somente diante de Sua santidade compreendemos nossa necessidade de redenção. A confissão de Isaías como “homem de lábios impuros” enfatiza como nossa fala reflete nossa depravação, demonstrando a necessidade da graça divina. O pecado é sempre vertical: cada pecado é, antes de tudo, uma ofensa contra Deus. Embora tenha efeitos horizontais destrutivos, sua essência está em rejeitar a santidade e autoridade de Deus, como expresso no Salmo 51.4. Só ao reconhecer o peso vertical do pecado, choramos com genuíno arrependimento e encontramos a graça transformadora. Confissão, arrependimento e busca pela misericórdia de Deus são essenciais para redescobrir sua renovadora compaixão diária.
5. O chamado à santidade como a busca suprema da vida: a santidade de Deus deve ser o objetivo principal de nossas vidas. Pedro escreve aos cristãos perseguidos, destacando que viver o evangelho exige transformação e busca pela santidade, não conformidade com as paixões antigas. Somos chamados a viver de maneira santa, impulsionados pela graça divina, e comprometidos com o propósito de Deus para nossas vidas, rejeitando a cultura de prazer e conforto. A santidade deve moldar nossas relações, inclusive casamento, parentalidade, sexualidade e uso de recursos.
6. A missão impulsionada pela santidade de Deus: a visão da santidade de Deus e a realidade do pecado nos levam ao arrependimento e à missão. Como Isaías, devemos responder com disposição: “Eis-me aqui, envia-me.” Isso nos impulsiona a viver como embaixadores da graça redentora de Deus, comprometidos com sua missão em todos os aspectos da vida, não como consumidores, mas como participantes ativos.
7. Nossa dependência contínua da graça de Deus: a santidade de Deus nos lembra que nunca superaremos nossa necessidade de sua graça. Quanto mais nos aproximamos de Deus, mais reconhecemos nossa pecaminosidade e dependência de sua paciência e redenção. Como Isaías, percebemos nossa condição pecadora atual e somos consolados pela paciência e poder da graça transformadora de Deus.
8. O desejo universal por um mundo governado por um Deus santo: todos anseiam por justiça e paz. Vivemos com a esperança de que o reino de Deus trará esse governo perfeito, onde sua santidade será manifesta, eliminando injustiça, violência e exploração. Que conscientes da santidade de Deus sejamos mais santos.
Baseados em Do You Believe? 12 Historic Doctrines to Change Your Everyday Life (O que você crê? 12 Doutrinas históricas para transformar sua vida cotidiana), damos prosseguimento a abordagem preparatória para a celebração do Natal, reafirmando a razão e o fundamento desse evento glorioso. Iniciamos (domingo passado), tratando sobre a teontologia, mostrando quem Deus é, e hoje veremos a aplicação dessa doutrina para a nossa vida diária. Que Deus nos abençoe, em Cristo Jesus, seu pastor e amigo, Rev. Samuel S Bezerra
Aplicando a crença em Deus na vida
A existência de Deus é a base mais fundamental de toda a realidade e vida. As primeiras palavras da Bíblia, “No princípio, Deus”, são as mais importantes para serem refletidas e compreendidas, moldando todas as áreas da vida humana. Não existe esfera da vida que não seja afetada pela forma como entendemos Deus. A visão que temos sobre Deus é central para definir o propósito e as decisões de todos nós, seja em aspectos filosóficos ou práticos.
As pessoas respondem à existência de Deus de maneiras distintas
Negação de Deus: Embora a existência de Deus seja evidente na criação, a cegueira espiritual e o pecado levam muitos a negá-la. Esses indivíduos tendem a marginalizar os crentes. Crença superficial: Alguns acreditam na ideia de Deus, mas isso não afeta suas vidas. Deus é visto como distante e irrelevante.
Crença superficial: Alguns acreditam na ideia de Deus, mas isso não afeta suas vidas. Deus é visto como distante e irrelevante.
Fé genuína: Outros reconhecem o único Deus, revelado salvadoramente na Bíblia, e passam a viver em confissão, adoração e transformação diária por Sua graça.
Ateísmo prático: Mesmo os crentes podem agir como se Deus não existisse em momentos de pecado, mostrando incoerências entre crença e prática. Essas categorias nos ajudam a identificar não apenas como as pessoas entendem o relacionamento com Deus, mas também como devemos nos examinar para evitar incoerências.
A realidade do ateísmo prático: Mesmo crentes verdadeiros às vezes agem como ateus práticos, ignorando Deus em suas decisões diárias. Isso inclui pecados como fofoca, ira, consumismo ou idolatria. Esse problema teológico, é uma luta do coração. A solução é clamar pela graça de Deus para transformar o coração e reduzir esses momentos. Este ponto nos lembra da necessidade contínua de vigilância espiritual e da confissão honesta diante de Deus sobre nossas falhas diárias.
A beleza da revelação de Deus na criação:
A criação proclama constantemente a glória de Deus (Salmo 19.1-4). Ela é um testemunho visível de Sua existência e poder, oferecendo evidências acessíveis a todos. Deus, infinito em amor e graça, criou o mundo físico para apontar para Ele e revelar Seu caráter. A criação, em sua totalidade, funciona como um “dedo apontando para Deus”. Esta mensagem é universal, acessível a todas as pessoas, independentemente de idade, gênero ou posição social. A criação demonstra a glória de Deus em detalhes diversos, desde as paisagens naturais até o comportamento dos animais, mostrando que Ele não apenas é um Criador glorioso, mas também gracioso ao se revelar continuamente, mesmo para uma humanidade caída.
O propósito da Criação:
A criação é uma exibição constante da glória de Deus, feita para que possamos conhecê-Lo, amáLo e adorá-Lo. Deus sabia que o pecado obscureceria nossa visão e desviaria nossos corações, então fez Sua presença inescapável. A revelação natural não deixa ninguém sem desculpa; antes, ela exige uma resposta em adoração.
O impacto do pecado e o chamado à humildade:
Apesar da revelação da criação, o pecado endurece os corações e obscurece a visão de Deus. A humildade surge ao reconhecermos nossa limitação diante da glória divina, corrermos em sua direção, e arrependidos do nosso orgulho, suplicarmos seu perdão. Orgulho e rebeldia resultam de uma visão inflada de si mesmo, enquanto a humildade nos leva a confessar pecados e depender da graça transformadora de Deus.
A Importância da fé verdadeira:
A fé bíblica envolve crer na existência de Deus conforme Sua revelação (Criador, Soberano e Salvador) e viver em submissão a Ele. Fé não é meramente intelectual, mas prática, transformando cada área da vida em obediência e confiança.
Deus odeia o pecado:
Quando lemos passagens como Provérbios 15:9, “O caminho dos ímpios é abominável ao Senhor, mas ele ama aquele que segue a justiça”, qual é a nossa reação? O que significa para nós o fato de que Deus odeia o pecado? A ideia central do texto é que o fato de Deus odiar o pecado nos traz um consolo imenso, pois isso é um reflexo de sua justiça e amor. Se Deus não odiasse o pecado, não haveria esperança de justiça ou misericórdia, e o mal imperaria sem restrições. A existência de limites ao mal e o fato de que o pecado não é o estado constante do mundo são frutos do ódio de Deus ao pecado. Mais importante, foi esse ódio que levou Jesus à cruz, oferecendo-nos perdão e a chance de transformação. Deus odeia o pecado de tal forma que, para restaurar a relação com a humanidade, enviou Seu Filho como sacrifício para a redenção. Sem esse ódio pelo pecado, não haveria a cruz e, portanto, não haveria perdão ou esperança.
Deus não muda:
Deus é a rocha de estabilidade. Sua natureza e Seus propósitos são imutáveis. O fato de Deus não mudar é crucial para a nossa confiança n’Ele. A nossa segurança está em Seu caráter eterno e em Seu amor constante, como expressado em Malaquias 3:6, “Eu, o Senhor, não mudo”. Essa imutabilidade é a razão pela qual podemos confiar que, independentemente das circunstâncias da nossa vida, Deus sempre estará presente e fiel. Conhecer Deus é uma honra e glória. Em um mundo de incertezas, podemos descansar na certeza de que o caráter de Deus nunca mudará, o que nos dá esperança e confiança.
Rev. Samuel S Bezerra
O Natal se aproxima, e é sempre uma maravilhosa celebração; um momento para refletirmos profundamente sobre nossa fé e o que realmente acreditamos. Estimulados pela obra de Paul Tripp em Do You Believe? 12 Historic Doctrines to Change Your Everyday Life (O que você crê? 12 Doutrinas históricas para transformar sua vida cotidiana), embarcaremos em uma série de mensagens que nos ajudarão a examinar as verdades fundamentais do Evangelho que o Natal revela. Neste período, queremos nos lembrar de que, no coração do Natal, está a promessa de Deus de restaurar o que está quebrado e de nos trazer esperança por meio de Jesus Cristo. Vamos, juntos, nos preparar para receber e compartilhar a boa nova que transforma nossa vida e nos aponta para o verdadeiro sentido de adoração. Deus nos abençoe, em Cristo Jesus, seu pastor e amigo, Rev. Samuel S Bezerra
Deus
Há somente um único Deus verdadeiro, infinito em seu ser e perfeição. Ele é invisível, imutável, imenso, eterno e incompreensível, é todo-poderoso, sábio e santo. Age de forma livre e absoluta, seguindo apenas Sua vontade justa e imutável, visando sua própria glória. Deus é amoroso, gracioso, misericordioso e paciente. Ele é cheio de bondade e verdade, perdoando iniquidades, transgressões e pecados, recompensando aqueles que o buscam com sinceridade. Seus julgamentos são justos e temíveis, pois abomina o pecado e não absolve o culpado.
Fonte
Deus é a origem e fonte suprema de toda vida, glória, bondade e felicidade. Totalmente autossuficiente, Ele não depende nem busca glória nas criaturas, mas revela Sua glória através delas. Como soberano, tudo provém dEle, é realizado por Ele e existe para Ele. Seu conhecimento é perfeito, livre de erro e independente das criaturas. Em Deus, não há acaso ou incerteza. Todos os Seus propósitos, obras e mandamentos são santos, e Ele é digno de toda adoração, serviço e obediência de todas as criaturas.
Trino
Na unidade da divindade, há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. O Pai não é gerado nem procede de ninguém. O Filho é eternamente gerado do Pai. O Espírito Santo procede eternamente do Pai e do Filho. Veja, por exemplo Gênesis 17.1; Êxodo 3.14; 34.6-7; Deuteronômio 4.15-16; 6.4; 1 Reis 2 Coríntios 13.14; Gálatas 4.6; 1 Timóteo 1.17; Hebreus 4.13; 11.6; 1 João 5.7; Apocalipse 5.12-14.
Soberano
Como alguém poderia não ser tomado por um sentimento de reverência? Este é o seu Deus. Ele é santo em todos os aspectos, em tudo o que é e em tudo o que faz. Ele é a fonte de tudo o que existe, e não necessita de nada que existe. Seu conhecimento de tudo é sempre preciso, e Ele jamais precisa ser ensinado em coisa alguma. Ele nunca é surpreendido, nunca é pego de surpresa, nunca despreparado, confuso ou aflito. Ele nunca precisa descobrir, desaprender ou reaprender nada. O que Ele pensa, planeja, declara e faz é sempre certo e verdadeiro. Seus julgamentos nunca são equivocados, parciais ou errados. Tudo o que existe depende dele para sua existência. Ele sozinho ocupa o trono do universo e o governa de acordo com sua vontade toda-sábia e santa. Seu governo perfeito não depende da instrução ou do conselho de ninguém. Ele faz o que quer, e o que quer é sempre certo e melhor.
Glorioso
Deus é glorioso em toda a sua essência; tudo o que Ele é e faz reflete Sua glória. Ao contrário de objetos físicos, a glória de Deus não pode ser representada visualmente nem descrita totalmente. As Escrituras tentam nos dar uma ideia da vastidão da glória de Deus, como em Isaías 40, mas mesmo essas imagens falham em capturar sua plenitude. A busca por glória é intrínseca ao ser humano, mas o pecado nos transforma em “ladrões de glória”, fazendo-nos buscar satisfação em nós mesmos e nas coisas criadas, ao invés de em Deus. Só Deus pode satisfazer essa fome de glória que temos. Essa “guerra pela glória” é travada dentro de nós e só pode ser vencida pela graça de Deus, que nos liberta da busca egoísta pela própria glória. Jesus veio ao mundo para nos resgatar dessa condição e nos conduzir à verdadeira satisfação na glória de Deus. Afinal, somente Deus é digno de toda adoração, e viver para a sua glória é reencontrar nosso propósito e humanidade, como expressado por Davi em 1 Crônicas 29.10-13.
Rev. Samuel S Bezerra
“Estamos juntos!” Comunica a expressão popular de apoio. Contudo, ao longo da minha observação, percebo que essa afirmação muitas vezes é acompanhada de um subtexto que diz: “…desde que seja do meu interesse particular.” Essa nuance revela uma realidade mais complexa: a disposição para se unir e apoiar é frequentemente condicionada às motivações pessoais e interesses individuais. A busca por benefícios próprios (egoístas) obscurece a genuína motivação e transforma o ato de estar junto em uma relação transacional, em vez de uma verdadeira comunhão. Nesta reflexão, convido você a considerar biblicamente porque fazemos questão de participar de tudo que promove a instrução e crescimento na Palavra.
A ausência dos crentes nas atividades que não despertam seu interesse pessoal ou vantagem material desafia a própria essência do chamado cristão, que é um compromisso com Cristo e Seu Corpo. Quando nossos interesses se tornam o filtro para a participação na vida da igreja, nos afastamos do propósito e da obediência que o Evangelho requer de nós.
João Calvino assim expressou: “Deus considera a comunhão de sua igreja de tamanha importância que a considera digna de serem honrados aqueles que, por seu serviço, edificam a unidade da igreja. Por isso, os ministros da Palavra e da disciplina são chamados para edificar o corpo de Cristo, até que todos cheguem à unidade da fé” (CALVINO, J. Institutas da Religião Cristã, IV.1.5, Cultura Cristã: São Paulo, 2006). Aqui, Calvino aplica claramente as Escrituras ao mostrar que o propósito da comunhão é o fortalecimento da unidade da fé e o crescimento espiritual do corpo de Cristo. Por isso, é importante estarmos juntos nas atividades que promovem a fé bíblica, nos situam na história maior do nosso chamado e nos arrancam da letargia.
Martinho Lutero também compreendia a necessidade desse ajuntamento para o fortalecimento da fé. Um exemplo disso é a carta que ele escreveu em 1535 ao seu amigo Pedro Beskendorf, conhecido como Pedro, o Barbeiro. A carta era a resposta a uma solicitação do próprio Beskendorf, que buscava conselhos práticos sobre como orar. Lutero, então, escreveu um tratado intitulado “Um modo simples de orar” (disponível em: [link](https://www.monergismo.com/textos/livros/como-orar_lutero.pdf), onde oferece instruções para uma vida de oração eficaz e sincera, baseada na meditação das Escrituras e nas práticas devocionais. Logo na introdução de sua carta, Lutero realça:
“Em primeiro lugar, quando sinto que me tornei frio e infeliz na oração por causa de outras tarefas ou pensamentos (pois a carne e o diabo sempre impedem e obstruem a oração), tomo meu pequeno saltério, corro ao meu quarto ou, se for o dia e a hora pra isso, à igreja onde a congregação está reunida e, conforme o tempo permite, digo quietamente para mim mesmo, e palavra por palavra, os Dez Mandamentos, o Credo, e, se houver tempo, algumas palavras de Cristo ou de Paulo, ou alguns salmos, exatamente como uma criança poderia fazer.”
O que observamos aqui é a leitura de Lutero sobre a realidade da batalha espiritual e a prática das disciplinas espirituais, que incluem a reunião com o povo de Deus como uma arma contra a frieza. Deus nos convida a participar de Sua Palavra e de Seus sacramentos para que, pela união com os irmãos, nosso zelo e piedade sejam multiplicados. A omissão das atividades comuns da igreja priva tanto o indivíduo quanto a comunidade do fortalecimento espiritual que Deus reservou para Seu povo.
Para um verdadeiro crente, o benefício da comunhão deve estar fundamentado em algo além de um ganho visível ou imediato. O crente deve ansiar pelo crescimento do corpo em Cristo, e não apenas pelo seu próprio. Observe a confissão de João Calvino, descrevendo sua dura luta interna para decidir sobre seu retorno a Genebra e por que ele resolveu contrariar sua inclinação particular:
“[…] o bem-estar desta igreja, é verdade, era algo tão íntimo de meu coração que, por sua causa, não hesitaria a oferecer minha própria vida; minha timidez, não obstante, sugeriu-me muitas razões para escusar-me uma vez mais de, voluntariamente, tomar sobre meus ombros um fardo tão pesado. Entretanto, finalmente, uma solene e conscienciosa consideração para com meu dever prevaleceu e me fez consentir em voltar ao rebanho do qual fora separado” (CALVINO, João, O Livro dos Salmos, Vol. 1, p. 42).
Aqui, está evidente a importância do dever e da responsabilidade em sua vocação, destacando que, embora suas inclinações pessoais o levassem a hesitar, ele priorizou a missão que Deus lhe confiara. Esse aspecto de sua decisão reflete um princípio fundamental do ministério cristão: a importância de se submeter ao chamado divino, mesmo quando isso implica enfrentar dificuldades ou desconfortos pessoais.
A participação nas atividades da igreja é um ato de reconhecimento do nosso compromisso com o Senhor, independentemente de benefícios terrenos ou vantagens imediatas. Negligenciar as oportunidades de crescimento proporcionadas por aqueles que zelam pela nossa alma é negligenciar o próprio Cristo, que habita neles. Além disso, o afastamento voluntário e calculado mostra um naufrágio tenebroso, uma inversão de valores, onde a edificação espiritual é deixada em segundo plano e o interesse pessoal assume o centro da vida.
Quando estamos presentes apenas nas atividades que satisfazem nossos próprios interesses, ignoramos que cada reunião, culto ou atividade é uma oportunidade para sermos moldados e fortalecidos pela Palavra e pelo convívio. Como diz a Escritura em Hebreus 10:25, “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.”
A obra de Deus jamais deveria ser vista como algo que “não nos interessa”, pois nos mostra quem somos, desafia nosso ego e nos chama a nos esvaziarmos em prol de algo infinitamente maior: a glória de Cristo Jesus.
POR REV. SAMUEL S B
Caros irmãos, paz. Seguimos com a nossa série da Reforma (Tesouros resgatados pela Reforma Protestante) e, hoje, trataremos sobre Lei e Evangelho na tradição reformada. É importante mencionar que a fonte usada para esses insights é a obra de Robert Kolb e Carl R. Trueman, intitulada: Between Wittenberg And Geneva: Lutheran And Reformed Theology In Conversation. Baker Publishing Group:2017. Calvino escreveu: “A lei não foi acrescentada cerca de quatrocentos anos após a morte de Abraão para desviar o povo eleito de Cristo, mas, ao contrário, para mantê-los em expectativa até sua vinda; para inflamar o desejo deles e confirmar sua expectativa, para que não se desanimassem com a longa demora. Pela lei, não entendo apenas os Dez Mandamentos, que contêm uma regra completa de vida, mas todo o sistema de religião entregue por Moisés. Moisés não foi designado como Legislador para anular a bênção prometida à descendência de Abraão; pelo contrário, vemos que ele está constantemente lembrando os judeus do pacto livre feito com seus pais, do qual eles eram herdeiros, como se ele tivesse sido enviado para renová-lo.” (Calvino, João. Institutas da Religião Cristã, II.7.1). Que Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra
Lei e Evangelho na tradição reformada
Um dos pontos doutrinários mais interessantes e significativos para compreender a relação entre a teologia luterana e reformada é a conexão entre a lei e o evangelho. É nesse aspecto que a dependência reformada do pensamento de Lutero pode ser claramente discernida, mas também onde sua independência dele é muito perceptível. Há uma considerável convergência entre luteranos e reformados em questões de salvação pessoal, especialmente na ênfase na necessidade de fé e arrependimento. Mas também existem diferenças, e estas são mais notáveis na compreensão da lei. Isso talvez fosse inevitável, dada a complexidade de conectar o ensino bíblico sobre justificação com o que o Novo Testamento exige, particularmente nas Cartas de Paulo, para que os cristãos manifestem sua identidade em Cristo de forma pública e prática.
O papel da lei também é um tema importante para os cristãos ao refletirem sobre sua posição dentro da sociedade como um todo. De fato, esse tema tende a se tornar ainda mais relevante nos próximos anos, à medida que os valores externos da sociedade ocidental se afastam cada vez mais das normas tradicionais que foram profundamente moldadas pelo cristianismo e até mesmo passam a se opor de forma radical e militante a elas. No mundo que está se formando diante de nós, a questão da ética, especificamente a questão de como deve ser o comportamento cristão e por quais critérios ele deve ser avaliado, será crucial. A questão da santificação e o papel da lei são os dois temas teológicos mais evidentes nos quais isso precisa ser discutido.
Na tradição reformada, a distinção entre lei e evangelho é fundamental para entender a relação entre a graça de Deus e o chamado dos crentes à obediência. Diferente de outros contextos cristãos, onde a lei pode ser vista predominantemente como um sistema de regras a ser cumprido, a tradição reformada entende a lei como parte integrante do plano redentor de Deus. A lei revela o caráter santo de Deus e estabelece um padrão de justiça que, embora os seres humanos não possam alcançar plenamente devido ao pecado, ainda assim é relevante e aplicável como uma expressão da vontade divina.
Os teólogos reformados dividem a lei do Antigo Testamento em três categorias: moral, cerimonial e civil. Para ver como a Confissão de Fé de Westminster sumariza o uso da lei, recorra ao Cap. XIX- Da Lei de Deus.
Essa estrutura tripartite não é exclusiva do pensamento reformado, sendo também defendida por pensadores medievais como Tomás de Aquino. A distinção busca explicar a relação entre Antigo e Novo Testamentos, destacando que a função da lei não é oposta ao Evangelho. Para os reformados, a lei serve para conduzir à consciência do pecado e da necessidade de Cristo, enquanto o evangelho anuncia a redenção. João Calvino, em suas Institutas, ressalta que a lei nunca foi destinada a desviar o povo eleito de Cristo, mas a mantê-los na expectativa de sua vinda, inflamando o desejo por salvação.
Assim, a lei moral, encapsulada no Decálogo (os Dez Mandamentos), é considerada universal e aplicável a todos os seres humanos, por refletir o caráter de Deus e estabelecer um padrão ético eterno. Já as leis cerimoniais, que envolvem o sistema sacrificial e rituais religiosos, eram específicas para o povo de Israel e simbolizavam a necessidade de expiação e mediação entre Deus e a humanidade, elementos que apontavam para Cristo e se cumpriram plenamente em sua vida e obra. Por fim, as leis civis regulavam a vida política e social de Israel enquanto nação, e foram revogadas com a vinda de Cristo, uma vez que Israel deixou de ser uma entidade político-nacional para se tornar uma comunidade espiritual.
A compreensão reformada é que a lei atua como um espelho, revelando a incapacidade humana de alcançar a justiça divina por méritos próprios. O primeiro uso, de expor o pecado, é essencialmente aceito também por luteranos, e funciona como uma preparação para a graça. Contudo, para os reformados, o terceiro uso — que orienta a vida cristã — é vital, pois a moralidade permanece relevante para o crente.
Diferentemente da tradição luterana, que tende a enfatizar a lei e o Evangelho como opostos, com a lei trazendo apenas condenação e o Evangelho oferecendo libertação, a tradição reformada vê a lei e o Evangelho como harmonizados na vida do crente. Em Cristo, os crentes não estão sob a condenação da lei, mas são capacitados pelo Espírito Santo para viver em conformidade com os mandamentos de Deus, o que expressa gratidão e submissão ao Senhorio de Cristo. Essa obediência à lei não é para obtenção de salvação, mas para o crescimento na santidade e para o testemunho público da nova identidade em Cristo.
Por isso, os reformados insistem que a pregação da lei deve ser sempre acompanhada do Evangelho, uma vez que o arrependimento autêntico inclui uma volta para Cristo e uma transformação genuína do caráter, e não mera conformidade exterior. Assim, a tradição reformada mantém a centralidade do evangelho como a boa notícia da salvação pela graça, ao mesmo tempo em que valoriza a lei como um guia essencial para a vida cristã, uma vez que o crente é chamado a viver de modo a refletir o caráter de Deus no mundo.
Por fim, a lei e o evangelho, em suas funções distintas, são complementares no plano redentor. A pregação reformada busca equilibrar a lei como espelho de nossa falibilidade com o evangelho como a boa nova de que, em Cristo, somos aceitos e renovados. A união com Cristo, em sua graça justificante e santificadora, leva o crente a buscar uma vida alinhada com o caráter de Deus, demonstrando o papel contínuo da lei moral como guia no processo de santificação, até a consumação final.
Caros irmãos, paz. Dando continuidade à nossa série da Reforma (Tesouros resgatados pela Reforma Protestante), na pastoral de hoje, abordaremos a distinção entre Lei e Evangelho, uma questão central tanto na tradição luterana quanto na reformada. Lembramos que para esse resgate temático estamos nos valendo de alguns recortes da obra de Robert Kolb e Carl R. Trueman, intitulada: Between Wittenberg And Geneva: Lutheran And Reformed Theology In Conversation. Baker Publishing Group:2017. Compreender essa tensão é essencial para reconhecer a urgência existencial que o Cristianismo nos impõe. Ao contrário de eventos históricos que podem ser meramente interessantes, a Palavra de Deus nos desafia e exige uma resposta pessoal. Assim, nesta edição do boletim, exploraremos como essa distinção impacta nossa fé e vida cotidiana, iluminando o caminho que devemos seguir em nossa relação com Deus. Que Deus nos abençoe.
Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
Distinção entre Lei e Evangelho no Protestantismo
No cerne do Protestantismo, tanto para luteranos quanto reformados, está a distinção entre Lei e Evangelho. A tensão entre os dois molda tudo, desde a interpretação das Escrituras até a pregação e a compreensão prática da vida cristã. Isso aponta para os dois aspectos mais básicos do relacionamento de Deus com suas criaturas: Ele os convoca como seu Senhor e Soberano para serem santos como Ele é santo; e Ele promete agir por meio de Cristo, para que os seus cumpram sua ordem. E tudo o que precisam fazer é confiar nessa promessa. A lei me convence do meu pecado; o Evangelho me dá Cristo e traz paz à minha alma. A Palavra de Deus ordena e a Palavra de Deus promete. Ela nos aborda pessoalmente e exige uma resposta. Nesse ponto, tanto luteranos quanto reformados concordam e têm muito a dizer.
Lei e Evangelho na tradição luterana
A distinção entre Lei e Evangelho é central para a teologia de Lutero, influenciando a compreensão das Escrituras. A lei revela as expectativas de Deus para a conduta humana, enquanto o Evangelho anuncia a promessa de salvação por meio de Cristo. Lutero ensinava que a correta compreensão das Escrituras depende dessa distinção: a Lei diagnostica o pecado e o Evangelho oferece a cura em Cristo. A narrativa bíblica começa com o dom gratuito da vida e as instruções de Deus para uma vida plena, e essa separação entre comando e promessa é essencial para que o conforto do Evangelho seja claramente entendido pelos crentes. Jakob Andreae, na Fórmula de Concórdia, reforça essa separação, ressaltando que a mistura de Lei e Evangelho gera confusão e enfraquece a mensagem de Cristo, privando os fiéis do consolo que a mensagem do Evangelho oferece.
Penitência e arrependimento
Nos anos 1510, Lutero começou a distinguir a penitência (prática sacramental de confissão e satisfação de pecados) do verdadeiro arrependimento. Ele percebeu que a salvação dependia totalmente da obra de Deus, e não de seus próprios esforços. Isso o libertou da ansiedade que o sistema medieval gerava ao exigir a enumeração dos pecados e rituais para obter perdão. Para Lutero, a relação com Deus era sustentada pela absolvição e pelos benefícios conquistados por Cristo. Em seus catecismos, ele destacou que o batismo representa a promessa de Deus e a transformação diária do crente. Lutero ensinou que o arrependimento envolve a rejeição do pecado e a confiança em Cristo, sendo o ritmo diário da vida cristã. A distinção entre a condenação da lei e a libertação do evangelho é fundamental para compreender a obra de Deus em restaurar a vida humana.
Definição de Lutero do ser Humano: Pecado e Fé
Para compreender o conceito de pecado de Lutero e o impacto da lei de Deus sobre os pecadores, é essencial revisar sua antropologia. Lutero aprendeu, ao ler os Salmos e Paulo, que a justiça humana possui dois aspectos: em relação a Deus, é um presente imerecido (justiça de fora) baseado no amor divino. A confiança em Deus e em Sua Palavra é fundamental para essa justiça. Esta confiança, é central na visão de Lutero sobre o ser humano, permitindo a manifestação de uma justiça ativa (justiça própria) em ações que seguem o plano divino. Lutero chamou a primeira forma de justiça de “justiça passiva” e a segunda de “justiça ativa”, onde a fé se torna ativa em amor. Contudo, a queda do homem destruiu a justiça diante de Deus e a capacidade de realizar a justiça ativa, levando à incredulidade, que Lutero identificou como a raiz do pecado original. O pecado original, herdado da queda de Adão e Eva, gera a incapacidade de “temer, amar e confiar em Deus”.
O uso da lei
A lei, resumida nos Dez Mandamentos, é vista por Lutero, como uma dádiva de Deus que preserva a ordem e leva os pecadores (ao revelar seus pecados) a buscarem a Cristo. Lutero e seus seguidores argumentaram que a lei deve ser aplicada tanto aos regenerados quanto aos não regenerados, pois continua a instruir e disciplinar, mesmo em um contexto de graça. A lei ajuda a identificar o pecado e incentiva a luta diária contra a tentação.
O Evangelho
Embora a proclamação do amor providencial e preservador de Deus dentro das estruturas da criação tenha um papel importante na pregação e no ensino de Lutero, sua definição de Evangelho, em sentido estrito, foca apenas em Jesus Cristo e na entrega pelo Espírito Santo dos “benefícios” de Cristo, a nova vida conquistada pela morte e ressurreição de Cristo. Lutero considerava sua teologia “uma teologia da cruz”. Matthias Flacius Illyricus, um aluno notável de Lutero e Melanchthon, reforçou essa ideia ao iniciar esforços modernos para construir uma hermenêutica bíblica. Ele argumentou que o cerne de toda a Escritura é Jesus Cristo, o redentor dos pecadores, destacando a distinção entre a lei, que prescreve a ação humana, e o Evangelho, que entrega a ação salvadora de Deus. A Escritura, segundo Flacius, revela muitas coisas, mas seu testemunho central é sobre Cristo como Senhor e Salvador.
Lutero tratou da restauração da relação entre Deus e a humanidade, enfatizando a encarnação de Jesus e, principalmente, Sua morte e ressurreição como fundamentais para a libertação do pecado. Ele explicou que, na transição do pecado e da Lei para o Evangelho, a fé deve ser em Cristo como o Cordeiro de Deus que remove o pecado do mundo, oferecendo justiça e vida eterna sem condições.
A definição de Lutero do Evangelho é que não exige obras de nossa parte, mas nos convida a receber um presente, sendo passivos na aceitação da graça de Deus. Ele usou a analogia do sistema feudal, onde um príncipe concede propriedades a um nobre sem que este tenha feito algo para merecê-las. Ao longo de cinco séculos, os seguidores de Lutero continuam a usar a distinção entre Lei e Evangelho, embora alguns critiquem essa abordagem por não reconhecer sua dinâmica. Essa distinção serve como uma ferramenta diagnóstica para entender os problemas humanos e a solução divina, preparando os crentes para compartilhar tanto o chamado ao arrependimento quanto o dom da salvação em Cristo.
Na próxima semana, daremos continuidade ao tema, aprofundando a visão da tradição reformada sobre a relação entre Lei e Evangelho. Que Deus nos guie em nossas reflexões e nos ajude a viver conforme a Sua vontade.
Neste mês especial em que celebramos a Reforma Protestante, nossas pastorais dominicais serão dedicadas a refletir sobre alguns dos tesouros redescobertos por esse movimento transformador do século XVI. A Reforma trouxe de volta à centralidade da Palavra de Deus, a ênfase na salvação somente pela graça e a necessidade de uma vida cristã vivida para a glória de Deus. Vamos explorar como esses princípios continuam a impactar nossa fé e prática nos dias de hoje, renovando nossa compreensão do Evangelho e fortalecendo nossa caminhada com Cristo. Vamos usar para tanto, alguns recortes da obra de Robert Kolb e Carl R. Trueman, intitulada: Between Wittenberg And Geneva: Lutheran And Reformed Theology In Conversation. Baker Publishing Group:2017.
Que Deus nos ajude, nessas reflexões, em Cristo Jesus,
Rev. Samuel S Bezerra
ESCRITURA SAGRADA NA TRADIÇÃO REFORMADA
A Reforma foi, entre outras coisas, uma revolução do livro. Havia, é claro, uma dimensão sociológica nisso: a invenção da imprensa no século XV tornou os livros mais acessíveis e estabeleceu as bases para uma sociedade na qual a alfabetização se tornaria cada vez mais importante. Contudo, a Reforma não foi apenas uma transformação social. Em seu cerne estava a Bíblia
Agora, a Bíblia sempre foi importante para o Cristianismo. A Idade Média produziu diversos excelentes expositores e pregadores, e ninguém era considerado qualificado para ser professor de teologia na época medieval até que tivesse lecionado grandes porções da Bíblia. Mas a Reforma deu uma nova importância às Escrituras. Para os Reformadores, Deus estava presente em sua igreja principalmente por meio de sua Palavra — a Palavra lida e a Palavra pregada. Os púlpitos passaram a ocupar o ponto central de atenção, como os altares haviam feito no passado. Ser um Reformador era ser alguém que colocava a Bíblia, sua exposição e sua proclamação no centro da vida da igreja e que fazia da Bíblia o critério normativo para todas as discussões teológicas.
No entanto, é claro que, apesar desse acordo básico, a questão da interpretação foi algo que, em última instância, dividiu os luteranos e os reformados, especialmente quando eles se concentraram em quatro pequenas palavras: “Isto é o meu corpo.” Contudo, não devemos permitir que esse desacordo sério e importante nos cegue para as áreas substanciais de crença comum entre as duas tradições. Tanto os Reformados quanto os Luteranos buscavam permitir que as Escrituras regulassem suas confissões de fé.
A importância, suficiência e clareza da Palavra
Como Lutero, os Reformados consideravam a Palavra, especificamente a Palavra pregada, como central em tudo o que faziam. Para a tradição reformada a pregação é a tarefa central da igreja. Calvino deixa isso muito claro quando, de forma semelhante a Lutero, identifica o poder das chaves com a proclamação da Palavra:
“Quando tratamos das chaves, devemos sempre tomar cuidado para não imaginar qualquer poder separado da pregação do Evangelho. … Qualquer privilégio de ligar e desligar que Cristo concedeu à sua Igreja está vinculado à palavra. Isso é especialmente verdadeiro em relação ao ministério das chaves, cujo poder todo consiste em que a graça do Evangelho é selada pública e privadamente nas mentes dos crentes por meio daqueles que o Senhor designou; e a única maneira de isso ser feito é pela pregação.” (Calvino, J. Institutas, III.iv.14; cf. IV.xi–xii).
A Palavra tanto cria a igreja quanto a regula. A fala de Deus através do pregador é o meio pelo qual a igreja é chamada à existência e governada. A igreja medieval focava nos sacramentos, pois era neles que Deus estava presente; a igreja Reformada concentrava-se na pregação de sua Palavra. É por isso que a pregação da Palavra é considerada pelos Reformados como uma das marcas da verdadeira igreja.
A prática pedagógica Reformada reflete isso. As reuniões de profecias em Zurique—encontros para treinar pregadores—e a companhia de pastores de Calvino, assim como a Academia de Genebra, são exemplos de como preparar pregadores e melhorar a pregação eram prioridades nas comunidades Reformadas. Para sobreviver e florescer, a igreja precisava de pregadores. O treinamento de homens para essa tarefa e a constante melhoria dos chamados a pregar foram, portanto, prioridades para as igrejas Reformadas durante a Reforma.
Em seu clássico manual sobre pregação, A arte de profetizar (Editora Monergismo), o puritano William Perkins estabeleceu princípios básicos que os pregadores devem observar em qualquer sermão. Para Perkins, a verdadeira pregação envolve “manejar bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15), que consiste em duas partes: resolução ou divisão, e aplicação. A resolução é proclamar a doutrina explicitamente afirmada no texto ou que pode ser legitimamente derivada dele. A aplicação é, nas palavras de Perkins, “aquilo pelo qual a doutrina, devidamente coletada, é diversamente ajustada conforme o lugar, o tempo e a pessoa requerem”. Em resumo, se a doutrina é extraída do texto de forma objetiva, a aplicação consiste em trazer essa doutrina à tona para as especificidades da situação em que o pregador se encontra. A aplicação pode ser mental (ou seja, ensinar a mente a doutrina é uma forma de aplicação) ou prática, referindo-se ao modo de vida e comportamento. Mais uma vez, este ponto se conecta ao compromisso reformado com a ideia do uso da lei como um guia positivo e prático para a vida cristã no presente.
O pregador deve partir do texto bíblico, utilizando princípios corretos de interpretação, para uma proclamação clara da doutrina que o texto ensina e, a partir daí, para uma aplicação prática à congregação, seja em termos de ajudar os cristãos a compreender melhor o texto e a doutrina ou em termos de implicações práticas para a vida.
Conclusão
O compromisso reformado com a interpretação correta da Bíblia decorre da crença de que a Bíblia é a Palavra de Deus em forma escrita e é a base para a ação salvadora de Deus no mundo. O meio principal pelo qual Deus age através dessa Palavra é sua proclamação na igreja, uma proclamação que, quando feita de maneira fiel à revelação das Escrituras, é usada pelo Espírito Santo para convencer do pecado, inculcar a fé e edificar o corpo.
Isso tem implicações práticas para a vida da igreja. Os crentes devem ser ensinados nas categorias catequéticas básicas da fé, para que aprendam a manejar corretamente a Palavra da verdade e a ouvir com discernimento o que ouvem no púlpito. A pregação deve ser central no culto coletivo da igreja. Os ministros chamados para essa tarefa devem ser devidamente treinados para manejar a Palavra de Deus, o que normalmente exige habilidades linguísticas e teológicas. A pregação deve direcionar a atenção não para os próprios pregadores, mas para o Deus que fala claramente através deles. Os sermões, portanto, devem ajudar o crente a entender melhor as Escrituras. Mas mais do que isso: a Palavra pregada é a Palavra de Deus e confronta os indivíduos com o Senhor glorioso que salva, chamando-os a uma resposta de fé e adoração.
Na pastoral anterior, aprendemos brevemente sobre as características comuns da Política Eclesiástica Presbiteriana e Dortiana, destacando a importância da aplicação dos princípios bíblicos no governo da Igreja. Ambos os modelos reconhecem a soberania de Cristo como Rei da Igreja, a centralidade das Escrituras como base para a governança e a necessidade de uma pluralidade de presbíteros. Além disso, enfatizam a unidade da igreja local com outras igrejas de mesma confissão para cumprir o desejo de Cristo de que Sua igreja seja uma. Hoje, por fim, seremos instruídos sobre as características distintas do modelo dortiano de política eclesiástica.
1. Este modelo reconhece três ofícios na igreja: ministros, presbíteros e diáconos. Essa estrutura espelha os três ofícios de Cristo. Os ministros do evangelho continuam Seu ministério profético (ensino), os diáconos Seu ministério sacerdotal (ministério de compaixão) e os presbíteros Seu ministério real (governo). No modelo presbiteriano, há dois ofícios: presbíteros e diáconos. Dentro do ofício de presbítero, existem duas categorias: presbíteros regentes e presbíteros docentes (ministros do evangelho), com o ofício de diácono sendo subordinado ao de presbítero. O modelo dortiano sustenta a paridade dos três ofícios da igreja, sem hierarquia.
2. Embora o modelo dortiano reconheça a permanência dos ofícios, não estipula que a nomeação para esses ofícios seja vitalícia, exceto para o ministério pastoral. Os ministros do evangelho são ordenados para a vida, mas presbíteros e diáconos servem por um termo determinado.
3. A congregação local é a unidade básica do governo eclesiástico no modelo dortiano, sendo uma manifestação completa do corpo de Cristo, independentemente do tamanho. Ela é autônoma, e outras congregações não têm jurisdição sobre ela.
4. Cada congregação local é governada por um consistório (ou conselho), que é comparável à sessão de uma igreja local no modelo presbiteriano. O consistório é composto por ministros da Palavra e presbíteros, e muitas vezes também inclui diáconos.
5. A unidade do corpo de Cristo se manifesta em assembleias mais amplas de igrejas reformadas, como a classe ou sínodo, compostas por delegados de congregações locais. Essas assembleias são temporárias e sua autoridade é derivada das congregações locais.
6. Após o término de uma assembleia mais ampla, a autoridade espiritual de Cristo opera estritamente nas igrejas locais, que são as únicas entidades permanentes.
7. As decisões das assembleias mais amplas são vinculativas para todas as congregações da federação, desde que estejam em conformidade com as Escrituras e as confissões. Contudo, uma assembleia menor tem o direito de apelar caso considere uma decisão contrária à Escritura.
8. A disciplina cristã é iniciada e administrada pelos presbíteros da congregação local. As assembleias mais amplas só intervêm quando casos de disciplina são legalmente apresentados a elas.
Conclusão
Embora as diferenças entre os modelos presbiteriano e dortiano sejam significativas, ambos compartilham um compromisso inabalável com a aplicação do princípio do Sola Scriptura em todas as questões eclesiásticas. A implementação consistente de ambos os modelos protegerá a proclamação fiel do evangelho, a administração adequada dos sacramentos e a disciplina cristã.
Rev. Samuel S Bezerra
Estamos nas duas últimas abordagens para encerrarmos esta série de mensagens pastorais sobre o governo da Igreja. Recordamos os passos que já trilhamos juntos ao refletir sobre nossa missão, visão e objetivos como Igreja Presbiteriana Betel e como a doutrina do governo da Igreja é fundamental para o nosso progresso. Por quê? “Porque, assim como o governo é essencial em outras esferas da vida, na igreja ele é um reflexo da ordem que Deus estabeleceu para Seu povo.”
A obra de Guy Prentiss Waters, Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana – tradução livre, publicada pela Reformation Heritage Books, 2022), que nos foi apresentada nestas quase 27 semanas, nos abençoou imensamente. Aprendemos que “a igreja não tem a liberdade de governar seus assuntos de acordo com a sabedoria humana, mas sim de acordo com a vontade revelada de Cristo. Assim, o princípio do segundo mandamento (ou princípio regulador) também se aplica à política eclesiástica: a igreja de Cristo deve ser governada por revelação divina, em vez de imaginação humana.”
Nesta primeira parte da conclusão, receberemos um “bônus”. Seremos elucidados acerca de dois modelos distintos de política eclesiástica reformada: a Ordem Presbiteriana da Igreja e a Ordem Eclesiástica de Dort (Dordrecht). Que Deus nos abençoe.
Em Cristo, Pr. Samuel S Bezerra.
CARACTERÍSTICAS COMUNS DA POLÍTICA ECLESIÁSTICA PRESBITERIANA E DORTIANA
Quando o pai da política eclesiástica reformada, João Calvino, formulou suas Ordenanças Eclesiásticas para a igreja de Genebra, ele se esforçou para aplicar o princípio do Sola Scriptura também sobre como a Igreja de Cristo deveria ser governada. A aplicação dos princípios bíblicos articulados nessas ordenanças resultou na formulação de dois modelos distintos de política eclesiástica reformada: a Ordem Presbiteriana da Igreja e a Ordem Eclesiástica de Dort (Dordrecht).
A Ordem Eclesiástica de Dort foi ratificada e adotada pelo renomado Sínodo de Dort (1618–1619). Esta histórica ordem eclesiástica é a base das ordens eclesiásticas de todas as igrejas reformadas ortodoxas nos Países Baixos e daquelas federações reformadas na América do Norte, compostas por imigrantes holandeses e seus descendentes.
Portanto, como um apêndice à útil e biblicamente fundamentada exposição do Dr. Waters sobre o modelo presbiteriano, destacaremos brevemente o que ambos os modelos têm em comum e, em seguida, focaremos nas distinções do modelo de Dort.
1. Ambos os modelos têm como premissa fundamental que Cristo é o Rei soberano e o supremo portador de ofícios de Sua igreja—uma igreja que “Ele comprou com Seu próprio sangue” (Atos 20:28). Ele é o nosso supremo Pastor e Bispo (1 Pedro 2:25; 5:4). Ambos reconhecem que a igreja de Cristo é uma cristocracia, e não uma democracia, sendo governada pela vontade de Cristo e não pela vontade dos homens.
2. Ambos os modelos são construídos para garantir que as Escrituras sejam a constituição espiritual da igreja e o árbitro final em todas as questões que precisam ser reguladas dentro da igreja.
3. Ambos os modelos são presbiterianos no sentido de que reconhecem que as Escrituras estipulam que a igreja deve ser governada por uma pluralidade de presbíteros (anciãos).
4. Ambos os modelos reconhecem que a igreja local é chamada a federar-se com outras igrejas de mesma confissão para expressar o desejo de Cristo de que Sua igreja seja uma, manifestando essa unidade no mundo (João 17:20-23; Atos 15:2, 4; Ef. 4:3-6; Ap. 1:20). Essa unidade torna-se visível nas assembleias mais amplas das igrejas reformadas e presbiterianas, que têm como propósito servir ao bem-estar e ministério das igrejas locais e fornecer um testemunho unido ao mundo.
Obs: Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, da qual fiz uma tradução livre, resumo, adaptação e recorte para esse espaço pastoral. Que Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S. Bezerra.
Próxima semana tem mais…
Deus nos abençoe.
Estamos nos aproximando do mês em que comemoramos a Reforma Protestante do século XVI. Aproveitamos esta oportunidade para convocar todos para enriquecedores encontros de 28 a 31 de outubro, às 20h, que serão realizados remotamente pela plataforma Zoom. Durante esses encontros, mergulharemos no tema: Reforma e Missão: a jornada de uma igreja local que expande seus horizontes para além de si mesma. Ore, divulgue e participe!
Voltando ao resgate promovido pelo movimento da Reforma Protestante, é crucial lembrar que nossos irmãos do passado tinham como objetivo restabelecer o local das Escrituras no centro de toda a vida, revelando sua crença na autoridade, infalibilidade e suficiência da Palavra de Deus. Comemoramos 507 anos da Reforma e nos perguntamos: mantemos a crença na Palavra de Deus de nossos predecessores? É possível saber se estamos seguindo os mesmos princípios?
As Escrituras nos exortam consistentemente à obediência — nossa obediência à Palavra de Deus. Após a morte de Moisés, Deus reiterou essa verdade ao sucessor, Josué, repetindo-a duas vezes para ênfase: “Seja forte e corajoso. Cuide de obedecer a toda a lei que meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem-sucedido por onde quer que ande. Não deixe que este Livro da Lei se aparte de sua boca; medite nele dia e noite, para que você tenha cuidado de fazer tudo o que nele está escrito. Então você será próspero e bem-sucedido” (Josué 1:7-8, itálico meu).
Portanto, somos chamados a imergir na Palavra de Deus e a cumprir o que Ele ordenou, o que envolve tanto conhecer quanto praticar. Precisamos refletir: conhecemos a Palavra de Deus e estamos crescendo em nosso conhecimento dela? Esta é uma pergunta frequentemente constrangedora, mesmo para pastores com formação teológica, pois graus avançados em teologia não garantem conhecimento bíblico. R. Kent Hughes e Barbara Hughes, em Liberating Ministry from the Success Syndrome, destacam que a educação teológica pode nos familiarizar com a linguagem, as nuances da teologia, os argumentos gerais dos livros e as metodologias pastorais, mas não garante que realmente conheçamos a Bíblia. Eles afirmam: “O conhecimento da Bíblia começa com e é alimentado pela leitura da Palavra de Deus. Todo servo deve ler as Escrituras diariamente, preferencialmente passando pela Bíblia pelo menos uma vez por ano. Muitos dos servos mais usados por Deus fizeram da leitura e meditação parte de suas vidas. Conhecemos alguns que leram a Bíblia inteira cem vezes — um, cento e cinquenta vezes! Diz-se que George Müller leu a Bíblia duzentas vezes. David Livingston a leu quatro vezes consecutivas enquanto estava detido em uma cidade na selva. Ele viveu a máxima de Spurgeon: ‘Uma Bíblia que está se desintegrando geralmente pertence a alguém que não está.’ William Evans, que no início deste século pastoreou a College Church em Wheaton, onde agora servimos, havia memorizado toda a Bíblia na versão King James e o Novo Testamento na versão American Standard. Billy Graham diz que seu sogro, o médico missionário Nelson Bell, fazia questão de ‘levantar-se todas as manhãs às quatro e meia e passar de duas a três horas lendo a Bíblia. Ele não usava esse tempo para ler comentários ou escrever; não fazia sua correspondência ou qualquer outro trabalho. Ele apenas lia as Escrituras todas as manhãs, e era uma enciclopédia bíblica ambulante. As pessoas se maravilhavam com a santidade e a grandeza em sua vida.’”
Queridos irmãos, o chamado das Escrituras e dos fiéis é claro: devemos nos tornar pessoas do Livro, conhecendo e interpretando a Bíblia corretamente. Se ainda não está envolvido em um estudo sistemático, que tal se comprometer a ler a Bíblia ao longo deste ano e alinhar sua vida com o que agrada a Deus?
“Conhecimento e prática compreendem a mesma face da mesma moeda” (Rev. Christian Brially). Devemos também nos perguntar: estamos vivendo de acordo com as Escrituras? Essa pergunta é importante para todos nós, pois, apesar de professarmos obediência, muitas vezes temos uma incrível capacidade de agir de maneira oposta. Alguns compartimentalizam a vida, acreditando que obedecer a Deus em uma área já é suficiente. Outros usam a teoria das “muitas interpretações” para justificar suas ações, dizendo que as Escrituras são tão interpretáveis que não podemos saber seu verdadeiro significado. Isso é conveniente quando não gostamos do que a Bíblia diz! No entanto, a Palavra de Deus é geralmente clara e direta. Como Mark Twain disse, “não é o que eu não entendo sobre a Bíblia que me incomoda; é o que eu entendo!”
A verdadeira bênção vem ao estudarmos e obedecermos fielmente à Palavra de Deus, aplicando o que entendemos a todas as áreas de nossas vidas, sob a orientação do Espírito Santo. Um conhecimento crescente da Bíblia, combinado com uma obediência prática, é o caminho para a fidelidade e o sucesso.
Ame as Escrituras e considere alguns movimentos práticos para o crescimento:
1. Estabeleça uma rotina diária para a leitura: dedique um horário específico do dia para a leitura da Bíblia, seja pela manhã, durante o almoço ou à noite. Ter um momento fixo ajuda a criar um hábito.
2. Ore antes de ler: comece cada sessão de leitura com uma oração pedindo a orientação do Espírito Santo para entender e aplicar a Palavra de Deus.
3. Escolha um plano de leitura: utilize planos de leitura bíblica que dividem as Escrituras em passagens diárias. Isso pode incluir leituras temáticas, cronológicas ou por livros específicos da Bíblia.
4. Leia em grupo: participar de um grupo de estudo bíblico pode motivar e enriquecer sua leitura. Discutir passagens e ouvir perspectivas diferentes pode tornar o estudo mais envolvente.
5. Mantenha um diário espiritual: anote suas reflexões, perguntas e insights enquanto lê a Bíblia. Revisitar essas anotações pode ser encorajador e ajudar a ver seu crescimento espiritual ao longo do tempo.
6. Use recursos visuais: se possível, utilize Bíblias com comentários, mapas e ilustrações. Recursos visuais ajudam a entender o contexto e aprofundar o estudo.
7. Varie a leitura: alterne entre diferentes traduções e versões da Bíblia para obter novas perspectivas e enriquecer seu entendimento. Mãos à obra.
Deus te abençoe.
Rev. Samuel S. Bezerra
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022]1, que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
PARA ONDE VAMOS A PARTIR DAQUI?
PENSAR
Paulo nos instrui a “não nos conformarmos com este mundo”, mas a sermos “transformados pela renovação da nossa mente” (Romanos 12.2). Nosso chamado, como colocou James Montgomery Boice, é para uma “renovação da mente em uma era sem mente”. Conformar-se ao mundo envolve mentiras e falsidades. A renovação da mente envolve a verdade de Deus, a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (v. 2).
Aqui é importante lembrar como a Bíblia se opõe aos valores do mundo em seu ensino sobre a igreja. O mundo nos diz que somos autossuficientes; a Bíblia nos diz que precisamos de Deus e do Seu povo. O mundo nos ensina que autoridade é ruim, a menos que tenhamos a sorte de exercê-la; a Bíblia nos ensina que autoridade é um dom, uma responsabilidade de Deus para servir aos outros. O mundo nos incentiva a viver para o presente, pois há apenas morte e perda à nossa frente; a Bíblia nos instrui a nos dedicarmos ao evangelho e ao povo de Deus, pois Cristo nos garantiu uma herança eterna. O grande desafio na igreja é manter nossas mentes centradas na Bíblia. Sejam na adoração a Deus, no serviço aos outros ou no trabalho no governo da igreja, é a Bíblia — não o mundo — que deve moldar e informar nossas mentes. Estamos sendo transformados pela renovação de nossas mentes em prol da igreja?
ESCOLHER
Uma das características que torna a igreja diferente da maioria dos grupos humanos é que somos reunidos com pessoas muito diferentes de nós. Vimos de diversos contextos. Seja por raça, gênero, língua, riqueza, educação, política, temperamento ou criação, temos nossas diferenças. Isso significa que nosso chamado para servir uns aos outros na igreja não pode ser impulsionado por nossas semelhanças. Não podemos amar uns aos outros com base nessas similaridades, pois muitas vezes elas simplesmente não existem. A igreja cristã é uma comunidade de amor. Como disse o pai da igreja, Tertuliano, sobre a igreja: “Vejam como eles se amam!” Mas em que base amamos nossos irmãos tão diferentes de nós? “Nós amamos”, diz João, “porque Ele nos amou primeiro” (1 João 4.19). É o amor de Cristo que nos permite, capacita e motiva a amar todos os irmãos em Cristo. O amor é muitas coisas, mas nunca menos que uma escolha. Amar é algo que escolhemos fazer. Quando amamos alguém, colocamos os interesses dessa pessoa acima dos nossos, buscando seu bem, mesmo que isso nos custe algo. Muito do governo da igreja se resume a isso. Como seria a vida e o governo da igreja se todos agissem com a mentalidade de “eu primeiro”? Seria miserável. Pelo poder do Espírito, podemos atender ao chamado do evangelho para servir nossos irmãos, seguindo o exemplo que Cristo nos deu (Romanos 15.7). Devemos pensar em colocar os outros em primeiro lugar, e essa é uma escolha que devemos fazer.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
SENTIR
Geralmente, não associamos sentimentos com governo, não é? Mas Deus deseja que tenhamos certos sentimentos sobre o governo da Sua igreja! Sentir não precisa ser algo intenso para ser genuíno. Quando nossas mentes estão sintonizadas com a Palavra de Deus e nossas vontades alinhadas com Sua vontade revelada, que sentimentos devemos ter?
Devemos ser gratos. A igreja é imperfeita e confusa, e somos continuamente tentados à ingratidão. Mas como podemos ser gratos quando isso não vem naturalmente? A gratidão surge quando pensamos na igreja à luz dos planos e propósitos de Deus na história. A igreja será resplandecente e gloriosa quando Cristo retornar. Ela é a menina dos olhos de Deus. Ele a ama, a defende, a preserva, a faz crescer e amadurecer. Não há nada que Ele não faria (ou já não fez) por ela. Se você é um verdadeiro membro da igreja, é amado com um amor eterno. Deus derramou Sua graça sobre você e nunca vai parar. Você sempre tem motivos para ser grato (1 Tessalonicenses 5.18).
Devemos também ser alegres. Não temos o direito de sermos pessimistas em relação à igreja. Deus já nos disse como tudo terminará (leia Apocalipse 21-22 para relembrar!). Isso significa que, mesmo na confusão da vida da igreja hoje, podemos nos alegrar. Deus está em ação, santificando e aperfeiçoando Sua igreja. O fato de que Ele está conosco até o fim deve encher nossos corações de alegria. Que Deus maravilhoso temos!
E quando nossos corações estão cheios de gratidão e alegria, são como um instrumento bem afinado, pronto para fazer música. E qual lugar melhor para oferecer essa melodia — em nossas palavras, atitudes e estilo de vida — do que entre o povo de Deus, a Igreja de Jesus Cristo?
Deus nos abençoe.
Próxima semana tem mais…
Deus nos abençoe.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022]1, que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
MAIS PERGUNTAS…
Continuando nossa sessão de perguntas, temos:
O que fazer se os líderes da minha igreja tomarem uma decisão que eu acho errada?
Uma das coisas extraordinárias sobre o concílio de Jerusalém foi sua unidade. Eles chegaram a uma decisão sem sequer um voto divergente (Atos 15.1-35)! Às vezes isso é verdade hoje, mas muitas vezes não é. Na igreja, nossos líderes frequentemente discordam. Isso é aceitável, desde que eles lidem com suas divergências de forma bíblica. Mas, e se não estivermos ativamente envolvidos na obra de governo na igreja? O que fazemos quando pensamos que nossos presbíteros cometeram um erro? Uma coisa que nunca devemos fazer é murmurar ou reclamar. Murmuração é proibida em toda a vida cristã (Filipenses 2.14). Também não devemos responder com raiva impiedosa (1 Timóteo 2.8). Fofoca também está fora de questão. (Note como Paulo associa “fofoca” com “difamação” e “desordem” em 2 Coríntios 12.20). Essas respostas podem satisfazer nossos desejos pecaminosos, mas são maneiras destrutivas e venenosas de abordar nossas preocupações.
A primeira coisa que devemos fazer é pesar a decisão à luz do ensino das Escrituras. Tenho certeza de que isso é antibíblico, ou estou confiando mais na minha própria intuição do que no ensino bíblico? Com espírito de bom bereano (Atos 17.10-11), devemos levar tudo o que é dito e feito na igreja ao padrão das Escrituras. Enquanto estudamos as Escrituras, devemos orar. Ore para que Deus o ajude a entender Sua Palavra corretamente. Ore para que Deus lhe dê um espírito gentil e pacífico enquanto você reflete sobre o assunto e se prepara para tomar quaisquer outros passos necessários.
Você pode então procurar um presbítero, especialmente se tiver um relacionamento pastoral com ele. De forma respeitosa com ele e com os outros presbíteros, veja se você pode fazer algumas perguntas sobre a decisão que lhe preocupa. Você a entendeu corretamente? Existem fatos, talvez, dos quais você não estava ciente? Há alguma história ou contexto que possa ajudá-lo a ver a questão de uma forma diferente?
Talvez essa conversa resolva suas preocupações. Mas talvez não. O que você pode fazer então? Você pode solicitar uma reunião com todo o conselho para compartilhar suas preocupações. E se ainda não estiver satisfeito após essa reunião, quais são suas opções? Muitas igrejas têm uma provisão onde alguém sob a autoridade de um conselho pode formalmente reclamar contra uma ação desse conselho. Em uma igreja Presbiteriana, você poderia apresentar tal reclamação ao conselho local. Eles poderiam concordar ou discordar de você. Se discordarem de você, você poderia pedir que o presbitério local ouvisse a reclamação. Se discordarem de você, você poderia levar sua reclamação ao Sínodo.
Este procedimento faz três coisas. Primeiro, permite que um membro da igreja expresse discordância com seus líderes locais de maneira respeitosa e ordenada. Segundo, traz as decisões dos presbíteros locais sob a revisão de presbíteros que servem à distância. Esse tipo de responsabilidade motiva todos os presbíteros em todos os momentos a servir da melhor maneira possível. Terceiro, ajuda a trazer resolução piedosa à discordância na igreja. Os membros da igreja têm uma saída piedosa para expressar preocupações. Os líderes da igreja têm uma maneira piedosa de encerrar preocupações que, de outra forma, poderiam persistir e causar dano à igreja.
Isso não quer dizer que tudo correrá de forma tranquila ou perfeita. Mesmo o caminho para a resolução piedosa de diferenças na igreja pode ter seus obstáculos inesperados. Mas você não fica feliz que Deus nos deu orientação nas Escrituras para lidar com situações difíceis como essas? Você não fica feliz que Cristo se importe tanto com Sua noiva? Próxima semana tem mais…
Deus nos abençoe.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022]1, que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
MAIS PERGUNTAS…
Continuando nossa sessão de perguntas, temos:
As mulheres podem servir como oficiais na igreja?
Um dos assuntos controversos e sensíveis na igreja hoje é se as mulheres podem servir como oficiais na igreja— como presbíteros docentes, presbíteros regentes ou diáconos. Ao responder a essa pergunta, precisamos fazer alguns pontos fundamentais que as Escrituras se preocupam em destacar. Primeiro, homens e mulheres são ambos criados à imagem de Deus (Gênesis 1.26–27). Como tal, eles são iguais em valor e dignidade. Nenhum é mais ou menos humano que o outro. Segundo, em Cristo, homens e mulheres são iguais espiritualmente. Eles têm uma parte igual em Cristo e em Seus benefícios (Gálatas 3:28). Terceiro, Cristo concede dons a homens e mulheres na igreja para servirem uns aos outros. Todo cristão, homem ou mulher, precisa dos dons de seus irmãos em Cristo (1 Coríntios 12.12–31). Quarto, entre esses dons estão os dons de ensino na igreja local. Deus capacita mulheres, por exemplo, para ensinarem outras mulheres na igreja (Tito 2.3–5) e até mesmo, em particular, para ajudarem ministros a se tornarem melhores comunicadores da Palavra de Deus (Atos 18.26). Dentro desse contexto, a Bíblia nos diz que Deus chamou os maridos para uma posição de liderança em suas casas (Efésios 5.22–33). A igreja, como a família de Deus, reflete o mesmo padrão de liderança (1 Timóteo 3:5, 12). Deus chama apenas homens para o ofício na igreja. E, de fato, Deus chama apenas alguns homens para o ofício na igreja. Muitos, se não a maioria, dos homens cristãos nunca serão oficiais da igreja.
Paulo ensina expressamente que somente homens devem servir como oficiais em 1 Timóteo 2.12: “Não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o homem.” As duas funções de um presbítero na igreja (3.1–7)—ensino (pregação) e governo—são proibidas às mulheres. Por essa razão, as mulheres não podem ocupar o ofício ou desempenhar as funções de um presbítero na igreja. E, como os diáconos exercem autoridade na igreja, as mulheres também não podem servir como diáconos. Esse padrão de liderança exclusivamente masculina na igreja, Paulo enfatiza, não é um castigo pela queda ou uma consequência de alguma suposta fraqueza moral das mulheres. Tampouco esse padrão é exclusivo do primeiro século ou da situação da igreja em Éfeso. Esse padrão está enraizado na própria criação (2.13). Mesmo dentro desta seção, Paulo enfatiza as boas e construtivas obras que Deus deu a todas as mulheres cristãs para fazer—aprender as Escrituras (ao lado dos homens na igreja) e abundar em boas obras (2.10, 11, 15). E esse é o ponto principal de Paulo em 1 Timóteo 2— ninguém no corpo de Cristo carece de dons, oportunidades e vocação para servir aos outros na igreja.
Rev. Samuel S Bezerra.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
MAIS PERGUNTAS…
Na pastoral passada, respondemos o questionamento: Nas igrejas congregacionais, a congregação desempenha um papel ativo na recepção e disciplina dos membros da igreja. Por que os presbiterianos não fazem isso? As igrejas congregacionais defendem que a congregação deve participar ativamente no governo da igreja local, incluindo decisões disciplinares e na recepção de membros, com base em trechos como Mateus 18:17 e 1 Coríntios 5:13. Já os presbiterianos entendem que essas passagens referem-se à igreja agindo por meio de seus presbíteros, que foram eleitos para governar, evitando assim conflitos e desordem. Para os presbiterianos, o governo da igreja é responsabilidade exclusiva dos presbíteros, não sendo compartilhado com a congregação. Hoje responderemos a seguinte pergunta:
E quanto a apóstolos, profetas e bispos? Vemos igrejas hoje que têm líderes que usam esses títulos. Por que as igrejas presbiterianas não têm esses cargos?
É verdade que há igrejas hoje onde você encontrará líderes com o título de “apóstolo” ou “profeta” ou “bispo.” Mas os presbiterianos não estão entre eles. Por quê? Para entender, vejamos cada um desses três títulos por sua vez.
Apóstolo era um cargo no Novo Testamento que Cristo estabeleceu em Seu ministério terrestre (Marcos 3.14). Os apóstolos tinham certas qualificações. Eles deviam ser “testemunhas” de Cristo (Atos 1.8). Eles eram aqueles que tinham visto Cristo ressuscitado dos mortos (1 Co 9.1; Atos 1.22). Dessa forma, os apóstolos lançaram o fundamento do povo de Deus sob a nova aliança (Efésios 2.20). Por todas essas razões, os apóstolos desempenharam um papel crucial na vida do povo de Deus na primeira ou segunda geração após a ressurreição de Cristo. Mas, como você pode ver, esse não é um cargo que Cristo pretendia que continuasse para o restante da história da igreja. Os apóstolos cumpriram seu propósito. Testemunho dado. Fundação lançada. Não estamos esperando que Deus levante mais apóstolos na igreja.
Profetas no Novo Testamento, como os profetas no Antigo Testamento, traziam a Palavra revelada de Deus ao Seu povo. Vemos profetas servindo à igreja em Atos e em 1 Coríntios. Lembre-se de que esses foram os dias antes de a igreja ter todos os vinte e sete livros do Novo Testamento. Os profetas estavam dando ao povo de Deus a Palavra de que precisavam para confiar em Cristo e viver para Ele em seu próprio tempo. Agora que temos um cânone completo (toda a Bíblia), Deus não Se revela mais dessa maneira. Os “profetas” se juntam aos “apóstolos” como aquele fundamento único que Deus estabeleceu (Efésios 2.20). Deus está nos edificando sobre esse firme fundamento. Por essas razões, não esperamos mais que Deus envie profetas à igreja. Se quisermos ouvir Deus, precisamos apenas nos voltar para a Bíblia.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
O título “bispo” hoje pode significar várias coisas diferentes. Em muitas igrejas, como vimos acima, bispos são pastores dos pastores, e eles têm muito poder sobre pastores e igrejas. Mas o Novo Testamento não confia esse poder a um só homem. O poder de governar está nas mãos de uma pluralidade de presbíteros servindo à igreja como iguais nos níveis local, regional e denominacional. Só por essa razão, não há base bíblica para bispos (o termo técnico é “bispos monárquicos”) na igreja hoje. Significativamente, bispos monárquicos surgiram na igreja apenas após a era apostólica.
Mas há outro sentido para o termo “bispo.” A palavra “bispo” traduz o termo grego para “supervisor.” “Bispo” é um dos títulos que o Novo Testamento aplica ao presbítero (Tito 1:5, 7). Ele descreve seu trabalho de supervisionar o rebanho de Deus como o sub pastor de Deus. Cada um dos seus presbíteros é um bispo!
Nós presbiterianos mantemos essas convicções porque acreditamos que a Bíblia é a única norma ou padrão para o governo da igreja. Ou seja, entendemos que nossa forma de governo vem da Escritura e apenas da Escritura. A igreja não tem autoridade para introduzir novos cargos. Não temos apóstolos, profetas ou (bispos monárquicos) porque não acreditamos que haja base nas Escrituras para esses cargos na igreja hoje.
Próxima semana tem mais…
Deus nos abençoe.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
MAIS PERGUNTAS…
Na pastoral passada, respondemos o questionamento: Como pode haver unidade na igreja se há todas essas denominações e divisões na igreja? Reconhecemos que a unidade da igreja é um tema complexo, especialmente diante das inúmeras denominações e divisões existentes, que muitas vezes surgem não por fidelidade à Palavra de Deus, mas por causa do pecado humano. Embora confessemos em nossos credos que a igreja é una, a Bíblia define essa unidade em termos de compromisso com a verdade das Escrituras, e não em termos de organização institucional. Diante das discordâncias, as denominações se tornam uma necessidade trágica. Permanecer em uma única grande igreja poderia gerar constantes conflitos e a indiferença à verdade bíblica. Forçar uma unidade externa, imposta por uma autoridade humana, também traria sérios problemas. Assim, a solução encontrada é a formação de denominações, cada uma buscando seguir a verdade conforme entendida nas Escrituras, mas ainda reconhecendo a validade de outras igrejas e mantendo a irmandade em Cristo. Essa divisão pode obscurecer a unidade visível do corpo de Cristo, mas não a destrói, permitindo que a verdadeira unidade espiritual permaneça. A pergunta de hoje é:
Nas igrejas congregacionais, a congregação desempenha um papel ativo na recepção e disciplina dos membros da igreja. Por que os presbiterianos não fazem isso?
As igrejas congregacionais geralmente veem a congregação desempenhando um papel ativo no governo da igreja local. Os presbíteros e a congregação trabalham juntos na administração dos assuntos da congregação. Eles acreditam que isso é fiel ao ensino do Novo Testamento. Eles apelam para as palavras de Jesus em Mt 18.17: “E se ele se recusar a ouvi-los, diga-o à igreja; e se ele se recusar a ouvir até mesmo a igreja, considere-o como um gentio e publicano.” E eles se referem ao exemplo da igreja em Corinto, sob a supervisão do apóstolo Paulo, onde Paulo diz à igreja: “Removei do vosso meio o malfeitor” (1 Co 5.13).
Esses trechos, argumentam os congregacionais, falam do envolvimento de toda a igreja na exclusão de pessoas da comunidade. Por implicação, toda a igreja deveria estar igualmente envolvida na recepção de membros na igreja.
Os presbiterianos leem esses trechos de forma diferente. Quando Jesus fala da “igreja” em Mateus 18, Ele não está se referindo à congregação como tal. Ele está falando da igreja agindo através de seus oficiais governantes, os presbíteros. Suponha que lemos no jornal que os Estados Unidos declararam guerra a outra nação. Isso significa que mais de trezentos milhões de americanos se reuniram e decidiram declarar guerra? Não! Isso significa que seus representantes eleitos tomaram essa decisão. Quando os representantes tomam essa decisão, toda a nação tomou essa decisão. A Escritura fala da igreja agindo em questões disciplinares de maneira semelhante (compare At 15.6 com 15.22). Em Mt 18.17 e em 1 Co 5, “a igreja” é uma abreviação para “a igreja agindo através de seus presbíteros, a quem Cristo confiou exclusivamente o governo na igreja.”
A Bíblia chama a congregação a eleger seus oficiais. Mas a congregação não compartilha o trabalho de governança com esses oficiais. Isso levaria ao caos. Os presbíteros são um comitê da congregação? A congregação é um comitê dos presbíteros? O que acontece quando os dois corpos discordam? Quem tem a palavra final? A Bíblia, com sabedoria, deixa o governo da igreja aos presbíteros, homens que são dotados, chamados e separados para esse ofício, homens que a congregação elegeu para liderar a igreja.
Próxima semana tem mais…
Deus nos abençoe.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
MAIS PERGUNTAS…
Na pastoral passada, respondemos o questionamento se todas as igrejas não-presbiterianas não são igrejas de verdade? Temos defendido o governo bíblico da igreja, que as igrejas presbiterianas afirmam ser exclusivamente derivado das Escrituras. Nosso compromisso com o presbiterianismo é essencialmente bíblico, não meramente histórico, cultural ou sentimental. Enquanto algumas igrejas são independentes, sem laços governamentais entre congregações além de cooperação consultiva, outras são hierárquicas, com bispos ou arcebispos exercendo autoridade sobre várias igrejas e pastores. Apesar dessa diversidade, os presbiterianos mantêm que o presbiterianismo reflete o padrão de governo revelado nas Escrituras, embora reconheçam que outras igrejas podem divergir sem deixar de ser verdadeiras, desde que manifestem as três marcas fundamentais da igreja. A pergunta de hoje é:
COMO PODE HAVER UNIDADE NA IGREJA SE HÁ TODAS ESSAS DENOMINAÇÕES E DIVISÕES NA IGREJA?
Ninguém sabe ao certo quantas existem, mas provavelmente há centenas, até milhares, de denominações apenas dentro da igreja protestante nos Estados Unidos (no Brasil não é diferente). Algumas dessas denominações surgiram porque a fidelidade à Palavra de Deus exigia. Mas muitas não. Muitas divisões e divisões na história da igreja têm sua origem no pecado humano. Confessamos em nossos credos que a igreja é una (“Creio em uma só igreja, santa, católica e apostólica”). O Novo Testamento fala frequentemente da unidade dos crentes (João 17.22-23 e Efésios 4.4-6, por exemplo). Portanto, precisamos abordar essa questão. Como podem as igrejas que amam a Bíblia e valorizam o Evangelho tolerar a divisão da igreja?
A resposta curta é que ficamos tristes com as divisões da igreja. Qual é a resposta mais longa? Primeiro, precisamos saber o que a Bíblia identifica como a unidade da igreja. A Bíblia define unidade em termos do compromisso único da igreja com a verdade da Bíblia (Atos 2.42-47; 1 Timóteo 3.15; Filipenses 2.1516). Não pensa em unidade em termos de organização institucional ou administração sacramental. Pensa em unidade em termos da aceitação pela igreja do “todo o conselho de Deus” (Atos 20.27). À luz do que é a unidade, podemos ver por que as denominações são uma necessidade trágica na vida da igreja. A igreja é imperfeitamente santificada—assim como todo cristão é imperfeitamente santificado. Ainda há erro dentro até mesmo da igreja mais pura. Os cristãos discordam entre si sobre o que a Bíblia ensina. Algumas dessas discordâncias são menores. Outras são profundas. Então, vamos revisar nossas opções diante de nossas diferenças. Poderíamos todos tentar permanecer em uma grande igreja. O que aconteceria? Passaríamos todo o nosso tempo brigando e lutando. E então? Poderíamos facilmente nos tornar indiferentes à verdade das Escrituras. Ninguém gosta de brigas dentro da igreja, especialmente quando são amargas e prolongadas. Mas se dar bem ao preço da indiferença vem com um custo oculto e insuportável—a verdade de Deus.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Ou talvez alguém pudesse surgir que pudesse obrigar todas as partes a se dar bem. Ele poderia impor a unidade de cima. Isso poderia acalmar as coisas por um tempo. Mas viria a um custo alto—a consciência dos crentes seria obrigada à autoridade humana dentro da igreja. E, mais uma vez, a verdade de Deus é um preço alto a pagar.
Resta apenas uma opção. Devemos nos dividir em denominações que confessam a verdade como cada um entende que ela é ensinada nas Escrituras. Ainda somos capazes de reconhecer uns aos outros como igrejas. Ainda reconhecemos os ministros e sacramentos uns dos outros. Somos até capazes de adorar e servir juntos de maneiras que expressam nossa irmandade em Cristo. Como diz corretamente o Livro de Ordem da Igreja Presbiteriana na América, nossa situação atual de divisão denominacional “obscurece” a “unidade visível do corpo de Cristo”, mas não a “destrói”. É quando reconhecemos outras igrejas verdadeiras como igrejas verdadeiras que somos capazes de testemunhar a unidade que é nossa em Cristo.
Próxima semana tem mais…
Deus nos abençoe.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
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Na pastoral passada, respondemos à pergunta sobre o que se deve procurar em uma nova igreja no caso de mudança de cidade. Vimos que historicamente, as igrejas protestantes identificaram três marcas de uma igreja verdadeira e evangélica: a pregação pura da Palavra de Deus, a administração correta dos sacramentos e a prática da disciplina eclesiástica. A igreja deve enfatizar a doutrina, abraçar uma confissão de fé e ter o ensino das Escrituras como o principal destaque no culto, evidenciado na leitura bíblica, orações, cânticos e sermões. A segunda marca é a administração bíblica dos sacramentos, como o batismo e a Ceia do Senhor, que devem ser observados de forma reverente e conforme a Bíblia. A terceira é a prática da disciplina eclesiástica, que começa com a autodisciplina ao aplicar a Bíblia à própria vida e continua com a disciplina formal quando necessário, sempre de acordo com os padrões bíblicos e com espírito de amor. A pergunta de hoje é:
Você está dizendo que todas as igrejas não presbiterianas não são igrejas de verdade?
De forma alguma! Temos argumentado a favor do governo bíblico da igreja. As igrejas presbiterianas acreditam que seu governo é derivado exclusivamente das Escrituras. Nosso compromisso com o presbiterianismo não é histórico, cultural ou sentimental. É bíblico. Acreditamos que o presbiterianismo é a forma de governo que Cristo deu à sua igreja na Bíblia. E quanto às igrejas que não são presbiterianas? Algumas igrejas são independentes. Cada congregação é independente de outras congregações. Pode haver laços ou vínculos de comunhão entre várias congregações. Elas podem cooperar em missões locais ou estrangeiras. Suas associações ou convenções podem abordar questões contemporâneas de tempos em tempos. Mas essas conexões entre congregações não são governamentais. Elas são consultivas. Nenhuma associação ou convenção pode obrigar qualquer congregação a fazer algo que ela não queira fazer. A autoridade e o governo existem apenas na congregação local.
Outras igrejas são hierárquicas. Igrejas em uma área específica (uma diocese, por exemplo) são presididas por um bispo. O bispo tem autoridade sobre todas as igrejas e pastores (ou padres) sob sua responsabilidade. Ele é o pastor dos pastores. Ele tem o poder de ordenar, disciplinar, colocar um pastor no cargo e remover um pastor do cargo. Em alguns corpos eclesiásticos, há ainda oficiais superiores (arcebispos, por exemplo). A autoridade e o governo vêm de cima para baixo. O que acabamos de descrever retrata a maioria das igrejas no mundo hoje. Causaria surpresa se um presbiteriano desconsiderasse a maioria dos cristãos do mundo por causa—de todas as coisas— do governo da igreja. Felizmente, essa não é a posição que os presbiterianos têm ou mantêm.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Os presbiterianos sustentam firmemente sua convicção de que o presbiterianismo é o padrão de governo revelado nas Escrituras. Como tal, não nos é permitido adicionar ou tirar nada dele. Sua sabedoria e autoridade não vêm de seres humanos. Vêm de Deus. Ao mesmo tempo, reconhecemos que nem todas as igrejas concordam conosco, e essa discordância não significa que elas não são igrejas verdadeiras. Lembrem-se das três marcas da igreja que mencionamos acima. Contanto que uma igreja apresente essas marcas, ela é uma igreja verdadeira.
Os presbiterianos acreditam que o presbiterianismo é a maneira pela qual uma igreja pode ser mais consistentemente e fielmente bíblica em sua vida e trabalho. Precisamos enfatizar que nenhuma forma de governo tem poder para construir ou expandir a igreja. Somente o Espírito Santo é capaz de fazer isso. Isso significa que o governo da igreja presbiteriana não substitui o trabalho do Espírito Santo na vida da igreja. Uma igreja pode ter uma ordem eclesiástica impecável, mas sem vida. Outra igreja pode ter uma ordem eclesiástica deficiente, mas vida genuína. (Se você tivesse que escolher, escolha a última.) Mas boa ordem e vida espiritual devem andar juntas. É isso que os presbiterianos oram—não apenas por si mesmos, mas por toda a igreja.
Como pode haver unidade na igreja se há todas essas denominações e divisões na igreja?
Ninguém sabe ao certo quantas existem, mas provavelmente há centenas, até milhares, de denominações apenas dentro da igreja protestante nos Estados Unidos (no Brasi não é diferente). Algumas dessas denominações surgiram porque a fidelidade à Palavra de Deus exigia. Mas muitas não. Muitas divisões e divisões na história da igreja têm sua origem no pecado humano.
Confessamos em nossos credos que a igreja é una (“Creio em uma só igreja, santa, católica e apostólica”). O Novo Testamento fala frequentemente da unidade dos crentes (João 17.22-23 e Efésios 4.4-6, por exemplo). Portanto, precisamos abordar essa questão. Como podem as igrejas que amam a Bíblia e valorizam o Evangelho tolerar a divisão da igreja?
A resposta curta é que ficamos tristes com as divisões da igreja. Qual é a resposta mais longa? Primeiro, precisamos saber o que a Bíblia identifica como a unidade da igreja. A Bíblia define unidade em termos do compromisso único da igreja com a verdade da Bíblia (Atos 2.42-47; 1 Timóteo 3.15; Filipenses 2.15-16). Não pensa em unidade em termos de organização institucional ou administração sacramental. Pensa em unidade em termos da aceitação pela igreja do “todo o conselho de Deus” (Atos 20.27).
À luz do que é a unidade, podemos ver porque as denominações são uma necessidade trágica na vida da igreja. A igreja é imperfeitamente santificada—assim como todo cristão é imperfeitamente santificado. Ainda há erro dentro até mesmo da igreja mais pura. Os cristãos discordam entre si sobre o que a Bíblia ensina. Algumas dessas discordâncias são menores. Outras são profundas. Então, vamos revisar nossas opções diante de nossas diferenças. Poderíamos todos tentar permanecer em uma grande igreja. O que aconteceria? Passaríamos todo o nosso tempo brigando e lutando. E então? Poderíamos facilmente nos tornar indiferentes à verdade das Escrituras. Ninguém gosta de brigas dentro da igreja, especialmente quando são amargas e prolongadas. Mas se dar bem ao preço da indiferença vem com um custo oculto e insuportável—a verdade de Deus. Ou talvez alguém pudesse surgir que pudesse obrigar todas as partes a se dar bem. Ele poderia impor a unidade de cima. Isso poderia acalmar as coisas por um tempo. Mas viria a um custo alto a consciência dos crentes seria obrigada à autoridade humana dentro da igreja. E, mais uma vez, a verdade de Deus é um preço alto a pagar.
Resta apenas uma opção. Devemos nos dividir em denominações que confessam a verdade como cada um entende que ela é ensinada nas Escrituras. Ainda somos capazes de reconhecer uns aos outros como igrejas. Ainda reconhecemos os ministros e sacramentos uns dos outros. Somos até capazes de adorar e servir juntos de maneiras que expressam nossa irmandade em Cristo. Como diz corretamente o Livro de Ordem da Igreja Presbiteriana na América, nossa situação atual de divisão denominacional “obscurece” a “unidade visível do corpo de Cristo”, mas não a “destrói”. É quando reconhecemos outras igrejas verdadeiras como igrejas verdadeiras que somos capazes de testemunhar a unidade que é nossa em Cristo.
Próxima semana tem mais…
Deus nos abençoe.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
MAIS PERGUNTAS…
Na pastoral passada, respondemos à pergunta sobre o que fazer se a igreja que lhe interessa não possui filiação de membros? A resposta sobre se comprometer depende de vários fatores. Algumas igrejas não oferecem filiação formal, o que pode comprometer a disciplina bíblica e a sanidade do rebanho. No entanto, se essa igreja ensina fielmente a Palavra de Deus, possui culto reverente, presbíteros capazes e evidências de vitalidade espiritual, pode ser importante observar mais de perto. Também seria importante investigar como a igreja lida com questões de pecado, liderança e responsabilidade financeira. A pergunta de hoje é:
ESTOU ME MUDANDO PARA UMA NOVA CIDADE. O QUE DEVO PROCURAR EM UMA NOVA IGREJA?
Vivemos em uma sociedade móvel. A maioria de nós já se mudou em algum momento da vida – seja como criança, quando fomos para a faculdade, para um novo emprego ou para viver perto de pais, filhos ou netos. Mesmo aqueles de nós que não se mudaram muito têm familiares que o farão. Eles podem nos pedir conselhos sobre qual igreja devem assistir.
O momento de responder a essa pergunta não é quando você desempacotar sua última caixa em sua nova casa.
O momento de responder a essa pergunta é agora! Você precisa ter uma compreensão clara e bíblica do que procurar em uma igreja para que, quando vir uma boa igreja, você saiba disso. Você também precisará descobrir quais igrejas evitar. Nem toda congregação que se autodenomina igreja é uma igreja verdadeira (Apocalipse 2.9). Elas podem ter um belo edifício, pessoas amigáveis e uma creche limpa. Para ter certeza, igrejas verdadeiras podem ter essas coisas, mas igrejas falsas também. Você está confiando o cuidado de sua alma e das almas de sua família à supervisão de pastores espirituais. Você não seria descuidado na escolha de um médico para tratar uma condição médica grave. Você não deveria ser descuidado na escolha de uma igreja também.
Então, o que você está procurando? Historicamente, as igrejas protestantes apontaram para três marcas de uma igreja verdadeira e evangélica. Esses identificadores ajudam você a ver se uma congregação local é uma igreja genuína de Jesus Cristo. A primeira e mais importante é a pregação pura da Palavra de Deus. A igreja enfatiza a doutrina? Ela abraça uma confissão? Se sim, qual ou quais? Um dos conselhos mais sábios que recebi como cristão jovem foi encontrar uma igreja que tivesse uma confissão impressa. As igrejas devem ser transparentes sobre o que acreditam e por quê.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
O ENSINO DAS ESCRITURAS É O PRINCIPAL DESTAQUE DO CULTO DA IGREJA?
Isso seria evidente na leitura das Escrituras, orações bíblicas, cânticos das Escrituras e sermões cheios de conteúdo bíblico que aplicam as Escrituras à vida dos crentes. Os pastores e presbíteros são homens que entendem e podem explicar as Escrituras? Há um apetite na congregação pela Palavra de Deus? Os líderes e membros estão comprometidos em ensinar a Bíblia às crianças da igreja, compartilhá-la com a comunidade local e apoiar homens envolvidos no trabalho de plantação de igrejas aqui e no exterior? A igreja faz parte de uma denominação maior ou rede de igrejas que compartilha essas mesmas preocupações?
As outras duas marcas são decorrentes da primeira. A segunda é os sacramentos. Os sacramentos do batismo e da Ceia do Senhor são administrados biblicamente? Eles são observados de forma casual, ritualística ou reverente conforme a Bíblia? A terceira é a disciplina da igreja. A disciplina da igreja é praticada? (Lembre-se de que a disciplina começa sempre que a Bíblia é lida, ensinada e pregada. O povo de Deus está comprometido com o trabalho de autodisciplina para aplicar a Bíblia a si mesmo? A disciplina formal da igreja começa quando a autodisciplina bíblica falha.) Quando a disciplina da igreja acontece, ela é feita de acordo com os padrões da Bíblia? É feita com espírito de amor e gentileza?
Claro, há muitos outros fatores que podem ser levados em consideração depois de fazer as perguntas acima. E há uma série de intangíveis que também entram em jogo. Nem toda igreja verdadeira será o ajuste certo para você ou seu ente querido. Mas o mais importante é que você esteja confiante de que é uma igreja verdadeira. E para descobrir isso, essas três marcas servirão bem a você.
Próxima semana tem mais…
Deus nos abençoe.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
MAIS PERGUNTAS…
Na pastoral passada, respondemos duas perguntas que comumente são feitas relacionadas à membresia igreja. Primeiramente vimos que ser membro da igreja não garante salvação. A filiação pode ocorrer por uma profissão de fé crível ou pela descendência de um pai ou mãe crente, mas nenhuma dessas garante que todos os membros são salvos. Pessoas podem rejeitar a fé ou professar uma fé que não possuem genuinamente. A igreja não pode garantir a salvação; apenas Cristo pode. A membresia é um privilégio que coloca a pessoa no ambiente onde a Palavra de Deus é proclamada e o Espírito Santo atua, mas a salvação vem somente de Cristo. Depois respondemos o que é necessário para se tornar membro de uma igreja local. Para isso é importante encontrar uma boa igreja, participar de uma classe para novos membros e, após algum tempo, conversar com um pastor para iniciar o processo, que pode incluir o aprendizado sobre a doutrina da igreja, sua governança e história, e o testemunho pessoal perante os presbíteros. Na pastoral de hoje vamos responder mais duas perguntas que esperamos, seja para consolidação de todos.
O que fazer se a igreja que me interessa não tem filiação de membros?
Uma das coisas interessantes sobre a vida na igreja hoje é que o que podia ser presumido há uma ou duas gerações atrás, pode não ser mais presumido hoje. A filiação à igreja costumava ser um dado adquirido. Agora, há várias igrejas que não a oferecem (aqui o autor tem em mente seu contexto norte-americano, entretanto não é muito diferente em relação ao Brasil. Pois, há igrejas brasileiras que não consideram a importância da filiação formal da membresia. É claro que isso trará implicações prejudiciais à manutenção do rebanho nas Escrituras. Por exemplo, em um contexto assim, não há lugar para aplicação da disciplina bíblica, o que compromete a sanidade do rebanho, uma vez que a disciplina é para pureza e crescimento saudável). Em uma igreja assim, você não poderia ser membro, mesmo que quisesse. O que você deve fazer se a igreja que você gostaria de fazer parte não tem filiação de membros? Você deve se comprometer? A resposta – como em muitas áreas da vida – é “depende”. Talvez essa seja uma igreja onde a Palavra de Deus é fielmente ensinada do púlpito. O resto do culto público é reverente, honroso a Deus e alegre. Os presbíteros parecem capazes e atentos à congregação. Há evidências de vitalidade espiritual entre as pessoas. Elas são piedosas, genuinamente amigáveis e preocupadas umas com as outras e com as comunidades das quais fazem parte. E talvez não haja igreja como essa em um raio de uma hora de distância. Nesse caso, você teria uma boa razão para tentar fazer isso funcionar.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Mas talvez a igreja seja fraca em uma ou mais das áreas mencionadas. Talvez haja outras igrejas na área que sejam tão fortes ou mais fortes em ensino, adoração, pastoreio e vida congregacional. Nesse caso, você poderia tentar procurar em outro lugar. Suponha que esta igreja seja a sua melhor opção. Você pode se perguntar uma questão mais básica: Por que não há filiação de membros aqui? Talvez seja um descuido – um grande descuido! – por parte da liderança da igreja. Talvez seja sintomático de uma apatia ou até aversão ao governo da igreja. Você pode se perguntar silenciosamente algumas perguntas: Como esta igreja lida com alegações de pecado entre seus membros? Como esta igreja lida com tais alegações feitas contra seus líderes? Quais estruturas de responsabilidade estão em vigor para garantir que as finanças da igreja estejam em boa ordem, que os líderes não abusem de sua autoridade na congregação e que os membros mais vulneráveis da congregação estejam protegidos daqueles que possam tentar lhes fazer mal? Se surgir uma preocupação em qualquer uma dessas áreas na vida da igreja e não houver uma ordem bíblica já estabelecida, então a igreja pode sofrer muito.
Mas suponha que você esteja satisfeito que existem estruturas biblicamente informadas em vigor para estabelecer freios e contrapesos na liderança, para garantir imparcialidade e justiça ao lidar com alegações de pecado e para providenciar a segurança e bem-estar de todos na congregação (aqui eu, Rev. Samuel, talvez em razão de minha ignorância [admito], não consigo enxergar como isso poderia ser feito sem a estrutura bíblica de membresia que demanda direitos e obrigações, preservando a responsabilidade constitucional de todos). O que você faz com a falta de filiação de membros? Pode ser que a filiação à igreja não esteja “nos livros”, mas embora não esteja escrita, ainda faz parte real da vida daquela igreja. A igreja vive como se houvesse algo como filiação de membros nos livros. Nesse caso, você poderia dizer a si mesmo: “Há o suficiente de bom nesta igreja para que eu esteja disposto a suportar a irregularidade da filiação (e outras áreas!) e me comprometer com sua adoração e trabalho?”
Estou me mudando para uma nova cidade. O que devo procurar em uma nova igreja?
Essa pergunta responderemos próximo domingo. Deus te abençoe! Até lá, com Sua graça.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
MAIS PERGUNTAS…
Na pastoral passada, analisamos o que a Bíblia nos diz sobre o governo da igreja. Vimos que a Escritura não apenas nos orienta sobre a necessidade de um governo eclesiástico, mas também nos fornece um quadro claro do governo que Cristo estabeleceu para Sua igreja. Começamos a responder perguntas que podem surgir em relação a isso, abrangendo aspectos bíblicos, teológicos, práticos e históricos. Nosso objetivo foi e continua sendo oferecer respostas claras e substanciais para essas perguntas, demonstrando que desde o Antigo Testamento Deus sempre teve um povo para Si, que se desenvolveu e transformou ao longo da história da redenção. Na pastoral de hoje, vamos aprofundar nosso entendimento sobre a membresia da igreja e sua relação com a salvação.
Ser membro da igreja significa que estou salvo? Não!
Lembre-se de que há duas maneiras de se tornar membro da igreja. Uma é fazendo uma profissão de fé crível – uma declaração convincente de compreensão, assentimento e confiança no Senhor Jesus Cristo conforme Ele é oferecido nas Escrituras. A outra é pela descendência de pelo menos um pai crente.
Mas nenhuma dessas maneiras garante a salvação de todos os membros. A Bíblia nos diz que as pessoas podem rejeitar a fé que uma vez professaram (Hebreus 6.4-6; 1 João 2-19). Também é possível professar uma fé que alguém não possui genuinamente (Tiago 2.14-26). Os presbíteros também não são oniscientes. Eles não podem ler o coração. Simão, o Mago, professou fé e foi batizado, e mesmo assim ele estava “cheio de amargura e preso pela iniquidade” (Atos 8.23).
Quanto às crianças com um pai crente, muitas crescem e fazem uma profissão de fé crível, mas algumas não. Algumas se desviam da fé apenas para voltar anos depois. Outras deixam a igreja e nunca mais retornam. Jacó e Esaú foram criados no mesmo lar crente, mas pelo decreto eterno, soberano e imutável de Deus, Jacó foi salvo e Esaú foi preterido (Romanos 9.10-13). Estes são apenas alguns exemplos que mostram que alguém pode ser membro de uma igreja e ainda assim não ser salvo. Isso não significa que os presbíteros devem ser descuidados em seu trabalho de examinar pessoas para a membresia. Nem significa que devemos suspeitar de todos os membros de nossa igreja!
Mas isso significa que não devemos fazer nem mais nem menos da membresia da igreja do que as Escrituras fazem. É um grande privilégio ser membro da igreja. Discutimos isso em pastorais anteriores. Mas nem a igreja, nem nada do que a igreja faz tem o poder de salvar alguém. Em vez disso, a igreja apresenta Cristo Jesus, o Evangelho, diante de nós, e Suas reivindicações sobre nossa vida. A bem aventurança da membresia da igreja – para todos os membros da igreja – é estar dentro da esfera onde a Palavra de Deus é proclamada e aplicada, onde o Espírito de Deus se agrada em salvar pecadores e edificar os santos. Mas como a própria igreja deve lhe dizer, é Cristo quem salva, não a igreja.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
O que eu preciso fazer para me tornar membro de uma igreja local?
A primeira coisa a fazer é encontrar uma boa igreja.1 Depois de passar algum tempo lá, procure um dos pastores e ele o ajudará no processo. O processo que vou descrever é comum a muitas Igrejas Presbiterianas, mas você o encontrará em muitas outras igrejas também.
Muitas vezes você pode ser convidado a participar de uma classe para novos membros. Essa classe costuma ser uma breve (4-5 semanas) introdução à igreja, ministrada pelo pastor ou por um dos presbíteros. Nela você aprenderá o que a igreja acredita. Em igrejas presbiterianas, você aprenderá sobre a Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos Maior e Breve de Westminster, e pode até receber uma cópia pessoal para seu estudo.
Você aprenderá sobre o governo da denominação de sua igreja. Em Igrejas Presbiterianas, você aprenderá sobre o livro de ordem que a denominação usa – suas regras acordadas de governo, disciplina e adoração. E ainda poderá conhecer alguns dos presbíteros e diáconos dessa igreja.
Você também aprenderá sobre a história da sua Igreja e da denominação e tradição da qual ela faz parte. Em Igrejas Presbiterianas, você pode aprender sobre a história do presbiterianismo (inclusive suas divisões!) e da Igreja desde a Reforma (as igrejas mais fortes sabem que suas raízes estão profundamente na história da igreja, mesmo que olhem somente para a Escritura como sua autoridade para fé e prática.)
E você provavelmente aprenderá sobre a história, os ministérios e as prioridades daquela congregação. Cada congregação tem sua própria “cultura” (na falta de uma palavra melhor). Boas igrejas são honestas sobre quem são – com todas as suas imperfeições – e querem que você se junte a elas de olhos bem abertos.
Nesse ponto, você vai querer revisar as perguntas de membresia que pode ser convidado a afirmar. Dê-se um tempo para estudá-las. Compare-as com as Escrituras. Faça quaisquer perguntas que você tenha. Ore sobre elas. Se e quando estiver pronto, informe a um dos presbíteros que gostaria de se reunir com o Conselho para se juntar à igreja.
Eles ouvirão seu testemunho – uma declaração de sua compreensão do Evangelho e de seu chamado para ser um discípulo de Jesus Cristo. Os presbíteros podem fazer algumas perguntas durante o processo. Eles então votarão. Se tudo correr bem, você será recebido como membro dessa igreja! Você pode ser posteriormente convidado a afirmar as perguntas de membresia diante da congregação e ser bem-vindo pela congregação como seu mais novo membro. Bem-vindo à sua nova igreja!
Próxima semana tem mais…
Deus nos abençoe.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
MAS, E QUANTO A…?
Até agora, temos analisado o que a Bíblia diz sobre o governo da igreja. Ela não apenas nos diz que precisamos de governo na igreja, mas também nos informa qual é esse governo. Esboçamos um quadro do governo que Cristo deu à Sua igreja nas Escrituras. Existem várias perguntas que poderíamos fazer sobre o que já vimosos. A seguir, vamos examinar algumas das perguntas mais importantes e comuns que surgem. Algumas dessas perguntas são bíblicas e teológicas. Outras são práticas. Algumas são históricas. Algumas vêm de não presbiterianos. A maioria dessas perguntas é uma combinação de todas essas. Nosso objetivo será oferecer uma resposta clara, concisa e substancial para cada pergunta.
ONDE ESTAVA A IGREJA ANTES DO NOVO TESTAMENTO?
Às vezes, diz-se que a igreja não existia antes do dia de Pentecostes. Alguns vão ainda mais longe e dizem que o Antigo Testamento não fala da igreja, nem mesmo em suas profecias. Mas vimos já vimos em abordagens anteriores que Deus tem um povo ao longo de toda a história da redenção. O verdadeiro Israel e a igreja são um único e mesmo povo. Desde o momento em que Deus declarou Seu propósito de salvar pecadores em Cristo (Gênesis 3.15), Ele começou a chamar pecadores para Si. Já em Gênesis 4.26, aprendemos que Deus havia separado um povo para Si, para adorá-Lo. Esse povo estava amplamente confinado a uma família nos dias de Abraão, Isaque e Jacó. Aqueles que não eram membros dessa família, no entanto, podiam se tornar parte do povo da aliança de Deus (17.12). Essa família se tornou uma nação nos dias do Êxodo. E mesmo então, Deus estava trazendo, de tempos em tempos, pessoas não judias (como Raabe e Rute) para o Seu povo.
Ao longo do Antigo Testamento, Deus estava ensinando esse povo sobre a pessoa e obra de Cristo. Essa era Sua intenção ao dar o elaborado sistema de leis que encontramos em Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Agora que Cristo veio, esse sistema cumpriu seu propósito e expirou. Após a ressurreição de Cristo, Deus não criou um novo povo. Ele mudou a forma e o formato do povo que Ele já tinha. Cristo completou Sua obra de redenção para pecadores de todas as eras. Essa transformação do único povo de Deus reflete essa conquista monumental na história.
Por essa razão, Deus removeu todas as distinções que a lei do Antigo Testamento havia estabelecido entre judeus e gentios (Efésios 2:11–22). Somos todos—judeus e gentios—agora um em Cristo (Gálatas 3.28). Adoramos a Deus à luz da obra consumada de Cristo (João 4.23–24). E obedecemos à lei de Deus como essa lei encontrou seu cumprimento em Cristo (Mateus 5.17–18; Gálatas 6.2). Como Paulo coloca, somos a verdadeira “circuncisão”, “o Israel de Deus” (Filipenses 3.3; Gálatas 6.16).
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Portanto, o povo de Deus sempre confiou em Cristo, obedeceu à lei de Deus em agradecimento pelas misericórdias de Deus em Cristo e adorou a Deus por meio da mediação de Cristo. Israel— a “igreja sob idade” de Deus (CFW 19.3) fazia essas coisas nas sombras. A igreja da nova aliança faz essas mesmas coisas à plena luz da obra consumada de Cristo encarnado.
EU PRECISO SER MEMBRO DE UMA IGREJA?
Sim! Esta é uma daquelas perguntas que não podem ser respondidas por um comando explícito em uma das cartas de Paulo que diga: “Tu deves ser membro da tua igreja local.” Nem Lucas diz em algum lugar em Atos: “E eis que Barnabé tornou-se membro da igreja em Jerusalém.” Mas podemos fazer um caso convincente de que a membresia na igreja é totalmente bíblica. Aqui estão algumas razões. Por um lado, vemos em Atos (e nas cartas) um padrão comum. Uma vez que as pessoas vêm à fé em Cristo, elas imediatamente continuam suas vidas cristãs no contexto de uma comunidade local de companheiros discípulos. Pense em todos os mandamentos de “uns aos outros” espalhados pelas cartas do Novo Testamento. Essas cartas assumem que os crentes estão em relacionamento regular e contínuo com crentes vizinhos. A vida cristã é vivida nesse tipo de comunidade.
A censura mais séria que a igreja pode impor na disciplina eclesiástica é a excomunhão—quando os presbíteros removem alguém que foi encontrado culpado de pecado e não se arrependeu do convívio da igreja. Vemos Paulo ordenando a igreja a fazer isso em 1 Coríntios 5.1–13. Mas a única maneira pela qual a igreja pode remover alguém de seu convívio é se primeiro a tiver trazido para esse convívio. A menos que a membresia na igreja seja um requisito bíblico, então a excomunhão (e toda a disciplina que leva a ela) é sem sentido.
Lembre-se também de que os crentes têm um relacionamento particular e especial com seus presbíteros (Hebreus 13.17; 1 Tessalonicenses 5.12–13). Os presbíteros da igreja, nos diz Hebreus, terão que “prestar contas” (13.7). Quando? No último dia. Para quem? Para Cristo, o “grande Pastor das ovelhas” (v. 20). Por quem? Não por cada membro de todas as igrejas do mundo, mas por aqueles sob seus cuidados na igreja local. Como os presbíteros sabem quais ovelhas estão sob seus cuidados? A membresia na igreja responde a essa pergunta. A membresia na igreja não é opcional ou um extra na vida cristã. Não é simplesmente para os discípulos avançados ou maduros. É para todos nós. O discipulado bíblico não faz sentido sem a membresia na igreja.
Próxima semana tem mais…
Deus nos abençoe.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
A IGREJA E A ORDENAÇÃO
A ordenação é realmente o ponto final de um longo processo. Todo homem que é chamado para o exercício do ofício na igreja tem se preparado para isso há muito tempo. Isso não é acidental. É a vontade de Deus nas Escrituras. “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos,” Paulo diz a Timóteo (1 Tim. 5.22). Então, quais são as qualificações para o cargo? Quais são os passos no processo de ordenação? Qual é o papel que Deus quer que Sua igreja desempenhe ao levantar homens para servir como presbíteros e diáconos?
A Bíblia lista qualificações para presbíteros e diáconos em 1 Timóteo 3 e em Tito 1. Cada lista de qualificações tem três elementos. O primeiro é doutrinário. Presbíteros devem conhecer e ser capazes de articular, aplicar e defender a verdade das Escrituras (1 Tim. 3.2; Tito 1.9). Diáconos não precisam ser capazes de ensinar, mas devem igualmente ser firmes na fé (1 Tim. 3.9). O segundo é moral. De maneira esmagadora, as qualificações para o cargo estão relacionadas ao caráter do homem—sua conduta em privado, em casa, em seus negócios e na igreja (1 Tim. 3.1–7; Tito 1.5–9). Oficiais devem dar exemplo para toda a congregação seguir. Eles precisam ser homens piedosos com liderança demonstrada no lar (1 Tim. 3.5, 12) para que possam governar e servir bem na igreja. O terceiro é o teste. Tanto presbíteros quanto diáconos devem ser examinados ou testados antes de serem admitidos ao cargo (1 Tim. 3.10; 5.22). A igreja precisa de tempo para discernir se um homem possui os dons que a Bíblia exige para o cargo. Isso acontecerá enquanto o homem serve na igreja ao longo de um período e enquanto a igreja vê seus dons em ação. Quando eles veem que se beneficiam de seus dons em ação, eles o encorajam a exercer esses dons como um oficial da igreja.
Deus não pretende que todos os dons—nem a maioria dos dons—sejam formalmente examinados e reconhecidos na igreja. Os dons que pertencem a presbíteros e diáconos, no entanto, devem ser examinados e reconhecidos. A conclusão desse processo de exame e teste é a ordenação. O que é ordenação? Aqui está uma definição breve: “Ordenação é a admissão autoritativa de alguém devidamente chamado para um cargo na Igreja de Deus, acompanhada de oração e imposição de mãos, à qual é apropriado dar a destra de comunhão.” A ordenação marca o início do exercício de certos dons por um homem como um oficial da igreja. A ordenação é uma ação da igreja. Em particular, é o ato dos presbíteros. Esse foi o caso com Timóteo (1 Tim. 4.14) e foi o caso com Paulo e Barnabé (Atos 13.1–3). Como um homem chega ao ponto de ser ordenado como presbítero ou diácono na igreja local? Ele deve estar disposto a servir e ter um senso de que possui dons dados por Deus para servir a igreja como um oficial. Ele deve ser identificado e escolhido pela congregação. Isso é o que vemos com os sete homens que se tornam os primeiros diáconos da igreja em Atos 6.1–6. A igreja em Jerusalém tem o direito inegável de escolher seus próprios oficiais. Uma vez que a congregação faz sua escolha, esses homens estão prontos para serem ordenados.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Mas há outra parte crucial nesse processo. Candidatos ao cargo também devem ser examinados, testados e aprovados pelos presbíteros. Esse trabalho faz parte do chamado dos presbíteros para governar e dirigir a igreja. A razão pela qual os apóstolos estavam ansiosos para ordenar os primeiros sete diáconos é que eles claramente cumpriam as qualificações para esse cargo (Atos 6.5–6).
Então, membros da congregação indicam homens que acreditam ser qualificados para o cargo (e que acreditam serem chamados para o cargo). Uma vez que os presbíteros examinem e confirmem que esses homens possuem os dons e qualificações para o cargo, eles os apresentam à congregação. Os membros da congregação são livres para elegê-los para o cargo, se desejarem.
E então vem a ordenação. A ordenação geralmente ocorre quando a igreja se reúne para o culto. Os presbíteros separam e admitem esses oficiais-eleitos ao cargo. Eles frequentemente o fazem com oração e imposição de mãos (Atos 13.3). Muito frequentemente, esses novos oficiais prometem perante toda a igreja seu compromisso com a sã doutrina e a servir fielmente como oficiais na igreja. A congregação também promete seu apoio, submissão e encorajamento a esses homens no trabalho que estão prestes a começar.
A ordenação é um momento maravilhoso na vida de qualquer igreja. Vemos novas evidências do reinado de Cristo, que dá dons à Sua igreja. Estimamos os presbíteros que treinaram e examinaram os homens que estão prestes a iniciar este novo ministério. Somos gratos por termos tido a oportunidade de identificar, escolher e encorajar esses homens a continuar a nos servir, agora de uma maneira mais formal. É assim que a igreja deve funcionar.
E então…?
Saber sobre a ordenação é uma grande ajuda e encorajamento para viver bem nossas vidas cristãs. Primeiro, o próprio processo—da indicação à ordenação—envolve toda a igreja. Cada membro do corpo faz sua parte. Isso é um sinal de vida e saúde em nosso corpo local. Uma razão pela qual devemos saber sobre os passos em direção à ordenação é que, quando testemunhamos esse processo, podemos ser gratos a Deus pelo que Ele está fazendo na vida da nossa igreja. Segundo, devemos ser encorajados que os passos para a ordenação são rigorosos e lentos. Muito dano pode ser causado—e tristemente, tem sido causado—quando homens não qualificados entram no cargo ou quando homens bons são colocados muito cedo no cargo. Os detentores de cargos têm grandes responsabilidades e desempenham um papel importante no bem-estar da nossa igreja e no nosso próprio crescimento cristão. Queremos que eles sejam avaliados e estejam prontos. Os passos bíblicos que descrevemos ajudam a trazer isso à tona. Terceiro, nos serviços de ordenação, como mencionamos, fazemos ou renovamos nosso compromisso de apoiar, honrar e encorajar os oficiais da igreja. Esse é um bom momento para revisar nossos corações e vidas nesse aspecto do discipulado. Há áreas nas quais eu preciso crescer? Preciso pedir ao Senhor perdão e graça para eu mudar para que possa seguir melhor esses compromissos? Lembre-se, a vida e o crescimento cristão não são individualistas. Não ocorre em solidão. É pessoal e individual. Mas acontece no contexto de nossos relacionamentos com outros crentes… e com nossos oficiais. Serviços de ordenação são bons exames para monitorar nossa saúde espiritual nessa área do nosso chamado para seguir Jesus.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
OS CONCÍLIOS DA IGREJA
Os presbíteros da igreja fazem todo tipo de coisas na igreja. Eles ensinam na escola dominical, pregam aos domingos, visitam a congregação em suas casas e no hospital. Falam de Jesus Cristo aos outros. Estas são as coisas que eles podem fazer sozinhos. Mas você pode ter notado que há algumas coisas que os presbíteros só fazem juntos. Se você se juntou a uma Igreja Presbiteriana, então você se encontrou com os presbíteros. Eles votaram para recebê-lo na membresia da igreja. Quando os presbíteros precisam fazer o difícil trabalho da disciplina eclesiástica, isso é algo que eles fazem juntos, como um grupo. E se você faz parte de uma Igreja Presbiteriana, pode ter ouvido os presbíteros falarem sobre presbitério ou assembleia geral. Este padrão não é acidental. Ele reflete o ensino das Escrituras, para o qual nos voltamos agora. Vamos ver alguns exemplos das Escrituras de presbíteros se reunindo em assembleias (reuniões de Conselho). Depois vamos examinar o trabalho que as Escrituras confiam a esses presbíteros reunidos. Então, vamos pensar em como tudo isso importa para a nossa vida cristã. Observamos aqui que o padrão do Novo Testamento é que cada congregação seja servida por uma pluralidade de presbíteros. Em outras palavras, não há exemplo de uma igreja governada por um único presbítero. Deus quer muitos presbíteros residentes para servir cada congregação (Atos 14.23; Tito 1.5). Uma das razões pelas quais há muitos presbíteros em cada congregação é que Deus tem trabalho para eles fazerem juntos. Há algumas coisas que Ele não quer que os presbíteros façam sozinhos. Ele reserva esse trabalho para os presbíteros quando se reúnem em Concílio. Os presbiterianos chamam algumas dessas reuniões de “tribunais”. Esse nome “tribunal” é significativo. Pense no que os tribunais fazem em uma nação. Quando você leva uma questão ao tribunal e a apresenta a um juiz ou júri, o que você está tentando fazer? Você está tentando obter justiça. Você quer que o tribunal declare e faça cumprir a lei. Isso é exatamente o que os tribunais da igreja fazem. Eles não estão criando leis. Apenas o Rei Jesus pode fazer leis para Seu povo, e Ele fez isso para nós na Bíblia. Os tribunais da igreja declaram, fazem cumprir e aplicam a lei que Cristo nos deu nas Escrituras. A autoridade deles não vem deles mesmos. Vem de Cristo. Suas decisões e ações têm autoridade quando estão em conformidade com o ensino da Bíblia. Temos alguns exemplos dessas reuniões conciliares no Novo Testamento. Vemos em Atos 11.30 a igreja em Antioquia decidindo enviar fundos de auxílio por meio de Barnabé e Saulo aos presbíteros das igrejas na Judeia. Esses presbíteros, por sua vez, distribuirão esse auxílio aos necessitados entre essas igrejas. Vemos presbíteros se reunindo em Jerusalém para resolver uma controvérsia doutrinária profundamente divisiva (15.2, 4, 6). A decisão deles é transmitida às igrejas na Ásia Menor (16.4). Vemos Paulo se dirigindo aos presbíteros reunidos na igreja em Éfeso (20.17) e, posteriormente, se encontrando com os presbíteros da igreja em Jerusalém (21.18). Vemos que os presbíteros se reuniram para separar Timóteo para o ministério do evangelho (1 Tim. 4.14).
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Que tipo de trabalho Deus confiou às reuniões conciliares?
Há três tipos básicos de trabalho: O primeiro diz respeito à doutrina ou ensino. Os presbíteros têm a responsabilidade de garantir a pureza do ensino na igreja. Eles devem responder ao erro quando ele surge e ameaça o bem-estar do rebanho. Eles estão disponíveis para ajudar a igreja a resolver questões difíceis relacionadas ao ensino das Escrituras. Um exemplo brilhante desse trabalho no Novo Testamento é o conselho de presbíteros que se reuniu em Jerusalém em Atos 15. Uma questão que tocava o Evangelho estava dividindo a igreja — você precisa ser circuncidado para ser salvo? Não. O conselho se reuniu e deu uma resposta clara e decisiva a essa pergunta. O trabalho dos presbíteros aqui ajudou a restaurar a paz e a unidade à igreja e a promover seu trabalho de estender o evangelho às nações (15.30–35; 16.1–5). O segundo trabalho que os presbíteros realizam juntos diz respeito à ordem. Os presbíteros precisam desenvolver regras e procedimentos — em obediência às Escrituras, é claro — para que o trabalho da igreja possa prosseguir de maneira ordenada. Imagine se não houvesse regras para o culto no domingo de manhã. Nenhum horário para se reunir definido, nenhuma ordem de culto preparada, ninguém sabe se o serviço durará uma hora ou o dia inteiro. Seria um caos! E sabemos que Deus quer que o culto seja ordenado, não caótico (1 Co 14.33, 40). Como os presbíteros são encarregados de governar a igreja, cabe a eles estabelecer essas regras. E a igreja não precisa apenas dessas regras para o culto. Precisa delas para plantação de igrejas e missões. Precisa delas para casos de disciplina eclesiástica. Precisa delas para todos os detalhes do governo da igreja. O terceiro trabalho que os presbíteros realizam juntos diz respeito à disciplina. Os presbíteros, como vimos, são chamados a governar ou reger a igreja, sob a lei de Cristo, é claro. Isso significa que os presbíteros supervisionam quem entra na igreja e quem sai da igreja. Por essa razão, são os presbíteros que admitem pessoas à membresia da igreja (e à Ceia do Senhor). E são os presbíteros que exercem a disciplina eclesiástica, até mesmo ao ponto de remover pessoas da igreja.
Doutrina. Ordem. Disciplina.
Isso abrange a gama de trabalho que Cristo Jesus chama os presbíteros a realizarem juntos. Os presbíteros fazem isso a nível da igreja local. Você pode não perceber, mas os presbíteros da sua igreja se reúnem frequentemente, e muitas vezes por longos períodos de tempo. Você não vê muito do trabalho que eles fazem, e isso é um crédito à sua liderança sábia e diligente. Os governos mais bem administrados são aqueles que você mal percebe. Mas os presbíteros não se reúnem apenas localmente. Na Igreja Presbiteriana do Brasil, os presbíteros se reúnem em Presbitério (regional), Sínodo (mais amplo geograficamente que o presbitério) e em nível nacional (Supremo Concílio). Essas assembleias não se reúnem com tanta frequência quanto as locais. Mas elas se reúnem regularmente, e seu trabalho não é menos importante.
Qual é a base bíblica para essas assembleias?
Lembre-se de que a igreja em Atos cresceu em um ritmo exponencial. Em Jerusalém, havia, em questão de semanas ou meses, milhares de crentes. Nesse tempo, esses crentes se reuniam em casas. Isso significa que havia múltiplas congregações espalhadas pela cidade e região. Essas congregações, como vimos, cada uma tinha seu próprio conjunto de presbíteros. E assim, quando lemos sobre os presbíteros em Jerusalém se reunindo, como fazem em Atos 21.18, esses são presbíteros representando as várias congregações espalhadas pela cidade. Isso é o que hoje chamaríamos de uma reunião do “presbitério” em Jerusalém. O mesmo é verdadeiro para a reunião de presbíteros em Éfeso (Atos 20) e em Antioquia (11.30) que Lucas menciona em Atos. Temos uma assembleia ainda maior mencionada em Atos 15. Aqui temos presbíteros reunidos de Antioquia, Jerusalém e provavelmente algumas outras igrejas. Eles são enviados por suas igrejas como representantes (v. 2) para servir a igreja tão amplamente quanto representada naquela assembleia.
Como esses diferentes níveis (ou graus) de assembleias eclesiásticas se relacionam entre si?
O Novo Testamento nos dá alguns princípios de trabalho importantes. Em primeiro lugar, cada nível de assembleia de presbíteros supervisiona uma esfera apropriada a ele. O Conselho cuida das necessidades da congregação local; o presbitério, das necessidades das igrejas dentro de uma região estabelecida; O Sínodo do mesmo modo, em uma esfera geográfica um pouco mais abrangente que o Presbitério, e o Supremo Concílio, das necessidades de todas as igrejas sob sua autoridade. Nenhum concilio, mesmo um concílio superior, pode interferir à vontade (sem respeitar os trâmites constitucionais) em outro concílio.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
AINDA SOBRE OS OFÍCIOS NA IGREJA…
Somente dois ofícios?
A igreja tem apenas dois ofícios. Aqui é um ponto onde crentes presbiterianos e reformados têm um desacordo amigável e interno. Igrejas Reformadas (Dortianas) e muitos presbiterianos veem três ofícios no Novo Testamento: ministro, presbítero e diácono. Muitos outros presbiterianos veem apenas dois ofícios no Novo Testamento: presbítero e diácono. O número de ofícios permanentes na igreja do Novo Testamento é uma questão difícil de resolver definitivamente a partir das Escrituras. Homens piedosos e instruídos diferiram caridosamente e ainda diferem. Com isso em mente, podemos explorar a visão de que o Novo Testamento aponta para dois ofícios permanentes na igreja.
O primeiro ofício é o ofício de presbítero, que é um ofício de governo. O segundo ofício é o ofício de diácono, que é um ofício de serviço. Como oficiais, presbíteros e diáconos têm autoridade na igreja. Mas eles têm autoridade em esferas diferentes. Cristo deu a cada conjunto de oficiais um conjunto único de dons e chamados para fazer o trabalho que Ele lhes designou. Vamos examinar cada um desses ofícios.
O ofício de presbítero nos é familiar a partir do Antigo Testamento. No Antigo Testamento e nos Evangelhos, vemos presbíteros servindo como líderes espirituais do povo de Deus. Após o Pentecostes, vemos os presbíteros dando continuidade no serviço à igreja. Aprendemos que congregações individuais eram servidas por um grupo de presbíteros (1 Pe 5.1; Fil 1.1; 1 Tes 5.12–13; Tt 1.5; Hh 13.17). Isso não foi por acaso. Em cada igreja que o apóstolo Paulo estabeleceu, ele fez questão de estabelecer um corpo de presbíteros (At 14.23; Tt 1.5). Cada congregação no Novo Testamento tinha múltiplos presbíteros.
O que os presbíteros fazem?
Eles fazem várias coisas. Por exemplo, os presbíteros devem ser capazes de ensinar o povo de Deus a verdade das Escrituras de uma forma que o povo possa entender (1 Tm 3.2). Isso pode acontecer durante a pregação formal do púlpito, ensino durante a Escola Dominical, ou reuniões individuais na cafeteria local. Também vimos que os presbíteros são chamados a exercerem o pastorado de fato. Eles cuidam do rebanho da maneira que Jesus gostaria que cuidassem. Eles alimentam, lideram, protegem. Os presbíteros são chamados a governar ou dirigir (1 Tm 5.17). Eles administram os assuntos da igreja. É enquanto ensinam e pastoreiam o rebanho que eles governam ou dirigem o rebanho.
1A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Alguns entendem o ofício de ministro como distinto do ofício de presbítero. Mas outros entendem que o Novo Testamento diz que há um ofício de presbítero, mas dois tipos de presbíteros: o presbítero docente (ou ministro ou pastor) e o presbítero regente. Todos os presbíteros governam ou dirigem na igreja. Alguns presbíteros, no entanto, fazem o trabalho adicional de ministrar a Palavra e os sacramentos em tempo integral, como vocação. Estes são os presbíteros, Paulo diz, que “se afadigam na pregação e no ensino” (1 Tm 5.17 ARA). Ministros e presbíteros não ocupam dois ofícios diferentes. Eles ocupam o mesmo ofício. Mas Cristo dotou e chamou presbíteros docentes para assumir responsabilidades adicionais em seu ministério à igreja. Presbíteros docentes e regentes têm algumas diferenças funcionais, mas ocupam o mesmo ofício de presbítero.
O segundo ofício é o ofício de diácono. Os diáconos surgiram em um momento de crise no início da história da igreja. Lucas nos conta sobre essa crise em Atos 6.1–6. A igreja estava crescendo, mas parecia haver dores de crescimento: “uma murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque suas viúvas eram desprezadas na distribuição diária” (v. 1). Essa divisão ameaçava dividir a igreja. Os apóstolos tomaram uma ação rápida. Eles resolveram continuar seu trabalho de “oração e ministério da palavra” (v. 4). Mas viram que a provisão para as necessidades terrenas das pessoas na igreja também requeria atenção total. Então disseram à igreja para selecionar sete homens qualificados que assumiriam o dever de servir às necessidades terrenas dos santos (v. 3). E foi exatamente isso que a igreja fez (vv. 5–6). E a igreja floresceu (v. 7).
Lucas está descrevendo os primórdios do ofício de diácono na igreja primitiva. O ofício de diácono surgiu do ofício de apóstolo. O ofício de diácono é um ofício de serviço. Eles cuidam das viúvas da igreja e de outros que têm necessidades claras e demonstradas. Eles têm que tomar decisões importantes sobre quem ajudar e como ajudar (1 Tm 5.1–16). Eles também têm que trabalhar em estreita colaboração com os presbíteros (com que frequência as necessidades terrenas estão ligadas às necessidades espirituais na igreja?).
Como os diáconos são chamados e dotados para atender especificamente às necessidades terrenas, eles também podem cuidar de qualquer edifício e propriedade que a igreja possua. Mas a principal preocupação de seu ministério são as pessoas da igreja. Dessa forma, os diáconos ajudam a igreja a expressar a unidade que tem em Cristo e a comunhão que o povo desfruta como membros de Seu corpo.
Assim, Cristo deu à igreja dois ofícios. Os presbíteros têm autoridade para governar o rebanho. Os diáconos têm autoridade para servir o rebanho. Desta forma, o “grande Pastor das ovelhas”, Rei Jesus, cuida de nós (Heb. 13.20).
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
COMO OS MINISTÉRIOS DOS OFICIAIS DA IGREJA SE RELACIONAM COM A MINHA VIDA CRISTÃ?
Na pastoral de hoje abordaremos o assunto dos oficiais da igreja. A Bíblia nos diz que Jesus designou dois ofícios permanentes para a sua Igreja e deu a cada um deles uma descrição de trabalho nas Escrituras. Analisaremos os ofícios e suas funções e nos perguntaremos: Como os ministérios dos oficiais da igreja se relacionam com a minha vida cristã?
O que é um oficial?
Um oficial é alguém que foi admitido a uma posição de autoridade. Vivemos em um mundo, infelizmente, onde pessoas em posições de poder muitas vezes abusam da autoridade. Elas enchem seus bolsos, fazem favores para amigos e se aproveitam dos pobres e vulneráveis. Mas nem o ofício nem a autoridade são coisas ruins. Uma das maneiras de sabermos disso é que Jesus designou ambos para a igreja. Jesus deixa muito claro para nós que a autoridade na igreja deve ser diferente dos exemplos de autoridade que vemos no mundo (Lucas 22.24–27). Jesus aponta para si mesmo como o exemplo de como deve ser o exercício da autoridade na igreja (“Mas eu estou entre vocês como aquele que serve”, v. 27). O que distingue a autoridade na igreja é o serviço. O ofícialato não se trata de melhorar a si mesmo. Trata-se de servir aos outros. Como tudo na vida cristã, o ofício não é sobre receber. É sobre dar.
Jesus leva isso muito a sério. Os oficiais terão que prestar contas pessoalmente a Jesus pela maneira como conduziram a si mesmos no oficialato (Hebreus 13.17). Isso é uma das razões pelas quais um homem não deve se apressar a assumir um ofício (Tiago 3.1). Mas há grande bênção e recompensa para aqueles que servem bem no oficialato (1 Pedro 5.4; 1 Timóteo 3.13). E há grande bênção que vem para o povo de Deus quando o oficialato funciona como deveria na igreja (1 Timóteo 4.16).
À luz do Novo Testamento podemos destacar três pontos básicos sobre o oficialato na igreja. Primeiro, Jesus—e somente Jesus—designa ofícios na igreja. Segundo, Ele designou dois ofícios permanentes entre Sua ressurreição e retorno: um ofício de governo (presbítero) e um ofício de serviço (diácono). Terceiro, somente os presbíteros reunidos podem governar na igreja. Por ora vamos examinar apenas o primeiro ponto.
– Somente Jesus designa ofícios na igreja. O ofício na igreja é tão importante que Jesus não deixou isso à nossa sabedoria ou entendimento. Jesus não é apenas o modelo para o oficialato na igreja. É a sabedoria dEle, e somente dEle, que decide quantos e quais ofícios haverá na igreja.
1A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Uma passagem que mostra vividamente esse ponto é Efésios 4.1–16. Aqui, o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, nos lembra da ascensão de Cristo (vv. 8–10). Depois de ter morrido e ressuscitado, Jesus Cristo ainda tinha algo a fazer por Seu povo. Em Sua humanidade glorificada e ressuscitada, Ele visivelmente ascendeu ao céu, tomando Seu lugar à direita do Pai no céu (Lucas 24.50–53; Atos 1.911). Talvez não pensemos frequentemente na ascensão de Cristo, mas é uma obra preciosa de nosso Senhor e Salvador em nosso favor. A ascensão destaca o reinado e o poder de Jesus Cristo em favor do Seu povo. Uma das coisas que Ele faz ao ascender ao céu é dar “dons aos homens” (Efésios 4.8). Esses dons, explica Paulo, são pessoas—os “apóstolos”, os “profetas”, os “evangelistas” e os “pastores e mestres” (v. 11). Esses dons-pessoas têm um trabalho importante a fazer. Eles equipam os santos com a Palavra de Deus para que os santos possam fazer “a obra do ministério” (v. 12). Dessa forma, o corpo de Cristo é edificado, estabilizado e cresce até a maturidade (vv. 12–16).
O ponto principal de Paulo nesta passagem maravilhosa é que Jesus presenteia Sua igreja com os homens que Ele capacitou e chamou para servir como oficiais na igreja. Nosso “Supremo Pastor” pastoreia Seu rebanho enviando “pastores” para servir em Seu nome e por Seu poder (1 Pedro 5.4, 2). Jesus não é um governante ausente. Ele é um governante ativo. Ele governa, guia, cuida, equipa, protege e preserva Seu rebanho, e uma das principais maneiras pelas quais Ele faz isso é através dos oficiais que Ele envia à igreja.
Em nenhum lugar do Novo Testamento vemos ofícios que Jesus não tenha introduzido ou autorizado. A igreja não tem seus ofícios porque os pegou emprestados da cultura ao seu redor, ou por experiência ou conveniência, ou por um compromisso irrefletido com a tradição. Ela tem os ofícios que tem porque o Rei vivo e ativo, Jesus, os deu a ela.
COMO O ENSINAMENTO DA BÍBLIA SOBRE A MEMBRESIA NA IGREJA ME AJUDA A VIVER BEM A MINHA VIDA CRISTÃ? PARTE II
Há pelo menos duas outras maneiras pelas quais a compreensão da membresia na igreja nos ajuda a viver melhor nossas vidas cristãs. Primeiro, a Bíblia nos mostra que a vida cristã nunca foi destinada a ser vivida em solidão. É lamentável que, por grande parte da história da igreja, monges tenham sido considerados modelos de piedade e devoção. Esse ideal é de contemplação silenciosa, na solidão de sua cela. Mas Deus pretende que vivamos a vida cristã nos chamados que Ele nos deu – nossas famílias, nossas cidades e vilas, nossos empregos e nossa igreja (1 Coríntios 7.17–24). Isso não é uma concessão relutante. Esse é o bom plano de Deus para todo o Seu povo. É igualmente lamentável que no Ocidente sejamos preparados para nos vermos como consumidores individuais. Vamos a uma igreja porque ela atende às nossas necessidades. Quando ela não atende mais às nossas necessidades ou quando nossas necessidades mudam, simplesmente pegamos nossas coisas e vamos para outro lugar. Infelizmente, até mesmo igrejas às vezes atendem a essa maneira de pensar. Mas a Bíblia nunca apela aos membros da igreja como consumidores exigentes e astutos. Nem descreve a igreja como uma fornecedora de bens e serviços em um mercado aberto e competitivo. Somos pecadores necessitados do Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Precisamos da vida e salvação que são encontradas somente nEle. Ele nos oferece gratuitamente. E todos que estão unidos ao Cabeça vivo, Cristo, estão, portanto, unidos ao Seu corpo, a igreja.
Quantos se lembram dos tempos de restrição que vivemos na pandemia? Os dias que ficamos em casa durante aquele tempo, saindo de casa raramente. Durante várias semanas, ouvi e compartilhei com crentes a falta que nos fazia o santo ajuntamento do povo de Deus, reunidos para adorar no Dia do Senhor. Quem pode negar os benefícios maravilhosos dos cultos transmitidos pela internet, ou as reuniões de estudo pela plataforma digital? Mas ao mesmo tempo que reconhecemos essas oportunidades, admitimos que não eram a mesma coisa que os encontros presenciais. O anseio de Davi no Salmo 42 de se reunir novamente com o povo de Deus em adoração ressoava em nós profundamente. Muitos de nós gemiam pela oportunidade de nos reunirmos novamente com os santos e adorarmos, reunidos em culto público presencial. Parece que Deus nos chamou realmente para vivermos juntos.
Segundo, o ensinamento da Bíblia sobre a membresia na igreja nos ajuda a ver por que devemos ministrar às crianças da igreja. Quando dizemos que as crianças da igreja são discípulas, não estamos dizendo que são regeneradas e convertidas. Oramos e esperamos que sejam, se já não forem. Estamos simplesmente dizendo sobre elas o que dizemos sobre todos os membros da igreja. Elas precisam ter o Evangelho apresentado a elas regularmente. Elas precisam ser chamadas ao arrependimento e fé em Cristo. Elas precisam ser mostradas o que é viver de uma maneira que agrade a Cristo em toda a vida. Elas precisam de encorajamento e apoio para pensar e viver como todos os discípulos devem pensar e viver.
Isso é um desafio para mães e pais honrarem os compromissos que fizemos no batismo de nossos filhos. Comprometemo-nos a ensinar a verdade das Escrituras aos nossos filhos. Comprometemonos a orar com e por eles. Comprometemo-nos a dar um exemplo piedoso para eles em casa. E nossos irmãos e irmãs na igreja prometeram que nos ajudariam a cumprir esses compromissos. Vemos nossos filhos como discípulos? Pensamos em nosso papel de pais – não apenas nas manhãs de domingo, mas o tempo todo – como o instrumento de Deus para apresentar o Salvador a esses pequeninos?
O desafio de servir aos pequeninos em nosso meio se estende a todos nós na igreja. Deus colocou cada criança em nossa membresia como um pequeno discípulo. Estamos, como igreja, comprometidos em ensinar a esses pequenos o evangelho da graça e modelar para eles o que significa viver a vida cristã? Isso exige muito planejamento, muito trabalho e muita paciência. Mas nunca devemos subestimar a capacidade das crianças de ver e absorver o que está acontecendo ao seu redor na igreja – para o bem ou para o mal. Todos nós estamos ensinando e treinando as crianças de nossa igreja o tempo todo. O que exatamente estamos transmitindo às crianças de nossa igreja? Vamos investir o tempo e o esforço necessários para ensiná-las e treiná-las como Deus ordenou. Jesus se importa profundamente com essas crianças. E nós também deveríamos.
COMO O ENSINAMENTO DA BÍBLIA SOBRE A MEMBRESIA NA IGREJA ME AJUDA A VIVER BEM A MINHA VIDA CRISTÃ?
Podemos começar aqui pensando nas bênçãos, benefícios, privilégios e responsabilidades que vêm com a membresia na igreja. Ressaltamos que a membresia na igreja não salva ninguém. Infelizmente, uma pessoa pode ser membro da igreja e não ser salva. Mas há uma bênção, mesmo assim, em fazer parte do povo de Deus. Como assim?
Para começar, se você é membro da igreja, você tem o privilégio de ouvir o Evangelho toda vez que a Palavra é lida e pregada e os sacramentos do batismo e da Ceia do Senhor são administrados. Pense em quantas pessoas nunca leram – ou nem sequer ouviram falar – da Bíblia, nunca entraram em uma igreja e nunca ouviram o Evangelho sequer uma vez. E você e eu podemos ouvi-lo repetidas vezes! A melhor notícia que precisamos é a notícia que podemos ouvir repetidamente.
Temos o privilégio da orientação, liderança e supervisão dos presbíteros. Deus os dotou e chamou para nos pastorear. Eles nos ajudam a ter clareza bíblica quando estamos perplexos. Eles nos encorajam quando estamos abatidos ou desanimados. Eles nos corrigem gentil e firmemente quando nos desviamos – até mesmo nos buscando com amor. E eles se comprometeram a orar por nós. Que bênção é ter esses homens piedosos cuidando de nós e nos amando dessa maneira!
Temos o privilégio da comunhão do povo de Deus. Os irmãos nos fornecem exemplos de como viver a vida cristã – como viver para Cristo quando seu cônjuge está em estado terminal, como viver para Cristo quando você perde seu emprego, como viver para Cristo quando seu filho abandona a fé, como viver para Cristo quando seus colegas de trabalho zombam de você e o marginalizam simplesmente porque você é cristão. Outros crentes fornecem pequenos incentivos que fazem grandes coisas em nossas vidas – um telefonema inesperado para saber como estamos, uma refeição entregue em um momento difícil da vida da família, um versículo da Escritura que é lembrado no pontual momento no qual você se encontra e traz esperança, um sorriso ou abraço reconfortante. Que cristão gostaria de estar sem outros cristãos? Adoramos com eles. Servimos ao lado deles. Nós os amamos.
E com esses privilégios vêm obrigações. A vida cristã não é principalmente sobre receber. Recebemos muito – nada menos que Cristo! Mas, como Jesus disse a Seus discípulos em certa ocasião, “De graça recebestes, de graça dai” (Mateus 10.8). E, “Mais bem-aventurado é dar que receber” (Atos 20.35). Recebemos muito. Devemos dar muito em troca.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Isso significa que nos comprometemos a “apoiar a Igreja em sua adoração e trabalho ao máximo de nossa capacidade.” Estamos comprometidos a participar dos cultos, de manhã e à noite, todo domingo? Estamos ativamente tentando nos beneficiar do ministério de ensino de nossa igreja local? Estamos regularmente e sacrificialmente reservando uma parte de nossa renda para dar como um ato de adoração? Estamos orando, frequentemente e fervorosamente, por nossos presbíteros, diáconos, missionários e membros da igreja? Estamos encontrando maneiras de usar os dons que Cristo nos deu para servir aqueles ao nosso redor na igreja? Estamos trabalhando para abandonar um espírito de reclamação e murmuração e colocar em seu lugar um espírito de gratidão e alegria? Estamos falando de forma verdadeira, respeitosa e gentil com nossos líderes da igreja e sobre eles? Estamos tentando viver nossas vidas cristãs de maneiras que tornem uma alegria para nossos líderes nos servirem (Hebreus 13.17)?
Continua…
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.1
A Igreja
Na edição anterior vimos o que exatamente é a igreja? A igreja é una e é una sua missão. Na pastoral de hoje refletiremos sobre como os presbiterianos entendem a forma de se tornar membro da igreja?
Os membros da Igreja
A membresia na igreja é um relacionamento reconhecido e comprometido com outros membros. Este relacionamento envolve certos privilégios. Mas também envolve certas responsabilidades. Evidentemente, a membresia na igreja, de certo modo, é diferente da membresia em qualquer outra organização. A razão vem do fato de que a igreja é única. Não há outro grupo de pessoas na terra como ela. Agora que entendemos quem, por que e o que é a igreja, podemos nos perguntar, quem são os membros da igreja? O Novo Testamento (e o Antigo Testamento, por sinal) reconhecem uma clara linha divisória separando a igreja do mundo. Então, o que é necessário para fazer parte da igreja? Há duas maneiras de se tornar parte da igreja. A primeira é o que tem sido chamado de “profissão de fé crível”. A segunda é ser filho de pelo menos um pai ou mãe crentes.
Profissão
O que queremos dizer quando dizemos “profissão de fé crível”? Por “profissão de fé” queremos dizer que alguém se apresenta diante da igreja e declara sua fé em Jesus Cristo. Por “crível” queremos dizer que a declaração dessa pessoa é acreditável. Não há nada em sua vida que contradiga ou questione o que ela disse sobre sua crença e compromisso com Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Ela não precisa provar que é uma cristã nascida de novo. Ela não precisa saber o dia e a hora de sua conversão. Ela simplesmente precisa ser capaz de declarar, de forma acreditável, que se arrependeu de seus pecados e confiou somente em Cristo como Salvador e Senhor.
Isso é exatamente o que vemos acontecendo no Novo Testamento. Quando o Evangelho é pregado, Cristo é oferecido e Suas reivindicações são expostas a todos que ouvem. No dia de Pentecostes, em resposta à apresentação de Cristo por Pedro, seus ouvintes clamaram: “Homens e irmãos, que faremos?” (Atos 2.37). Depois de ouvir Pedro, cerca de três mil pessoas “receberam a sua palavra” e “foram batizadas” (v. 41). Eles receberam Cristo nos termos que Ele estabeleceu no Evangelho – arrependimento e fé. Depois de declararem isso publicamente, foram admitidos ao batismo. O batismo, entre outras coisas, confirmou que agora eram membros da igreja de Jesus Cristo.
Então, o que os presbiterianos têm em mente com uma profissão de fé crível? Você precisa ter um diploma de seminário para se juntar à igreja? Você faz um teste? Quanto da Bíblia você precisa saber? Está tudo bem se você discordar sobre o batismo infantil ou outras questões?
Nos últimos dois séculos, os presbiterianos refinaram cinco perguntas de membresia. Estas cinco perguntas são respondidas por toda pessoa que deseja se tornar membro da igreja. Estas perguntas são respondidas diante de Deus e na presença da igreja. Nunca devemos fazê-lo levianamente. Nelas afirmamos certas coisas e prometemos certas coisas. Nós afirmamos as verdades básicas da Bíblia – sobre nossa pecaminosidade, sobre Cristo como o único Salvador do pecado. Prometemos seguir a Cristo. Prometemos apoiar o culto e o trabalho da igreja. Prometemos nos submeter à autoridade legítima da igreja.
Essas perguntas resumem o básico da crença e do compromisso cristãos. Qualquer verdadeiro cristão pode afirmá-las. Você não precisa ser um presbiteriano convicto para afirmá-las. A Igreja Presbiteriana acolhe qualquer crente que queira membrar-se. Contanto que esteja disposto a ser ensinado pela Escritura como a Igreja Presbiteriana entende a Escritura, e a viver pelas regras da casa da Igreja Presbiteriana, então você é mais do que bem-vindo para se unir à IPB.
Descendência
A segunda maneira de ser membro da igreja é por descendência de pelo menos um pai ou mãe crente. Seguindo o princípio de 1 Coríntios 7.14, se um de seus pais é cristão (mesmo que o outro não seja cristão), então Deus o considera membro do Seu povo. É por isso que os presbiterianos batizam crianças. Não batizamos todas as crianças. Batizamos apenas aquelas que têm um pai ou mãe cristãos. O batismo é o meio pelo qual Deus nos dá para reconhecer sua membresia de uma maneira formal e especial. E certamente não batizamos crianças para salvá-las. O batismo não salva nenhuma criança. Na verdade, o batismo não salva nenhum adulto. Temos exemplos no Novo Testamento de pessoas batizadas que mostram não terem sido salvas – veja Simão, o Mágico, por exemplo (Atos 8.9–25). Então, para que Deus pretende o batismo? O batismo é um sinal de aliança que Deus nos diz para colocar em todos os membros da igreja. Ele aponta para as promessas que Deus fez em Cristo. O batismo é uma declaração viva e sensorial do Evangelho. Ele nos chama a crer em Cristo Jesus e segui-Lo, quer o batismo venha antes de profissão de fé ou depois.
Batizamos os filhos de um pai crente porque eles são membros da igreja, e todos os membros da igreja têm direito ao batismo. Então, a verdadeira questão é: essas crianças são membros da igreja? Aqui está um ponto onde presbiterianos e batistas discordam. Felizmente, presbiterianos e batistas reconhecem um ao outro como irmãos no Senhor. Esta é uma divergência familiar e amigável! Ninguém vê essa questão como algo que separa cristãos de não cristãos.
Mas ainda é uma questão importante. E na próxima pastoral apresentaremos um esboço bíblico que fundamenta nossa crença para a membresia da igreja dos filhos dos crentes. Deus nos abençoe. Até lá.
Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.1
A Igreja
Anteriormente observamos por que a igreja está aqui na terra? Deus deu à igreja um trabalho a fazer. Há uma missão. Na pastoral de hoje refletiremos sobre o que exatamente é a igreja?
O quê?
O que exatamente é a igreja? Existem muitas maneiras de responder a isso. Mas precisamos lembrar de algo que vimos anteriormente. É algo básico, simples e importante. A igreja é uma. Não apenas uma no presente (Cristo tem um corpo, uma noiva, um templo—não muitos), mas uma ao longo do tempo. Deus teve um povo redimido desde que começou a redimir pessoas. Começando com Adão e Eva em Gênesis 3, Deus chama pecadores para fora do mundo, os reúne a Si mesmo e os chama para adorá-Lo e buscar uma vida piedosa no mundo. Ele sempre teve um povo.
Isso pode parecer estranho para você. “E Israel?” você pode estar perguntando. Na verdade, a Bíblia fala de Israel e da igreja não como dois povos, mas como um povo. Israel é o povo de Deus antes de Cristo ter vindo. A igreja é o povo de Deus depois de Cristo ter vindo. Como Paulo coloca em Gálatas 4, Israel é a igreja em sua minoridade, quando ela vivia em casa com seus pais. O que hoje chamamos de igreja é o mesmo povo, apenas todo crescido (Gálatas 4.1–7).
Por isso Paulo pode dizer à congregação gentílica em Corinto que o povo de Israel no deserto eram seus “pais” (1 Coríntios 10.1). Não é que compartilhamos seu DNA. Mas eles são nossos pais espirituais. Somos todos família em Cristo. Nosso sangue comum não é biológico, mas espiritual. E é por isso que Paulo pode dizer à congregação gentílica em Gálatas que eles são os “filhos de Abraão” (Gálatas 3.7). Eles são seus filhos porque estão em Cristo, a descendência de Abraão (v. 29). Pelo mesmo motivo, Paulo pode dizer à congregação gentílica em Roma que Abraão é “o pai de todos nós” (Romanos 4.16). Não é que tenhamos o DNA de Abraão em nossos corpos, mas ele é nosso pai espiritual em Cristo. Pense na maneira como Paulo fala da igreja em Romanos 11. A igreja é uma oliveira. Existem “ramos naturais”, ou seja, pessoas judias (v. 21). Alguns deles foram quebrados por incredulidade (v. 20). E existem ramos de uma oliveira “selvagem” (v. 24) enxertados na mesma árvore. Esses ramos são pessoas gentias. E Paulo também diz que Deus é capaz de enxertar de volta os ramos naturais quebrados na árvore, se Ele quiser (vv. 23–24). O ponto, é claro, é que há uma única árvore. Judeus e gentios entram (e saem) pela fé (ou profunda incredulidade) em Cristo. Deus não tem duas árvores – uma judia, uma gentia. Ele tem uma única árvore, e sempre teve. A única igreja existe desde que Deus começou a redimir pecadores.
E então…?
Como esse ensinamento bíblico me ajuda a viver a vida cristã de forma melhor? Podemos pensar em pelo menos três maneiras. Em primeiro lugar, todos sabemos que o serviço na igreja pode ser tedioso, ingrato e frustrante. Precisamos de incentivo para continuar. Parte desse incentivo vem ao lembrarmos o que é a igreja – ela é única entre todas as organizações humanas na terra. Ela tem uma missão que Deus não deu a nenhum outro grupo de pessoas. Sua herança remonta ao início da história redentora. Seu futuro é certo. Qualquer coisa que sacrificamos ao servir a igreja, sempre vale a pena.
Quaisquer dores, trabalhos, lutas, contratempos ou decepções que suportamos, podemos suportá-los voluntariamente porque sabemos o quão especial a igreja é e o quão especial é para Cristo. Seu sorriso de aprovação é recompensa suficiente. Continuamos firmes.
Em segundo lugar, entender que a igreja de Deus é uma ao longo das eras nos ajuda a entender, apreciar e aplicar o Antigo Testamento em nossas vidas. Israel estava diante do mesmo Deus que nós. Eles confiaram no mesmo Evangelho que nós. Eles obedeceram ao mesmo Redentor e pelos mesmos motivos que nós. Eles tinham a mesma esperança celestial que nós. Toda vez que lemos um salmo ou lemos sobre Israel no deserto, na terra ou na Babilônia, podemos dizer: “Esses são meu povo! Apesar de todas as nossas diferenças, a maneira como Deus os chamava para confiar Nele e segui-Lo é a mesma maneira como Ele me chama para confiar Nele e segui-Lo.”
Em terceiro lugar, entender a missão da igreja nos ajuda a ver como Deus projetou a igreja para me ajudar a crescer como cristão. A igreja não é um clube social. Não é um lugar para se reunir com pessoas que votam da mesma forma que eu, ou que compartilham os mesmos gostos e desgostos que eu tenho. Não é um lugar aonde eu vou para encontrar um ambiente moral para criar filhos virtuosos e bem ajustados que não me envergonhem em público. A igreja é um corpo de homens e mulheres, meninos e meninas, que olham para o Salvador e me ajudam a olhar para Ele também. A igreja é onde ouço a voz de Cristo na Palavra de Deus, lida e pregada, e onde vejo as promessas de Sua Palavra visivelmente exibidas nos sacramentos do batismo e da Ceia do Senhor. A igreja é onde meu pecado é exposto, desafiado, e onde sou levado a um arrependimento renovado. A igreja é onde ouço – repetidas vezes – o compromisso de Cristo em me receber, segurar-me e fazer-me cada vez mais semelhante a Ele. A igreja é onde vejo homens e mulheres, meninos e meninas, que modelam para mim a santidade e a semelhança a Cristo – na tristeza e na alegria, no trabalho árduo e no drama, na fraqueza e na força. Não há lugar como a igreja na terra. E não há outro lugar onde eu preferiria estar.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Neste momento jubiloso, voltamo-nos para a história da nossa amada igreja, relembrando o núcleo que iniciou os primeiros movimentos de evangelização na região do Peri, Vila Dionísia, e que, tempos depois, em 1974, se veria o esforço e o desejo realizados na organização da Igreja Presbiteriana Betel. Irmãos como Benigno Cavalcante, Benedito Macedo, Décio Gomes de Freitas, Helena Areias, Arthur Ferreira e Leonor Evangelista de Souza, verdadeiros pioneiros da fé, cuja abnegação, ousadia e simplicidade nos marcam até hoje.
Enquanto muitos crentes de nosso tempo se veem tolhidos pela complexidade e temor, esses irmãos descomplicavam, confiantes de que Deus os chamara para semear a Palavra. Confiantes na providência divina que traria os frutos, inclusive quando o trabalho enfrentou um hiato, em razão da ausência de igrejas no apoio, aqueles irmãos abriram seus lares, convidaram vizinhos e amigos para ouvirem a Palavra, e Deus respondeu com sua providência, abrindo mentes e corações para a salvação.
Hoje, décadas depois, estamos aqui, dando continuidade à fé bíblica e com profunda gratidão, prontos para continuar o serviço. Dizemos ao Senhor: “Senhor, sou eu que estou aqui. Usa-me no crescimento do teu reino.” Reconhecemos que é da providência divina que procede o êxito em toda obra. E nos dispomos à preservação da história de lutas e vitórias da igreja do Senhor Jesus, bem como à participação nessa grande obra como agentes de bênção deste tempo presente, sem desconsiderarmos o olhar para as gerações seguintes, incentivando-as à continuidade da missão de fé e serviço que abraçamos pela ação poderosa e singular do Santo Espírito. Que nesta bendita jornada sejamos mais parecidos com o Senhor Jesus Cristo a cada dia; mostrando assim, o coração cheio de fé, esperança e amor, fazendo tudo para a sua glória (1 Co 10.31) e que muitos cheguem ao reconhecimento da glória de Jesus Cristo por nosso intermédio. Graças a Deus, Betel, pelos 50 anos de organização. Continue sendo Casa de Deus para todos os povos!
Em Cristo Jesus,
Rev. Samuel S Bezerra
Onde encontramos o governo de Deus?
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
A Igreja
Na pastoral anterior vimos a razão pela igreja é diferente de qualquer organização humana existente, considerando a pergunta: “Quem é a igreja?” A igreja é o povo criado por Deus para Si mesmo, é a nova criação em Cristo, é a expressão visível do que Jesus chamou de “reino de Deus” ou o “reino dos céus”. Maravilhosamente isto tem muitas implicações. Algumas delas vimos na pastoral de domingo passado (caso você não tenha lido, recomendo a busca pelas pastorais anteriores e a reflexão sobre o tema). Hoje pensaremos sobre por que a igreja está aqui na terra?
Por quê?
A igreja é especial. Realmente especial. Mas Deus não colocou a igreja na terra para que pudéssemos nos admirar. Ele nos deu trabalho a fazer. Há uma missão. E essa missão responde à nossa próxima pergunta: Por que a igreja está aqui na terra?
Há duas razões relacionadas pelas quais Jesus colocou a igreja na terra. A primeira é sair e encontrar pecadores, convidá-los para Cristo Jesus e recebê-los quando eles se rendem ao Rei da glória. Isso é exatamente o que a igreja faz em Atos, desde o momento em que Jesus Cristo abundantemente derrama o Espírito Santo sobre eles. Os apóstolos começam a pregar o Evangelho. Almas são salvas. E são acrescentadas à igreja. Nunca vemos um único caso de um pecador salvo vivendo em solidão ou isolamento. Eles estão sempre reunidos na comunhão da igreja local. Esse é o padrão de Deus para o seu povo em todas as eras. A segunda é ajudar aqueles que são membros da igreja a amadurecer e crescer. Pensamos na Grande Comissão (Mateus 28.18–20) em termos do trabalho de evangelização. Não se engane, a Grande Comissão é um mandato para a evangelização mundial. Mas a evangelização não termina ao apresentar o Evangelho às pessoas. Isso é apenas o começo. Veja o que Jesus diz: “Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (vv. 19–20). O mandato é fazer discípulos das nações. Um discípulo é um aprendiz na escola de Cristo. Cristo tem muito a nos ensinar (“todas as coisas que eu vos tenho mandado”). E a igreja deve garantir que essas lições sejam ensinadas e absorvidas (“ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado”). Podemos pensar no discipulado em termos de sermões dominicais, escola dominical para adultos ou estudos bíblicos semanais. Mas essa não é a única maneira de discipular o povo de Deus. Deus dá aos pais filhos para “criá-los na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6:4). A igreja tem o privilégio de ajudar os pais nesse grande trabalho. Podemos não pensar na escola dominical para pré-escolares e na Escola Bíblica de Férias como tarefas da “Grande Comissão”, mas deveríamos. Esses pequenos discípulos são preciosos para Jesus (Mateus 19.13–14). Eles deveriam ser muito preciosos para nós.
Então, essa é a missão que Deus confiou à igreja. Reunimos os santos ao redor do Trono e do Cordeiro. Crescemos os santos, diante do trono e do Cordeiro. E fazemos ambos da mesma maneira—pela Palavra e através do poder do Espírito Santo. Deus não estabeleceu a igreja para ser um agente de mudança social ou cultural. Não somos uma ONG dedicada a salvar o meio ambiente, ajudar os sem-teto ou extinguir a pobreza no Brasil (tradução adaptada para a realidade brasileira). O reino de Jesus “não é deste mundo” (João 18.36), e assim nossa agenda não é definida pelo mundo. Nosso Rei celestial nos atribuiu uma agenda própria. É bom que os cristãos se envolvam em política, cultura e várias causas dignas. Mas Deus não quer que a igreja como tal se envolva nessas questões. No máximo, elas apenas nos distrairiam do trabalho que temos que fazer. E esse trabalho é oferecer a Palavra ao mundo e ensinar, aplicar e reforçar a Palavra em nossos próprios limites.
O quê?
O que exatamente é a igreja? Existem muitas maneiras de responder a isso. Mas precisamos lembrar de algo que vimos anteriormente. É algo básico, simples e importante. A igreja é uma. Não apenas uma no presente (Cristo tem um corpo, uma noiva, um templo—não muitos), mas uma ao longo do tempo. Deus teve um povo redimido desde que começou a redimir pessoas. Começando com Adão e Eva em Gênesis 3, Deus chama pecadores para fora do mundo, os reúne a Si mesmo e os chama para adorá-Lo e buscar uma vida piedosa no mundo. Ele sempre teve um povo.
Isso pode parecer estranho para você. “E Israel?” você pode estar perguntando. Na verdade, a Bíblia fala de Israel e da igreja não como dois povos, mas como um povo. Israel é o povo de Deus antes de Cristo ter vindo. A igreja é o povo de Deus depois de Cristo ter vindo. Como Paulo coloca em Gálatas 4, Israel é a igreja em sua minoridade, quando ela vivia em casa com seus pais. O que hoje chamamos de igreja é o mesmo povo, apenas todo crescido (Gálatas 4.1–7).
Por isso Paulo pode dizer à congregação gentílica em Corinto que o povo de Israel no deserto eram seus “pais” (1 Coríntios 10.1). Não é que compartilhamos seu DNA. Mas eles são nossos pais espirituais. Somos todos família em Cristo. Nosso sangue comum não é biológico, mas espiritual. E é por isso que Paulo pode dizer à congregação gentilica em Gálatas que eles são os “filhos de Abraão” (Gálatas 3.7). Eles são seus filhos porque estão em Cristo, a descendência de Abraão (v. 29). Pelo mesmo motivo, Paulo pode dizer à congregação gentilica em Roma que Abraão é “o pai de todos nós” (Romanos 4.16). Não é que tenhamos o DNA de Abraão em nossos corpos, mas ele é nosso pai espiritual em Cristo. Pense na maneira como Paulo fala da igreja em Romanos 11. A igreja é uma oliveira.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022]1, que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
Precisamos de governo na igreja de Jesus Cristo. Mas onde vamos encontrar esse governo?
Na igreja nos submetemos à vontade do nosso Rei, Jesus Cristo, e nosso Rei nos direciona para a Bíblia, Sua Palavra que nos foi dada. A Bíblia apresenta todos os detalhes do governo da igreja de que a igreja precisa. Cristo não é apenas o Rei da igreja, Ele também é o Profeta da igreja. Ele nos diz na Bíblia que Ele nos deu tudo o que precisamos para crer e viver como Seus discípulos. Nosso Rei nos dá nossa Constituição, a Bíblia.
Isso não significa que temos todos os detalhes que gostaríamos de ter. Quantos presbíteros a igreja deve ter? Com que frequência devem se reunir? O que faço se discordar de uma decisão do Conselho? Não é possível encontrar respostas para essas perguntas olhando para um único versículo da Bíblia. Mas temos todos os detalhes de que precisamos. A Bíblia nos dá um sistema completo de governo e, dentro desse sistema, a liberdade de fazer e responder a esses tipos de perguntas e muito mais.
Vamos pensar em cinco pontos que respaldam o sistema presbiterianismo (cada domingo observaremos um aspecto). Esses pontos resumem grande parte do ensino bíblico sobre o governo da igreja e nos ajudam a entendê-lo. Para isso, manteremos outra pergunta diante de nós: Como podemos viver melhor a vida cristã à luz do que a Bíblia diz aqui? Quem sabe, alguém pode conceber que o ensino da Bíblia sobre o governo da igreja é apenas para pastores, presbíteros e diáconos, mas isso não está correto. O ensino é para todos nós. Há uma grande bênção reservada para nós quando pensamos em como esse ensino se relaciona com nossa vida cristã. E isso é verdade mesmo que nunca pensemos em assumir liderança na igreja.
Nessa pastoral vamos brevemente pensar sobre o primeiro ponto do governo da igreja, isto é quem é a igreja?
A Igreja
Como uma equipe, um corpo, uma família, compartilhamos interesses. Temos membros e líderes. Temos reuniões e regras. Coletamos e distribuímos contribuições. Mas de outras maneiras importantes, a igreja é diferente de qualquer organização humana no Planeta Terra. Essa é uma afirmação impressionante, e só a fazemos porque a Bíblia a faz.
Quem?
Quem é a igreja? Ela não é um prédio. Quando as pessoas dizem: “Vou à igreja no domingo”, é possível que elas estejam se referindo ao prédio onde a igreja se reúne no domingo. Mas a igreja é um povo, o corpo de Cristo Jesus, a noiva de Cristo e o edifício ou templo de Cristo Jesus. Mas não foi assim que Deus nos encontrou. Ele criou um povo para Si mesmo. A igreja é uma criação divina. Assim como, em Cristo, os cristãos não são nada menos do que uma “nova criação” (2 Coríntios 5.17), a expressão visível do que Jesus chamou de “reino de Deus” ou o “reino dos céus”. Quando você lê os Evangelhos, não pode deixar de notar que o grande tema de Jesus é o reino. É assim que Ele começa Seu ministério público na Galileia: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Marcos 1.15). E quando Ele retornar, dará o toque final ao Seu reino (Mateus 13.47-50). Portanto, o reino é o governo visível e o reinado de Deus em Cristo Jesus. E foi a morte e ressurreição de Jesus Cristo que trouxeram poderosamente o reino ao mundo. Você e eu não estendemos ou crescemos o reino. Somente Deus faz isso, em e por meio de Jesus Cristo.
Então, onde está o reino hoje? A resposta do Novo Testamento é na igreja. Se você quiser ver o reino, olhe para a igreja. Percebemos essa conexão íntima a partir da maneira como Jesus entrelaça “reino” e “igreja” em Mateus 16.13-20, e como o apóstolo Paulo, inspirado pelo Santo Espírito, vincula o reino às realidades do Evangelho de “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” em Romanos 14.17. A igreja, o povo de Deus, é o “reino” que Deus criou. Escrevendo às igrejas no Apocalipse, o apóstolo João, apresentando o remetente, declara:
Apocalipse 1:5-6: […] e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio para todo o sempre. Amém!
A Igreja é a expressão do Reino de Deus, e portanto, há muitas bênçãos oriundas da participação nesse reino. Por um lado, Jesus promete que Seu reino nunca falhará – “sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16.18). A igreja vai “de força em força” (Salmos 84.7) almejando o dia do reinado consumador e plenificador, do único e verdadeiro Rei, Jesus Cristo. (Apocalipse 11.15). Por outro lado, Jesus promete Sua presença com Sua igreja até “o fim do mundo”, isto é, o dia em que Ele retornará em glória (Mateus 28.20). Nenhum outro estado, empresa, clube ou organização pode reivindicar isso. Mesmo quando o número de membros da igreja for tão diminuto, Jesus promete Sua presença com eles (Mateus 18. 20). Então, a igreja é, no sentido real da palavra, “extraterrena”. Deus nos criou. Deus nos preserva. Deus nos faz crescer. E Deus estará conosco até o fim. Que honra inaudita! Que privilégio indescritível! Que riqueza incalculável! Ser Igreja, Reino de Cristo Jesus! Ao Rei Jesus seja a glória para todo o sempre. Amém.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
Por que o governo da Igreja é importante?
Continuamos apresentando as razões pelas quais o governo da igreja é importante. Já vimos em edições anteriores que é em razão: 1) De nossa expectativa. Por quê? Porque o governo é parte da estrutura da vida dos seres humanos; 2. De nossa necessidade de governo para andarmos ordeiramente; 3. Do nosso Deus. O caráter do nosso Deus nos ajuda a perceber a necessidade de governo na igreja; 4. Do nosso Senhor. O aspecto real do próprio ofício do nosso Salvador nos fala sobre que tipo de reinado Ele exerce sobre sua igreja. E por fim, em razão:
Do nosso povo
A identidade e as necessidades do nosso povo, a igreja, nos ajudam a entender por que Deus nos proporcionou um governo nas Escrituras. Deveras a igreja é o reino de Cristo, mesmo sendo ao mesmo tempo a nação e a casa de Deus (Efésios 2.19). O Novo Testamento, e especialmente o apóstolo Paulo, usa ainda outras imagens para descrever a igreja. Somos o Corpo de Cristo (1 Coríntios 12; Efésios 4.15-16; Colossenses 2.19). Somos a noiva de Cristo (Efésios 5.22-23; 2 Coríntios 11.2). Somos o edifício de Cristo, seu templo (Efésios 2.20-22).
Essas imagens, cada uma à sua maneira, capturam algo fundamental para a vida e o trabalho da igreja. Por um lado, a igreja é uma. Cristo tem uma noiva, não muitas. Ele tem um corpo, não muitos. Ele tem um templo, não muitos. Por outro lado, a igreja é muitas. O corpo é composto de muitas partes ou membros (Romanos 12.3-8; 1 Coríntios 12.12-31). O edifício de Cristo, seu templo, tem muitas “pedras vivas” (1 Pedro 2.5). E a nação é composta de muitos cidadãos (Efésios 2.19).
Assim, a igreja é ao mesmo tempo uma e muitas. Como esses dois aspectos de sua vida se encaixam? Esse foi um desafio que a igreja já enfrentava no primeiro século. Paulo aborda essa preocupação diretamente em 1 Coríntios 12. Ele enfatiza que, para toda a diversidade de dons no corpo de Cristo, eles procedem do “mesmo Espírito”, “o mesmo Senhor” e “o mesmo Deus” (vv. 4, 5, 6). É o único Deus que atribui soberanamente e torna eficazes todos os dons para seu povo. Todos os dons são dados com um único propósito, “o proveito de todos” (v. 7).
Mas a unidade não é uniformidade. Há uma diversidade de dons, e ninguém possui todos os dons (vv. 29–30). Esta é a beleza da igreja. Há aquele que pode pregar de maneira que o leve profundamente na Palavra de Deus e o faça ver que Deus é grande e misericordioso. Há aquele que sabe exatamente como encorajar e estimular os santos para o serviço prático. Há aquela que tem o talento de buscar e cuidar dos solitários na igreja. E outros dons mais. Quem poderia ter reunido uma assembleia de dons como essa em uma congregação? Deus fez isso (v. 18)!
Com essa diversidade vem um trabalho árduo. Nem todos os dons são visíveis. Alguns dons não recebem elogios de outras pessoas. Alguns dons, infelizmente, não parecem tão importantes aos olhos de alguns cristãos. Paulo sabe disso. Ele nos adverte contra desprezar dons que não parecem tão chamativos quanto outros. Precisamos desses dons — cada um de nós (vv. 25–26).
Então, como mantemos a unidade e a diversidade em equilíbrio? Uma maneira é percebendo que há uma certa ordem nos dons que Deus deu (v. 28). Os dons que Paulo prioriza são dons que ministram a Palavra à igreja — “apóstolos”, “profetas”, “mestres” (v. 29). Paulo não esqueceu o que disse alguns versículos antes. Ele não está desconsiderando os outros dons. Mas está dizendo que todos nós precisamos da Palavra de Deus se quisermos usar nossos dons dados por Deus corretamente — assim como precisamos do manual de instruções se quisermos usar nosso novo liquidificador ou computador corretamente. E Deus levantou e capacitou certas pessoas na igreja para nos trazer a Palavra. Eles nos mostram uma vida piedosa em suas próprias vidas e lares. Essas pessoas são os presbíteros/pastores da igreja, que ensinam e governam o rebanho (1 Timóteo 3.1-7; veja também 2.11-15).
Deus faz algo semelhante através dos diáconos. Os diáconos são oficiais que exercem autoridade no serviço das necessidades materiais do povo de Deus. Lembre-se de uma das primeiras crises importantes que a igreja enfrentou em seu nascedouro. Surgiu uma disputa entre dois grupos na igreja, os hebreus e os helenistas. Os helenistas alegaram que suas viúvas “eram negligenciadas na distribuição diária”, o apoio material que dava proteção e segurança às viúvas (Atos 6.1). Essa disputa poderia facilmente ter dividido a igreja ao meio. O que Deus faz? Ele tem os apóstolos para dirigirem a igreja na escolha de sete homens qualificados que cuidarão dessas necessidades das viúvas (vv. 3–5). Esses sete homens então começam seu trabalho como os primeiros diáconos da igreja (v. 6). O que os diáconos fazem? Eles coordenam os dons do povo de Deus para ajudar a igreja a servir os necessitados e vulneráveis entre eles. Eles não fazem esse trabalho de serviço no lugar do restante da igreja. Ao contrário, lideram e mobilizam a igreja para servir suas viúvas. Portanto, o povo de Deus está maravilhosamente unido e maravilhosamente diversificado. O ponto aqui é todos trabalham coordenadamente porque há um governo que coordena. Como a igreja evita cair em uma uniformidade monótona, por um lado, ou em completa confusão, por outro? Cristo deu à igreja certos dons na forma de presbíteros e diáconos. Através do ensino e governança (presbíteros) e do serviço (diáconos), eles equipam e mobilizam os dons do corpo para edificação ordenada. A igreja precisa de governo eclesiástico para ser o tipo de igreja que Cristo quer que seja — um corpo em crescimento, uma noiva ansiosa e um templo santo.
Conclusão
Vimos cinco razões pelas quais precisamos do governo da igreja. Elas têm a ver com nossa expectativa, nossa necessidade, nosso Deus, nosso Salvador e nosso povo. Então, o que a Bíblia nos diz sobre o governo da igreja? Como é, e como funciona? E se eu não sou um oficial da igreja e nunca planejo ser? Por que preciso saber desses detalhes para viver minha vida cristã? Essas são as perguntas que abordaremos nas próximas pastorais. Que Deus nos abençoe.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022]1, que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
Por que o governo da Igreja é importante?
Continuamos apresentando as razões pelas quais o governo da igreja é importante. Já vimos em edições anteriores que é em razão: 1. De nossa expectativa. Por quê? Porque o governo é parte da estrutura da vida dos seres humanos; 2. De nossa necessidade de governo para andarmos ordeiramente; 3. Do nosso Deus. O caráter do nosso Deus nos ajuda a perceber a necessidade de governo na igreja; 4. Do nosso Senhor. O aspecto real do próprio ofício do nosso Salvador nos fala sobre que tipo de reinado Ele exerce sobre sua igreja. E por fim, em razão:
Do nosso povo
A identidade e as necessidades do nosso povo, a igreja, nos ajudam a entender por que Deus nos proporcionou um governo nas Escrituras. Deveras a igreja é o reino de Cristo, mesmo sendo ao mesmo tempo a nação e a casa de Deus (Efésios 2.19). O Novo Testamento, e especialmente o apóstolo Paulo, usa ainda outras imagens para descrever a igreja. Somos o Corpo de Cristo (1 Coríntios 12; Efésios 4.15-16; Colossenses 2.19). Somos a noiva de Cristo (Efésios 5.22-23; 2 Coríntios 11.2). Somos o edifício de Cristo, seu templo (Efésios 2.20-22).
Essas imagens, cada uma à sua maneira, capturam algo fundamental para a vida e o trabalho da igreja. Por um lado, a igreja é uma. Cristo tem uma noiva, não muitas. Ele tem um corpo, não muitos. Ele tem um templo, não muitos. Por outro lado, a igreja é muitas. O corpo é composto de muitas partes ou membros (Romanos 12.3-8; 1 Coríntios 12.12-31). O edifício de Cristo, seu templo, tem muitas “pedras vivas” (1 Pedro 2.5). E a nação é composta de muitos cidadãos (Efésios 2.19).
Assim, a igreja é ao mesmo tempo uma e muitas. Como esses dois aspectos de sua vida se encaixam? Esse foi um desafio que a igreja já enfrentava no primeiro século. Paulo aborda essa preocupação diretamente em 1 Coríntios 12. Ele enfatiza que, para toda a diversidade de dons no corpo de Cristo, eles procedem do “mesmo Espírito”, “o mesmo Senhor” e “o mesmo Deus” (vv. 4, 5, 6). É o único Deus que atribui soberanamente e torna eficazes todos os dons para seu povo. Todos os dons são dados com um único propósito, “o proveito de todos” (v. 7).
Mas a unidade não é uniformidade. Há uma diversidade de dons, e ninguém possui todos os dons (vv. 29–30). Esta é a beleza da igreja. Há aquele que pode pregar de maneira que o leve profundamente na Palavra de Deus e o faça ver que Deus é grande e misericordioso. Há aquele que sabe exatamente como encorajar e estimular os santos para o serviço prático. Há aquela que tem o talento de buscar e cuidar dos solitários na igreja. E outros dons mais. Quem poderia ter reunido uma assembleia de dons como essa em uma congregação? Deus fez isso (v. 18)!
Com essa diversidade vem um trabalho árduo. Nem todos os dons são visíveis. Alguns dons não recebem elogios de outras pessoas. Alguns dons, infelizmente, não parecem tão importantes aos olhos de alguns cristãos. Paulo sabe disso. Ele nos adverte contra desprezar dons que não parecem tão chamativos quanto outros. Precisamos desses dons — cada um de nós (vv. 25–26).
Então, como mantemos a unidade e a diversidade em equilíbrio? Uma maneira é percebendo que há uma certa ordem nos dons que Deus deu (v. 28). Os dons que Paulo prioriza são dons que ministram a Palavra à igreja — “apóstolos”, “profetas”, “mestres” (v. 29). Paulo não esqueceu o que disse alguns versículos antes. Ele não está desconsiderando os outros dons. Mas está dizendo que todos nós precisamos da Palavra de Deus se quisermos usar nossos dons dados por Deus corretamente — assim como precisamos do manual de instruções se quisermos usar nosso novo liquidificador ou computador corretamente. E Deus levantou e capacitou certas pessoas na igreja para nos trazer a Palavra. Eles nos mostram uma vida piedosa em suas próprias vidas e lares. Essas pessoas são os presbíteros/pastores da igreja, que ensinam e governam o rebanho (1 Timóteo 3.1-7; veja também 2.11-15).
Deus faz algo semelhante através dos diáconos. Os diáconos são oficiais que exercem autoridade no serviço das necessidades materiais do povo de Deus. Lembre-se de uma das primeiras crises importantes que a igreja enfrentou em seu nascedouro. Surgiu uma disputa entre dois grupos na igreja, os hebreus e os helenistas. Os helenistas alegaram que suas viúvas “eram negligenciadas na distribuição diária”, o apoio material que dava proteção e segurança às viúvas (Atos 6.1). Essa disputa poderia facilmente ter dividido a igreja ao meio. O que Deus faz? Ele tem os apóstolos para dirigirem a igreja na escolha de sete homens qualificados que cuidarão dessas necessidades das viúvas (vv. 3–5). Esses sete homens então começam seu trabalho como os primeiros diáconos da igreja (v. 6). O que os diáconos fazem? Eles coordenam os dons do povo de Deus para ajudar a igreja a servir os necessitados e vulneráveis entre eles. Eles não fazem esse trabalho de serviço no lugar do restante da igreja. Ao contrário, lideram e mobilizam a igreja para servir suas viúvas. Portanto, o povo de Deus está maravilhosamente unido e maravilhosamente diversificado. O ponto aqui é todos trabalham coordenadamente porque há um governo que coordena. Como a igreja evita cair em uma uniformidade monótona, por um lado, ou em completa confusão, por outro? Cristo deu à igreja certos dons na forma de presbíteros e diáconos. Através do ensino e governança (presbíteros) e do serviço (diáconos), eles equipam e mobilizam os dons do corpo para edificação ordenada. A igreja precisa de governo eclesiástico para ser o tipo de igreja que Cristo quer que seja — um corpo em crescimento, uma noiva ansiosa e um templo santo.
Conclusão
Vimos cinco razões pelas quais precisamos do governo da igreja. Elas têm a ver com nossa expectativa, nossa necessidade, nosso Deus, nosso Salvador e nosso povo. Então, o que a Bíblia nos diz sobre o governo da igreja? Como é, e como funciona? E se eu não sou um oficial da igreja e nunca planejo ser? Por que preciso saber desses detalhes para viver minha vida cristã? Essas são as perguntas que abordaremos nas próximas pastorais. Que Deus nos abençoe.
1A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi, adaptei e recortei para esse espaço pastoral. Deus nos abençoe. Em Cristo Jesus, Rev. Samuel S Bezerra.
Por que o governo da Igreja é importante?
Continuamos apresentando as razões pelas quais o governo da igreja é importante. Já vimos em edições anteriores que é em razão: 1) De nossa expectativa. Por quê? Porque o governo é parte da estrutura da vida dos seres humanos; 2) De nossa necessidade de governo para andarmos ordeiramente. E em terceiro lugar (obviamente não está em ordem de importância):
Do nosso Deus:
O caráter do nosso Deus nos ajuda a perceber a necessidade de governo na igreja. Talvez você tenha visitado uma igreja ou sido membro de uma igreja onde o culto é desorganizado, até caótico. A liderança está ausente ou desinteressada.
Você sabe instintivamente que essa não é a maneira como a igreja deveria ser. Por que isso? Uma das principais razões tem a ver com quem é nosso Deus. Que tipo de Deus é Deus? Ele não é um Deus “de confusão, mas de paz” (1 Coríntios 14.33). Ele é um Deus que deseja que façamos todas as coisas “decentemente e com ordem” (v. 40).
Vemos isso nos primeiros versículos da Bíblia. O que é a criação senão Deus criando o mundo do nada e depois trazendo ordem ao que estava confuso? Deus opta pela ordem fixa da criação para nos assegurar de que Suas promessas de aliança são verdadeiras e nunca falharão (Jeremias 31.35–37).
Quando Deus redime pecadores, Ele os coloca em um povo, que é a Sua família. Olhando para o Antigo Testamento observamos no pacto de Deus com Abraão as bases para esse relacionamento especial entre Deus e o Seu povo. Essas promessas foram vistas como uma demonstração do favor e da fidelidade de Deus para com seu povo escolhido. E uma das responsabilidades de Abraão foi garantir que sua casa estivesse ordenada de maneira agradável a Deus (Gênesis 18.19). Quando a família se tornou uma nação, Deus enfatizou Sua aliança entregando formalmente Suas leis por meio de Moisés (Êxodo 19.1–16). Ele lhes deu leis para estruturação da vida comunitária. Havia leis sobre o tabernáculo, os festivais, ofertas sacrificiais, sacerdotes, levitas, dízimos, pureza ritual e limpeza—Deus não deixou os detalhes de Seu culto por conta da nossa imaginação! Havia leis que forneciam descrições de cargos para reis e juízes. Deus forneceu leis que regulavam imóveis, impostos, disputas legais e agricultura; leis sobre casamento, divórcio e herança; leis sobre ofensas sexuais, furto, lesão corporal e perjúrio; leis sobre o que fazer com os povos remanescentes em Canaã e leis sobre guerra com povos fora de Canaã. E a lista continua. Embora essas leis civis e cerimoniais não governem mais a vida do povo de Deus sob a nova aliança, Deus ordena nossa vida. Não devemos pensar que o derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes é uma licença para jogar a estrutura pela janela. Não precisamos escolher entre ardor e ordem. Como Edmund P. Clowney diz acertadamente, “o Espírito de ardor também é o Espírito de ordem”.
Isso é claramente demonstrado em 1 Coríntios 14. O culto coríntio era, para dizer o mínimo, caótico. Paulo teve que intervir e estabelecer regras firmes para os coríntios (vv. 26–35). Essas regras seguem alguns princípios principais—”que todas as coisas sejam feitas para edificação” (v. 26); “pois Deus não é Deus de confusão, mas de paz” (v. 33); “que todas as coisas sejam feitas decentemente e com ordem” (v. 40). Edificação, paz, decência, ordem—esses são os sinais distintivos do trabalho do Espírito Santo na igreja da nova aliança. Esses princípios se aplicam não apenas ao culto da igreja, mas também ao seu governo. No livro de Atos, é impressionante ver como as reuniões ou assembleias desordenadas de descrentes podem ser. Quando a descrença ataca missionários cristãos, com que frequência é por meio de multidões tumultuadas (Atos 14.19; 17.5, 6, 13)? Lucas nos diz que uma multidão até encheu as ruas de Éfeso, transbordando para o teatro. (Você pode visitar as ruínas de Éfeso e o teatro hoje e ter uma ideia de como deve ter sido.) Lucas, em sua maneira contida, nos diz que “toda a cidade ficou cheia de confusão” e “a maioria deles não sabia por que se haviam reunido” (19.29, 32). É necessária uma repreensão severa e ameaça do escrivão para acalmar e dispersar a multidão (vv. 35-41). Contraste essas reuniões com as assembleias de cristãos em Atos. Agora, Lucas não é um romantizador. Ele não nos dá a igreja primitiva através de óculos cor de rosa. Eles tinham suas falhas e discordâncias, e essas estão claramente à mostra nos Atos dos Apóstolos. Mas a igreja era uma sociedade ordenada. Uma das maiores ameaças à unidade da igreja era uma corrupção do Evangelho que buscava exigir a circuncisão para a salvação (15.1-5). A igreja resolveu essa crise de maneira ordenada, através de um Conselho regional de presbíteros, nada menos! E o resultado abençoado foi uma maior unidade, fé fortalecida e aumento do número de fiéis (16.1-5).
O governo da igreja está em ação quando separa homens para pregar o evangelho (13.13). Está em ação quando resolve disputas teológicas profundas (15.1-35). Está em ação quando provê para os necessitados entre o povo de Deus (6.1-6). Está em ação quando equipa e encoraja os anciãos para a obra do ministério (20.17-35). A vida e o trabalho ordenados da igreja não acontecem por si só. O Espírito os traz, com certeza. Mas Ele faz isso por meio dos meios do governo que Ele deu ao povo de Deus. Deus é um Deus de ordem, e isso significa que Ele deu um governo à igreja.
POR REV. SAMUEL SANTOS BEZERRA
Reflexão extraída da obra de Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022], que traduzi livremente, resumi e recortei para esse espaço pastoral.
Por que o governo da Igreja é importante?
Porque necessitamos.
[…] Em segundo lugar, é por causa de nossa necessidade como cristãos que Deus deu governo para a igreja. Imagine (ou talvez você não precise imaginar isso) dois homens piedosos em sua igreja. Eles são pilares da fé, exemplos para o rebanho, servos fiéis e têm uma discussão feia e pública. É apenas uma questão de dias antes que toda a igreja fique sabendo disso e comece a falar sobre o assunto. O que pode ser feito quando algo assim acontece?
Para pensar biblicamente sobre isso, precisamos começar com o que as Escrituras dizem sobre quem os cristãos são. Todo cristão verdadeiro está unido a Cristo e é habitado pelo Espírito Santo (Rm 8.9-11). Na composição do “fruto do Espírito”, o apóstolo Paulo cita o “domínio próprio” (Gl 5.22-23). Deus nos deu “um espírito não de medo, mas de poder, amor e domínio próprio” (2 Tm 1.7). É o ministério do Espírito que nos capacita a viver “de maneira sensata, justa e piedosa na era presente” (Tt 2.12). Pelo poder capacitador do Espírito Santo, somos capazes de dizer “não” ao pecado e “sim” à santidade (Rm 6:13; 8:13). Dessa forma, estamos sendo conformados cada vez mais à imagem de Jesus Cristo (2 Co 3:18).
O apóstolo Paulo era pastor e sabia muito bem que os crentes precisam de toda a ajuda possível. Esta é parte da razão pela qual Deus nunca pretendeu que vivêssemos a vida cristã isolados de outros crentes. Quando você lê o Novo Testamento (e o Antigo Testamento, também), todo cristão que você encontra está em um padrão ou rede de relacionamentos com outros cristãos. O Deus que nos fez viver em famílias, cidades e nações nos redimiu para vivermos como membros do Seu povo. É por isso que o Novo Testamento pode descrever a Igreja como uma família, uma comunidade e um reino (Ef. 2.19; Fil. 3.20; Ap. 1.6).
Nosso relacionamento com outros crentes é importante por muitas razões. Para começar, é no contexto desses relacionamentos que Deus remove o pecado de nossas vidas e nos conduz pelo caminho da santidade. Isso é o que qualquer bom relacionamento deve fazer. Relacionamentos expõem o pecado e nos dão oportunidades para crescermos na graça. Isso é especialmente verdadeiro na igreja. Pense em todos os mandamentos de “uns aos outros” que encontramos nas cartas do Novo Testamento. Ao escrever aos Efésios, Paulo nos diz para suportar “uns aos outros em amor” (4:2), nos lembra que somos “membros uns dos outros” (v. 25), e nos exorta a “sermos bondosos uns com os outros, compassivos, perdoando-nos uns aos outros, como Deus em Cristo nos perdoou” (v. 32). Devemos nos dirigir “uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais” (5:19) e nos sujeitar “uns aos outros no temor de Deus” (v. 21). Não podemos cumprir esses mandamentos vivendo à revelia da comunidade. Nós os cumprimos na relação com outros crentes. É aqui que participamos o trabalho árduo de “andar no Espírito” (Gal. 5.25).
Este trabalho relacional é também muito importante quando não pensamos e vivemos da maneira que agrada a Deus. O que acontece quando falhamos em produzir o fruto do autocontrole? Felizmente, Deus não nos deixa sozinhos. Uma das coisas que Ele faz é levantar crentes na igreja para nos admoestar. É por isso que Paulo escreve: “Irmãos, se algum homem for surpreendido em algum pecado, vocês que são espirituais, restaurem essa pessoa com espírito de brandura.” (Gal. 6.1). Paulo diz aos cristãos romanos que eles estão “cheios de bondade, cheios de todo conhecimento, podendo admoestar uns aos outros” (Rom. 15.14). Deus nos enche de conhecimento e graça para que possamos ajudar irmãos e irmãs que se desviam. Este é um trabalho que acontece o tempo todo, muitas vezes silenciosamente, no Corpo de Cristo. Muitas vezes, esses tipos de encontros e interações levam ao arrependimento e à vigilância em oração. Talvez você possa se lembrar de uma ocasião em que um amigo cristão o chamou de lado para expressar preocupação com algo que ele viu em sua vida. Você ficou aflito e humilde e foi ao Senhor em busca de perdão e misericórdia em Cristo. Você está muito mais vigilante sobre essa área de sua vida agora do que jamais esteve antes. Você sabe que seu irmão te ama, ora por você e está feliz em oferecer conselhos, encorajamento e prestação de contas. Esta é a graça do Espírito Santo em sua vida. Mas, infelizmente, às vezes as pessoas respondem até mesmo às admoestações mais gentis com resistência. O que acontece então? Jesus Cristo já nos alertou e nos preparou para isso. Ele colocou presbíteros na igreja para servir como pastores do rebanho (1 Pedro 5.2). Parte do trabalho deles é admoestar o rebanho (Atos 20.31; 1 Tess. 5.12). Este trabalho de disciplina é árduo e muitas vezes desagradável, como qualquer presbítero lhe dirá. Mas é necessário. E é ordenado por Cristo. Quando ensinou sobre a igreja, Jesus falou sobre a disciplina formal pelos oficiais da igreja (Mat. 18.15-20). Na Grande Comissão, Ele ordenou aos apóstolos (e aos presbíteros depois deles) que ensinassem discípulos “a observar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mat. 28.20) — um comando que certamente implica disciplina quando pessoas na igreja falham em observar os mandamentos de Jesus. Vemos exemplos dessa disciplina até mesmo dentro do ministério do apóstolo Paulo (1 Cor. 5.1-13; 2 Tess. 3.6-13). A disciplina formal não é o castigo vingativo de um Deus não reconciliado. É a severa misericórdia de um Pai entristecido recuperando um filho errante. Mas esta etapa de disciplina é apenas uma etapa de disciplina. Devemos pensar na disciplina como começando conosco mesmos. A disciplina também é preocupação de nossos irmãos e irmãs mais próximos em nossas igrejas locais. De maneira mais formal, é a preocupação dos pastores de Cristo, que terão que “prestar contas” pelas almas sob sua responsabilidade (Heb. 13.17). Visto sob essa luz, precisamos do governo da igreja. Precisamos do governo da igreja se quisermos prosperar na vida cristã.
POR REV. SAMUEL SANTOS BEZERRA
Provocados pelas duas pastorais anteriores, em que apresentamos “Nossa Missão, Visão e Objetivos” como Igreja Presbiteriana Betel, tocaremos em um tema que não tem sido dada a devida importância no conjunto de nossas ações, mas que, sem o qual, nosso trabalho individual (cada parte) e coletivo (por todos) estaria em completa confusão. Refiro-me ao governo na igreja, uma questão muitas vezes negligenciada ou subestimada. Qual a relevância do governo eclesiástico? Qual a sua função dentro da comunidade de fé na busca pelo alcance de seus objetivos e cumprimento da missão? Desde as estruturas familiares até as organizações cívicas, o governo é uma parte intrínseca da vida humana, oferecendo ordem, direção e proteção. Da mesma forma, a igreja não está isenta dessa necessidade fundamental de governo. Utilizando como norte para nossa reflexão uma obra escrita por Guy Prentiss Waters, intitulada Well Ordered, Living Well (Bem ordenado, vivendo bem: um guia prático para o governo da Igreja Presbiteriana- tradução livre), publicado por Reformation Heritage Books, [2022]1, que traduzi livremente, resumi e recortei para esse espaço pastoral, seguiremos como dizem os irmãos chilenos: -“Despacito, pero seguro” (devagar, mas com segurança) no desejo de que haja crescimento, gratidão e aceitação dessa estrutura desenhada por Deus para a sua igreja.
Que Deus nos ajude nessas reflexões.
Em Cristo Jesus,
Rev. Samuel S Bezerra
Por que o governo da Igreja é importante?
[…] Quando se trata da igreja, o governo muitas vezes não está no topo da lista de prioridade de ninguém. A igreja deve pregar a Palavra, evangelizar os perdidos, treinar discípulos, ajudar os necessitados – nisso a maioria dos cristãos concordaria. Mas o governo da igreja? Como algo tão impessoal e burocrático poderia ser fundamental para o corpo de Cristo habitado pelo Espírito?
O governo da igreja é importante. Não por causa da tradição (embora não sejamos os primeiros a pensar nessas coisas). Não por causa da conveniência (afinal, as coisas precisam ser feitas na igreja. A conta de energia do prédio não se pagará sozinha). Mas por causa da Bíblia. Acreditamos que o governo da igreja é importante porque a Bíblia diz que é importante.
Queremos mostrar que a Bíblia se importa com o governo da igreja. Queremos mostrar que não se pode falar sobre a igreja e a vida cristã sem trazer o governo da igreja para a conversa. O governo da igreja é um bom presente do nosso bondoso Deus para o Seu povo. Ele nos dá exatamente o que precisamos. E precisamos do governo da igreja. Vamos ver cinco razões pelas quais precisamos do governo que Deus dá à Sua igreja na Bíblia. 1. É nossa expectativa que a igreja tenha algum tipo de governo; 2. É por causa de nossa necessidade como cristãos que Deus nos deu governo para a igreja; 3. O caráter de nosso Deus nos ajuda a ver por que temos governo da igreja; 4. A obra de nosso Salvador, Jesus Cristo, nos aponta para a necessidade de governo entre Seu povo; 5. E, finalmente, a identidade e as necessidades de nosso povo, a igreja, nos ajudam a ver por que Deus nos deu um governo nas Escrituras. Então, vamos analisar essas cinco razões, uma por uma.
1 A Editora Cultura Cristã, em 2018 publicou em português outro trabalho de Prentiss Waters, intitulado “Como Jesus governa a Igreja”, anterior a este que compartilharemos nas nossas pastorais, mas de igual modo, notável e elucidativo. Incentivo sua leitura e apreciação.
Nossa Expectativa
Primeiro, é nossa expectativa que a igreja tenha alguma forma de governo. Por quê? Porque o governo é parte da estrutura da vida dos seres humanos. Nossa primeira introdução ao governo é na família. Escritores antigos costumavam falar de “governo familiar”. Essa frase antiquada simplesmente descreve a maneira como a Bíblia atribui papéis aos maridos, esposas e filhos para garantir que a família seja funcional e segura. Imagine uma casa onde não há regras. Parece bom, não é? Até você pensar como seria a vida. Coloque-se no lugar de uma criança. Ela deve se virar sozinha para encontrar comida na despensa para todas as suas refeições. Nenhum adulto define uma hora de dormir para ela. Ela simplesmente adormece quando quer. Ela entra e sai como deseja. Nenhum pai se certifica de que ela vá para a escola. Ninguém dedica tempo para ensiná-la o certo do errado. Agora não parece tão bom, não é? O lar deveria ser um lugar onde experimentamos o cuidado amoroso, a instrução e a disciplina de uma mãe e um pai. Deveria ser um lugar onde aprendemos que a autoridade amorosa nos ajuda a crescer e amadurecer, onde temos a estrutura, o apoio e o estímulo para usar nossos dons para o bem dos outros e para a glória de Deus. Quando isso está em vigor, é fácil não perceber. Quando está ausente, é dolorosamente óbvio.
Ou pense no estado. Você gostaria de viver em uma sociedade em estado de completa anarquia? Os seres humanos precisam de governo para coordenar os recursos humanos e materiais de um povo, para restringir e punir o mal dentro das fronteiras de uma nação e para protegê-la das ameaças que vêm de fora de suas fronteiras. O que tudo isso tem a ver com o governo da igreja? Se famílias, nações… têm governo, por que a igreja não teria alguma forma de governo? Se a igreja é uma sociedade reunida para um propósito definido (assim como famílias, nações…não esperaríamos que Deus estabelecesse algum tipo de governo? Se outras sociedades humanas precisam de governo para direcionar recursos e deter o mal, a igreja seria uma exceção
Note que ainda não fizemos apelo direto à Bíblia. Estamos simplesmente argumentando que, quando pensamos na igreja, presumimos que ela terá alguma forma ordenada de governo. Isso ocorre porque, em outras esferas do mundo que Deus fez, encontramos governo em todos os lugares. O governo é parte do que significa viver juntos como portadores de imagem no mundo de Deus.
Continua…
POR REV. SAMUEL SANTOS BEZERRA
Temos ultimamente refletido sobre os propósitos e objetivos que nos impulsionam como igreja. Hoje, compartilhamos sobre os nossos objetivos como igreja local, os quais são guiados pelo amor, serviço e compromisso com o Reino de Deus.
Nossa igreja é mais do que um simples lugar de reunião; somos uma família espiritual unida pelo propósito comum de glorificar a Deus em todas as áreas de nossas vidas e impactar o mundo com a glória do Senhor Jesus Cristo. Neste sentido, gostaríamos de apresentar de forma clara e concisa os objetivos que orientam nossas ações e decisões, fundamentados nos ensinamentos de Jesus Cristo e na orientação do Espírito Santo.
Nosso desejo é que cada membro beteliano se sinta fortalecido e encorajado a participar ativamente na realização destes objetivos, contribuindo para a edificação do corpo de Cristo e para a transformação de vidas através do poder do Evangelho.
Que estas proposições não sejam apenas uma declaração de intenções, mas um convite para que todos nós nos engajemos de coração e mente na obra do Senhor, confiantes de que Ele é quem nos capacita e nos guia em cada passo do caminho. Que a graça e a paz de Deus estejam conosco enquanto exploramos juntos os desafios e as bênçãos de vivermos como discípulos de Cristo em nosso tempo e contexto. Em Cristo, Rev. Samuel S Bezerra.
Nossos Objetivos
– Formar liderança saudável;
– Envolver o maior número de membros na dinâmica do discipulado e serviço;
– Desenvolver um trabalho efetivo com famílias, envolvendo o pastoreio dos filhos, casais e cuidado com os idosos.
– Fortalecer a Escola Dominical;
– Tornar a musicalidade da igreja uma referência de unidade: Sã Teologia e excelente expressão artística.
– Formar uma Orquestra no prazo de 10 anos.
– Participar da plantação e organização de 20 igrejas Presbiterianas no Brasil e no mundo no período de 10 anos;
– Desenvolver um centro de aconselhamento bíblico para atendimento da comunidade;
– Investir no crescimento e dinamismo das sociedades internas;
– Fortalecer nos membros um estilo de vida evangelizador;
– Utilizar o Instituto Social “Vida em Ação” como expressão do compartilhamento do amor de Jesus Cristo aos moradores do bairro Vila Amália e vizinhança, comunicando com as diversas áreas da experiência humana.
– Crescer numericamente, multiplicando o número de seguidores de Jesus, no período de 10 anos.
POR REV. SAMUEL SANTOS BEZERRA
No núcleo de uma igreja reside um compromisso profundo com sua missão, visão e objetivos fundamentais. À medida que uma igreja celebra um marco tão significativo quanto seu jubileu de ouro, é oportuno refletir não apenas sobre suas realizações passadas, mas também sobre sua contínua dedicação ao serviço espiritual e à comunidade. A Igreja Presbiteriana Betel, ao comemorar seus cinquenta anos de organização, encontra-se imbuída de uma missão revitalizada, uma visão definidora, objetivos claros e um funcionamento que reflete sua crença e esperança. Segue uma organização proposicional de como queremos ser, à Luz do Evangelho e o que esperamos. Que cada discípulo de Jesus Cristo que conosco assiste, recorde-se, uma e outra vez, desse norte para que avancemos como um bloco submisso ao comandante Jesus Cristo. Cada Domingo nesse espaço da pastoral seremos lembrados dessa direção. Que Deus nos ajude. Por Cristo Jesus, amém.
Texto bíblico base: Salmo 67: Ao mestre de canto. Para instrumentos de cordas. Salmo. Cântico. ¹ Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o seu rosto; ² para que se conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação. ³ Louvem-te os povos, ó Deus! Louvem-te os povos todos! ⁴ Alegrem-se e exultem as nações, pois julgas os povos com justiça e guias na terra as nações. ⁵ Louvem-te os povos, ó Deus! Louvem-te os povos todos! ⁶ A terra deu o seu fruto, e Deus, o nosso Deus, nos abençoa. ⁷ Que Deus nos abençoe, e todos os confins da terra o temerão.
Nossa Missão: Levar o reconhecimento da glória do Deus Triúno a todas as pessoas por meio da proclamação do Evangelho e do testemunho de um viver alegre e inteiramente submisso às Sagradas Escrituras.
Nossa Visão:
– Ser igreja reformada que ama, vive e anuncia as doutrinas bíblicas da Graça de Deus;
– Ser igreja comprometida com a fiel pregação da Palavra de Deus;
– Ser igreja conselheira bíblica;
– Ser igreja plantadora de novas Igrejas;
– Ser igreja missionária;
– Ser igreja onde sua viva adoração pública se expande para toda a vida.
– Ser igreja que se oferece como lugar de acolhimento de vida e paz para os estão perto como os que estão longe.
– Ser igreja que propaga e vive o padrão de Deus para a família, e isso com uma piedade reformada que envolve espiritualidade saudável e integral.
– Ser igreja que interpreta seu contexto social como oportunidade de revelar o amor de Deus no alcance do ser humano integralmente.
Continua na próxima, com a graça de Deus.
POR REV. SAMUEL SANTOS BEZERRA
Projeto revisado e aprovado por: Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT-IPB) Responsável pelo projeto: Rev. Raimundo Montenegro Monteiro Neto Cargo Pretendido: Missionário Efetivo; Fones: (31) 3582-4615; 98332-4076 (WhatsApp) Endereço: Rua Irmãos Kennedy, 44; Ap.: 301; Cidade Nova; Belo Horizonte – MG; 31.170-130 E-mail: rev.montenegro@gmail.com Esposa: Veridiana Gel Oliveira Montenegro Filhos: Ester, David, Arthur e Felipe Oliveira Montenegro (com 18, 16, 13 e 11 anos, respectivos)
Projeto aprovado na Reunião da Diretoria da APMT em 11/02/21
Título e Lema Bíblico do Projeto Panamá: Projeto PANAMÁ – para promover a fé dos eleitos de Deus.
[…] para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade (Tt 1.1).
1) Ambientação. Minha esposa Veridiana e eu aceitamos o desafio missionário proposto pela APMT de atuarmos na América Central cooperando com o avanço presbiteriano a partir do trabalho no Panamá.
2) Localização. O país do PANAMÁ está situado na América Central, é vizinho da Costa Rica (oeste) e da Colômbia (leste) e possui cerca de 4,099 milhões de habitantes, sendo a maioria de mestiços de índios e europeus, mas com muitos estrangeiros que trabalham no entorno do Canal do Panamá.
3) Necessidades externas. Apesar da maioria católico-romana, há grande sincretismo religioso no Panamá, incorporando crenças em espíritos e forças espirituais. 88,2% professa o cristianismo (19,5% evangélicos e 68,7% católicos), 4,7% religiões étnicas pré-colombianas (com idiomas nativos sem Bíblia traduzida), 4,7% são ateus ou sem religião, 1,4% de outros grupos religiosos, 0,6% muçulmanos, 0,2% budistas e 0,2% hindus. O Panamá abriga pessoas de várias partes do mundo, com suas respectivas religiões, e tem grande tolerância religiosa. A maioria dos evangélicos é pentecostal ou neo-pentecostal, há uma enorme carência de igrejas reformadas e presbiterianas, faltam igrejas comprometidas com o ensino fiel das Sagradas Escrituras e poucas têm algum discipulado de novos convertidos. A APMT almeja a plantação de uma Igreja Presbiteriana no país que alcance nacionais e estrangeiros, solidificando uma denominação evangélica reformada e missionária que tenha o Panamá como base para expansão da proclamação do evangelho na América Central e Caribe.
4) Cultura. A região metropolitana da multicultural Cidade do Panamá tem cerca de 1,4 milhão habitantes, sendo mais de 90% falantes do espanhol. Estrangeiros falantes de inglês estão mais concentrados na capital; e há ainda no país grupos étnicos minoritários pré-colombianos falantes de idiomas nativos originais.
5) Propósito. Consolidar uma pioneira denominação presbiteriana e reformada no Panamá com vistas a se estabelecer uma base da APMT que coordene o seu trabalho na região da América Central e Caribe.
6) Missão. Testemunhar de Cristo por uma boa aculturação da família, integrando vida cristã e ministério pelo desenvolvimento de uma boa comunicação linguística visando uma eficaz divulgação do evangelho de Cristo e à formação de discípulos de Cristo com sólida cosmovisão bíblica e reformada.
7) Objetivo Primário. Neste primeiro triênio: cooperar com o estabelecimento de um trabalho presbiteriano pioneiro no Panamá através de: assistência inicial ao trabalho pioneiro; ministrações eventuais de instrução teológica; e pesquisas e cooperações mediante necessidades, novas possibilidades e oportunidades providenciais.
8) Objetivo Secundário. Neste primeiro triênio buscaremos atingir o referido objetivo primário através da aculturação da família ao Panamá no contexto pioneiro do presbiterianismo local; do serviço ministerial progressivo (devocional, estudos, etc.); até o início de um novo núcleo visando uma futura igreja local.
9) Metodologia. Vivenciar a realidade local (cosmovisão, cultura, idioma e relacionamentos); Contatar, estabelecer e fortalecer distintos laços de relacionamentos interpessoais na região; Definir, ao final deste primeiro triênio, etapas factíveis do próximo ciclo do Projeto Panamá, a serem progressivamente executadas; e em tudo, sob a graça divina, Buscar desenvolver um caráter continuamente servil e aprendiz neste novo campo.
10) Alvos cronológicos. (Não apenas a expectativa do triênio 2022-2024, mas 2021 também).
(2021) 1º semestre: pastoreio auxiliar na IPB (BHZ-MG) e visita de reconhecimento do campo do Panamá; 2º semestre: divulgação do projeto, busca de apoios, documentação necessária, passagens e mudança ao campo;
2022. 1º semestre: aculturação inicial da família no Panamá (realidade, língua, estudos e igreja); 2º semestre: supervisão da aculturação familiar e início da cooperação ministerial assistida no trabalho local;
2023. 1º semestre: crescente envolvimento e colaboração ministeriais usando a língua local (espanhol); 2º semestre: colaboração ministerial progressiva e pesquisa sobre novos grupos e oportunidades ministeriais;
2024. 1º semestre: novos estudos bíblicos domésticos visando identificar melhores potenciais pontos de pregação; 2º semestre: manter 1 potencial grupo caseiro, cooperar na instrução teológica e definir novo ciclo com APMT.
11) Resultados esperados. Ao final deste primeiro ciclo de 3 anos, esperamos alcançar, sob a mercê divina:
1) Um desenvolvimento linguístico suficiente para uma relativa boa comunicação em língua espanhola;
2) Uma aculturação inicial saudável na igreja e região locais a partir da nossa residência na Cidade do Panamá;
3) Uma cooperação na formação de liderança eclesiástica local e em outros contextos transculturais possíveis; e
4) Uma reintegração frutífera de toda a família na vida e no ministério missionário transculturais.
12) Área de abrangência. No Panamá: a partir da residência na capital, a Cidade do Panamá, onde buscaremos consolidar uma base da APMT para toda a região da América Central e Caribe; e Fora do Panamá: onde esperamos verificar oportunidades e necessidades de atuação missionária da APMT na região da América Central e Caribe, assim como oferecer eventualmente algum treinamento teológico sob a supervisão da referida agência onde for possível realizar tal cooperação. Tendo conhecido este, pedimos que coloque diante de Deus em oração a possibilidade de se tornar um associado na realização do Projeto Panamá, pelo que nos colocamos à disposição para eventuais contatos.
Você, que crê em Deus, já ouviu a oração do salmista: “Que as palavras da minha boca […] sejam agradáveis a ti, Senhor, minha Rocha e meu Resgatador” (Salmos 19:14). Você sabe que suas palavras sem amor, sem verdade, longe de serem gentis, mas desnecessárias e imprecisas para com os outros afetam o coração de Deus. Ele o ama, não importa o que você fale, mas isso não significa que Deus aprova ou aceita todas as palavras que você dirige aos outros. Sabe que, quando peca contra alguém, também peca contra Deus. Quando confessa algo para alguém, você precisa dizer também: “Pai celeste, perdoe as palavras da minha boca.”
No final, tanto com relação a Deus quanto com relação àqueles que ofendeu, você precisa assumir a autoria por suas palavras falsas, grosseiras, desnecessárias e duvidosas. Conquanto não haja nenhuma garantia de que a parte ofendida aceitará seu pedido de desculpas, a confissão é boa para sua alma, como se costuma dizer. Quando faz o que é certo após ter comunicado o que era errado, você limpa sua consciência e experimenta paz interior. Assim, permita-me fazer-lhe quatro perguntas finais:
1. Você precisa (escrever ou ligar), de modo rápido e humilde, até alguém que tenha ofendido? Se fez com que uma pessoa se sentisse profundamente ferida, frustrada, irada, temerosa, confusa ou ofendida, ignorar isso, de maneira arrogante, não remediará o problema. Antes, ele inflamará e, quando a pessoa tiver oportunidade, colocará em prática as consequências punitivas.
2. Você precisa pedir perdão para alguém? Há sete palavras que eu recomendo a todos que digam: “Eu sinto muito. Você pode me perdoar?” Talvez você precise adicionar: “De que modo eu posso consertar as coisas com você?” Como não quer que as pessoas abriguem ressentimentos contra você, é preciso descobrir se elas estão dispostas a perdoar-lhe.
3. Há alguém com quem você precisa reconciliar-se de coração e voltar a ter uma relação amigável novamente? Esse é o maior objetivo quanto à outra pessoa. Não se trata de passar pela confissão das transgressões para poder sair daqui. Você deve, de acordo com Jesus, reconciliarse. Não significa que vão se tornar melhores amigos. Só com uns poucos consegue-se ter uma amizade profunda, mas é possível chegar a uma relação amigável com uns vários. Você tem de assegurar-se, o melhor que puder, de que este indivíduo não é mais um oponente ofendido determinado a conseguir retaliação.
4. Você estaria disposto a buscar reconciliação com alguém, por nenhuma outra razão além de agradar a Deus? Os seguidores de Cristo precisam observar o ponto mais profundo defendido por Jesus na passagem citada de Mateus 5. Ele revela que a pessoa está diante do altar, diante de Deus, procurando oferecer-lhe seu melhor, quando, então, percebe que seu irmão tem algo contra ela. Para Jesus, esse relacionamento tem de ser restaurado para que ela possa desfrutar do relacionamento com Deus. A fim de ser capaz de estar na presença de Deus com uma consciência limpa, aquele na sua vida a quem você ofendeu toma a dianteira. Algumas vezes, você e eu podemos achar necessário escrever um bilhete de desculpas, como esta mulher fez após falar de maneira inapropriada: Eu sinto muito por repassar minha mensagem para você de modo tão agressivo e desnecessário. Por favor, perdoe-me e peço que ignore isto. Eu estou com muita coisa para fazer agora e falei movida por frustração, porque estou estressada. Por favor, perdoe meu comportamento infantil, sim?
Ela fez contato rápido e foi humilde. Rogou que o outro a perdoasse. Ela disse isso tendo em vista uma reconciliação e uma relação amigável uma vez mais. Eu sei também que agiu assim porque sabia que seu relacionamento com Deus não seria tudo que poderia ser até que ela acertasse as coisas. E fazer a pergunta permitiu-lhe saber se a outra pessoa a perdoara, e permitiu à outra pessoa perdoar-lhe.
Ao balcão de uma loja, você levanta a voz em uma reclamação e critica o caixa com uma observação depreciativa sobre a empresa. Em um piscar de olhos, muda o tom. “Eu preciso me desculpar por esse comentário rude. Eu perdi a linha. De verdade, eu sinto muito. Você não mereceu isso. Você pode me perdoar?” Em um e-mail para um colega de trabalho, você o ataca verbalmente por pisar na bola em um projeto. Depois que envia, sabe que fez mal. Tão rápido quanto suas pernas conseguem levá-lo, você se dirige ao escritório dessa pessoa para dizer: “Ei, eu me sinto horrível com o e-mail que acabei de enviar. Perdi as estribeiras. Quando eu dei mancada, você nunca disse estas coisas para mim, você tem sido muito gentil. Eu fui um tolo. Será que pode me perdoar?” Durante o jantar em casa, você estoura com um adolescente falastrão, mas para no meio da frase, se contém e diz: “Eu estava errado por reagir assim, especialmente por acrescentar coisas sem necessidade. Sinto muito. Você me perdoa? Bem, vamos nos concentrar no que o incomoda.”
É fácil fazer isso? Geralmente não. É o certo e o melhor a ser feito? Sempre. Você sabe que é o certo e o melhor a ser feito porque esperaria que, caso os papéis estivessem invertidos, as pessoas fizessem isso com você. Quando fica ofendido, você não quer que elas o ignorem. Você não gosta de ouvir: “Supere isto!” Ninguém suporta quando o outro lhe diz: “Desculpe”, mas sem um pingo de preocupação com os sentimentos alheios. Por outro lado, seu coração se aquece quando uma pessoa vem até você, rápida e humildemente, expressar tristeza e buscar perdão, e lhe pergunta como pode corrigir as coisas com você.
POR EDWARD WELCH
O texto de Isaías 40.30-31, abordado na pregação de domingo (noite) pelo Rev. Samuel, dirige-nos para o caminho da renovação das forças. Contextualizando-o no cenário dos desafios de confiança enfrentados por Judá e Israel, foram feitas aplicações, à luz do nosso tempo, acerca do caminho para a renovação das forças.
No contexto do profeta Isaías, a exaustão e esgotamento marcaram a experiência do povo na sua recusa de ouvir Deus, evidenciando a busca por soluções nas próprias capacidades e conquistas humanas, resultando em consequências prejudiciais para toda a vida. A disciplina do Senhor anunciada foi concretizada, como consequência da desobediência, culminando na invasão babilônica e no cativeiro.
Os capítulos 40 a 55 descrevem a experiência do cativeiro e enfatizam a presença contínua de Deus como fonte de força e ajuda. E assim, nessa mensagem de consolo o Senhor propõe o caminho para a renovação das forças. A renovação das forças é apresentada como resultado da consideração do trabalho incomparável do Senhor incomparável. Ele é o criador e mantenedor de todas as coisas. E por meio de Sua Palavra, ele opera. Por isso, é vital a confiança na Palavra de Deus para o prosseguimento da jornada com forças renovadas.
O caminho para a renovação das forças consiste também em 2) Confiar no caráter incomparável do Senhor. O Senhor está dizendo: – Confiem em mim. Eu sou quem sou! Suas forças são renovadas quando há crescimento no relacionamento comigo. Esperar é confiar. Para ilustrar o resultado dessa confiança é apresentada uma metáfora do voo da águia que alcança as mais altas alturas. Sabe-se que as águias passam pela muda das penas para manter a força de voo, os crentes passam por transformação quando crescem no conhecimento do caráter de Deus. Aprendendo dependência de Deus tem suas forças renovadas. Jesus Cristo como o Messias prometido, capaz de trazer a renovação espiritual e libertação do peso do pecado. Sua oferta de jugo suave e alívio aos cansados é apresentada como a fonte definitiva de forças renovadas.
A crença nas ações e caráter do Senhor renovariam as forças do povo para enxergar o libertador que viria qualificado pelo próprio Criador do universo e que era a personalização da própria Aliança, o Emanuel, o Messias, Jesus Cristo. Nele residia todas as bênçãos do pacto, inclusive a libertação espiritual ligada a restauração do convívio relacional com YAHWEH, trazendo esperança e consolo ao Seu povo.
Em Colossenses 1 Ele é descrito como “a exata expressão do ser de Deus, como a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação. Pois nele foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste.”
Apesar de toda a sua incomparável glória e grandeza, Jesus se apresenta como manso e humilde. Seu jugo é suave, trazendo alívio aos cansados. Ele que, sendo rico se fez pobre para nos arrebatar de nossa pobreza de alma. Que sendo o Rei do universo, deixou seu trono para ser crucificado em uma cruz para trazer libertação ao condenado, aflito e cansado de coração.
É nEle que temos as forças renovadas. É nele que temos liberdade do pesado fardo do pecado por meio do perdão; e liberdade para agora aprender um novo modo de vida próprio do reino de Deus.
Deus te abençoe.
Em Cristo, Rev. Samuel S Bezerra
É difícil pedir perdão, porque fazê-lo é uma guerra. É uma guerra entre a sua justiça própria e graça imerecida. É uma guerra entre as regras do meu reino e os mandamentos do rei. É uma guerra entre um desejo de ser servido e o chamado à liberdade para amar e servir espontaneamente. É uma guerra entre viver para os meus pequenos momentos de glória e ser consumido pela glória de Deus. Esta guerra é travada a cada dia sobre a relva do meu coração. Mas eu não luto nesta guerra sozinho. O Rei, que tem me recebido em seu reino melhor, é um Rei Guerreiro que vai continuar a lutar em meu nome até que o último inimigo esteja debaixo dos seus pés. Isso significa que há esperança para mim, mesmo que eu perca de vista o grande reino e regrida de volta ao reino do ego. Há uma esperança para mim, embora prefira lutar por quinze segundos de glória para mim, antes de dar a glória que realmente lhe pertence. Há uma esperança para mim, ainda que eu prefira ganhar uma discussão a conciliar um relacionamento. Há esperança para mim, embora prefira fantasiar sobre a vingança a conceder o perdão rápido. Há esperança para mim mesmo que eu seja bom em me concentrar em seu pecado, esquecendo-me do meu. Há esperança para mim, porque não luto pela minha alma sozinho. O Rei luta por mim e toda vez que peço perdão, ele ganha outra batalha em meu nome. Veja você, esta é a batalha das batalhas. Este é o conflito que se esconde debaixo de todos os outros conflitos que vivemos. Esta é a coisa em todos nós que Deus se recusa a acomodar. Seu reino virá. Sua vontade será feita. Ele não ficará de braços cruzados enquanto permite que os filhos do seu reino vivam com maior fidelidade prática à construção de seus próprios reinos. Por isso, ele luta pela liberdade de nossas almas. Ele luta pelo controle de nossos corações. Ele trabalha para libertar os nossos desejos e concentrar nossos pensamentos. E quando faz isso, ele nos chama a confessar humildemente que realmente amamos a nós mesmos mais do que amamos a ele e aos outros. Ele nos convida a admitir como regularmente exigimos os nossos caminhos. Ele acolhe-nos para ser dono até da nossa raiva, ganância, inveja e vingança. Se o seu reino deve vir plena e integralmente, ele deve ser um reino de perdão, onde os cidadãos rebeldes podem ser corrigidos novamente e novamente e de novo.
O perdão e o grande reino
Cada vez que você pede perdão, você está certo. Toda vez que você pede perdão, pisa fora de seu pequeno reino e corre para o dele. Cada vez que você pede perdão, diz que a descrição que a Bíblia faz de você e de todos ao seu redor é precisa. Toda vez que você pede perdão, declara que sua vida não pertence a você, mas foi criada para os propósitos de outro. Toda vez que você pede perdão, diz que o egoísmo é o seu maior pecado e a graça é a sua única esperança. Toda vez que você pede perdão, está se lembrando de quem você realmente precisa. Toda vez que você pede perdão, recusa-se a sentir-se confortável com sua rebelião. Toda vez que você pede perdão, reconhece que o maior problema que enfrentamos na vida existe dentro de você, e não fora de você. Toda vez que você pede perdão, está orando para que o reino de Deus venha e sua vontade seja feita assim na terra como no céu. Toda vez que você pede perdão, torna o reino de Deus visível para os outros. Toda vez que você pede perdão, está adorando o Rei do perdão e incentivando outros a fazerem o mesmo. Toda vez que você pede perdão, sua visão é precisa, sua mente é esclarecida e seu coração está no lugar certo. Toda vez que você pede perdão, clama pela eternidade, quando o perdão terminará o seu trabalho de uma vez por todas. Toda vez que você pede perdão, diz a si mesmo que para todo o bem que tenha experimentado no reino de Deus ainda há mais que você necessita e mais para vir. Um estilo de vida que busca o perdão amplia tudo o que você toca ao tamanho do reino de Deus.
Paul Tripp, Em busca de algo melhor, p. 160
Bem que se poderia olhar para a Igreja de Jesus Cristo como uma grande peça de tapeçaria! A igreja, como essa peça coletiva, na qual cada ponto complexo da individualidade se une para formar uma formosa e una expressão da graça e beleza do eterno Deus se enxerga na linha desse necessário equilíbrio. Pois, é assim que Deus, na sua multiforme sabedoria nos trata. A história do profeta Jeremias nos serve como exemplo desse olhar divino da relação: Eu-nós.
“Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o designei profeta às nações”. Jeremias 1:5
1. A compreensão do eu dependente da compreensão de Deus.
“…Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi..”
Esta palavra do Senhor ao seu servo Jeremias me desafia a repensar minha abordagem acerca de quem eu sou. Deus me conhece intimamente muito antes dos meus questionamentos acerca de mim mesmo. Por isso, minha busca por respostas não se encontra em meu próprio eu, mas em quem me conhece antes de tudo. A vida de Jeremias não começou com ele próprio. Ele entrou em um mundo no qual as partes essenciais de sua existência já eram história antiga. Assim também ocorre comigo. Deus é o centro do qual toda a vida se desenvolve. Se usar meu ego como o centro a partir do qual estabeleço a tapeçaria de minha vida, viverei de forma desvairada. Porém, minha identidade começa no que Deus pensa sobre mim. Tendo isso em mente, não corro mais sem direção, tomado pelo pânico e pela ansiedade, procurando as respostas da vida. Antes, corro para Deus, que me conhece e me revela a verdade sobre a minha vida.
2. A consciência de meu lugar na existência
“… antes de você nascer, eu o separei.”
Ao ser separado antes do nascimento, Jeremias é consagrado para um propósito divino. Ou seja, ele é tirado da inutilidade do vazio de uma vida voltada para si e para o passageiro e é trazido para servir aos planos sábios e gloriosos do Eterno Senhor da vida. Separado do mundo que se opõe a Deus e trazido para a semelhança com Deus, que é santo, para participar do que Ele está realizando. E o que Deus está realizando? Ele está salvando, resgatando, abençoando, provendo, julgando, está reunindo Seu povo ao redor do Trono e do Cordeiro Jesus Cristo. Eu e você (crentes em Cristo Jesus) fomos separados por Deus para Deus. Meu lugar é em Deus.
3. A certeza do meu chamado
“… e o designei profeta às nações”.
Jeremias é designado (entregue para) profeta às nações, antes mesmo de nascer. Esse chamado é reflexo da natureza da misericordiosa e dadivosa de Deus. Primeiro, porque Ele se permite ser conhecido por pecadores. Sua Palavra chega aos seres humanos espalhados por todos os lugares. E nesse bendito movimento Ele usa o Seu povo. Em segundo lugar, porque os chamados devem viver para doar, como reflexo da natureza do Senhor que os chamou. A doação é marca presente na nossa redenção (João 3.16). Eu nasci de novo para entregar o que recebi, a vida de Jesus, o Evangelho. Doar é o ambiente natural no qual nascemos, seguindo o exemplo divino. A vida egocêntrica contrasta com nossa verdadeira natureza doadora. Ao doar, nos libertamos para cuidar dos outros, oferecendo nossas habilidades para o serviço ao próximo e ao reino de Deus.
Somando esses três pontos da minha existência, isto é, a compreensão de mim dependente da compreensão de Deus, a consciência de meu lugar na existência e a certeza do meu chamado, tenho a clareza acerca do papel da minha individualidade dentro do organismo vivo coletivo da igreja. Então, passo a entender a confissão do apóstolo Paulo, representando todo verdadeiro crente em Cristo Jesus, e a me mover por esse santo jeito: “”… Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.” Gl 2.20.
Que o Senhor Deus nos abençoe!
Em Cristo,
Rev. Samuel. Samuel Santos Bezerra
Os últimos versículos do Salmo 126 recorrem a uma figura típica da agricultura da região do Neguebe. Apesar das múltiplas dificuldades relacionadas à aridez do terreno e à dura condição climática, as pessoas moravam e trabalhavam ali. Então, não seria muito difícil imaginar o dia a dia dessas pessoas. Talvez, antes do amanhecer, tomassem suas bolsas cheias de sementes e saíssem para fazer a única coisa que sabiam fazer: cultivar, trabalhar com a terra. E que terra, não? Debaixo de um sol causticante, caminhando em um solo desértico, sem nenhuma previsibilidade de chuva no alto das montanhas, elas semeavam e semeavam. Assim faziam não sem lágrimas, não sem lutas contra o desânimo. De um lado para o outro lançavam a semente, ainda que não as vissem brotar por dias ou meses. Todavia, envolvidos por uma dependência plena daquele que controla tudo, inclusive a natureza, esperavam pelas enxurradas do alto do Neguebe, enquanto saíam em lágrimas semeando! Que linda perseverança! Não sabiam quando viria a providência, mas esperavam, trabalhando! Que lição especial para nós!
O tema de 2024 para a nossa Igreja Presbiteriana Betel é: “Uma Igreja que Colhe no Poder do Espírito Santo”. Realmente, nesse tempo de celebração, desejamos colher muitos bons frutos para a glória do Senhor. E para isso, não podemos parar de semear. A despeito do clima, talvez não seja o mais favorável; a despeito da fadiga, presente na realidade de quem está no campo de semeadura; a despeito do desânimo dos companheiros; a despeito das reações e palavras injustas e acusatórias de quem deveria ladear conosco; a despeito da demora de brotar o que semeou, sugerindo que o trabalho foi em vão, não paremos! Aquele que começou boa obra em nós há de completá-la. Tenhamos esperança renovada apesar da sequidão. Você está cansado demais para esforçar-se? Escute: “Quem sai andando e chorando enquanto semeia voltará com êxtase de alegria, júbilo, trazendo seus feixes.”
Confiemos que no Senhor nosso trabalho não será vão. Ele está trabalhando! A confiança nessa promessa nos permitirá colher com alegria. Seja forte e não duvide de que Deus nos abençoará muito nesse ano. Virá mais graça ainda. Essa graça diz respeito à presença do presente Cristo Jesus em nós. É pela sua obra que perseveramos, e é no poder do Seu Espírito que avançamos. Deus tem nos concedido a bênção de representá-lo nesse mundo. Façamos, portanto, com intenso gozo, mas reconhecidos de sua dependência e com perseverança na missão concedida.
Em Cristo Jesus,
Rev. Samuel S. Bezerra
POR QUE LER?O caminho da imitação de Cristo Jesus é marcado, dentre outras coisas, por desafios, renúncia, esperança plena e satisfação por estar no Caminho e conduzir pessoas ao Caminho. O Senhor nos prometeu transformar de glória em glória, e esse processo já está em andamento. Devemos permanecer firmes nessa realidade, como nos exorta o apóstolo Paulo em Filipenses 4.1: Portanto, meus amados irmãos, de quem tenho muita saudade, vocês que são a minha alegria e coroa, sim, meus amados, permaneçam, deste modo, firmes no Senhor.
Aqui observamos o apóstolo expressando que tipo de relacionamento mantém com a igreja de Filipos, a saber, um relacionamento fundamentado no amor. Por isso, ressalta a importância do viver fraterno e do reconhecimento do progresso espiritual. A permanência na firmeza é revelada na ocupação uns com os outros.
– Permaneçamos firmes nos ocupando uns com os outros:
² Peço a Evódia e peço a Síntique que, no Senhor, tenham o mesmo modo de pensar. ³ E peço também a você, fiel companheiro de jugo, que auxilie essas mulheres, pois juntas se esforçaram comigo no evangelho, juntamente com Clemente e com os demais cooperadores meus, cujos nomes se encontram no Livro da Vida. (Filipenses 4.2-3).
Ao interceder por Evódia e Síntique, duas irmãs envolvidas no serviço da igreja, o apóstolo nos ensina que:
1. A saúde da igreja é muito importante.
Havia algum problema no relacionamento daquelas irmãs que não podia ser ignorado pela igreja de Filipos, nem pelo apóstolo Paulo. Ao ponto de, mesmo distante geograficamente (Paulo estava encarcerado quando escreveu essa carta), ter o cuidado de registrar em sua carta um pedido para a resolução de “um problema” entre duas irmãs muito atuantes e dispostas, mas que no caminho do serviço, esbarraram-se com as pedras da velha natureza e tiveram algum tipo de desentendimento. Não sabemos ao certo do que se tratava, mas, pela intervenção do apóstolo, aquilo não estava fazendo bem à igreja. E não é verdade que relacionamentos truncados costumam impedir o avanço da igreja e dificultar a expressão fluente do amor? Portanto, podem atrapalhar a saúde da igreja.
2. Problemas nos relacionamentos são uma dura realidade depois da queda, mas, não resolvidos, não contribuem para a firmeza da igreja.
É por isso que o apóstolo Paulo dedica um trecho da carta para trabalhar com a resolução dessa dificuldade. Aplicando ao nosso contexto, como você tem enxergado o seu papel no sentido da pacificação? Indiferente? Incendiário? Egoísta (pensando somente em si e não na igreja)? Ocupado em agradar a todos, mas deixou de agradar a Deus e nunca confronta biblicamente o erro?
Como devemos ser instrumentos de paz e resolução nessa área? A resposta passa por:
a) Equalizar nossa vida com a vida de Cristo
Lembremos do que foi ensinado no capítulo 2 dessa mesma epístola, acerca do modelo que deve pautar nosso agir, sentir e pensar, ou seja, Cristo Jesus. Portanto, a solução para as discordâncias e espinhos nos relacionamentos tem a ver com “pensar concordemente no Senhor”. No Corpo de Cristo Jesus, somente podemos trabalhar em equipe de maneira abnegada e sacrificial se estivermos em harmonia com o pensamento de Cristo. É isso que significa pensar a mesma coisa.
b) Entender que o trabalho cristão é desenvolvido em equipe (v.3)
O apóstolo Paulo insere na diligência para a resolução do problema entre Evódia e Síntique outro irmão que não sabemos ao certo quem era, mas, seguramente, era membro fiel e dedicado da igreja em Filipos. Assim, incumbido de intermediar a situação, como uma espécie de construtor de pontes, esse irmão trabalhava para a reconciliação. Os crentes precisam revelar esse caráter e disposição. É a dinâmica de cada cooperador realizando seu papel em favor do reino, versículo 3 (“Porque trabalharam comigo no Evangelho e com Clemente, e com outros meus cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida”).
Na Betel, também devemos encorajar os discípulos de Jesus Cristo a desempenhar seu papel na resolução das dificuldades, reconhecendo que fomos chamados para cooperar, ocupando-nos com o aperfeiçoamento mútuo conforme à imagem de Cristo Jesus.
Que essa exortação do Senhor Deus, por meio do seu servo apóstolo Paulo, nos estimule a viver de maneira firme no Senhor, ocupados uns com os outros e desfrutando da firmeza em Cristo Jesus e assim, avançarmos. Que a paz de Deus guarde nossos corações e mentes em Cristo Jesus. Amém.
Seu amigo e companheiro na pacificação,
Rev. Samuel Santos Bezerra